terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Voltei para contar II!
Antonio Nunes de Souza*
Sei que estou correndo perigo e abusando da sorte, mas, que adiantaria vivenciar (ou será morrecear? Sou obrigado a criar esse neologismo) inusitada experiência, ter chance e não voltar para contar? Sentir-me-ia um traidor universal!
Uma síntese para quem não leu o “Voltei I”, e melhor entenda essa continuação: Morri, aconteceram às cerimônias normais, fui parar no céu ou terra prometida (ainda não sei ao certo), recebido por Pedro, me alojaram numa nuvem kitinete simples, descansei, ouvi uma palestra, jantei e fui dormir. É bom dizer que me destacaram um anjo negro, tamanho família, para ser meu fiel escudeiro e fiscalizador.
Aqui começa meu segundo relato: Acordei pela manhã com a orquestra sinfônica Celestial de Los Anjos tocando harpas e violinos, solando com maestria divina a música “Jesus a alegria dos homens”. Vibrei de alegria, pois vi que estaria livre de ouvir músicas sertanejas, axés, forrós, pagodes e as famigeradas arrochas. Percebi que o gosto aqui é bastante apurado!
Como um relâmpago, meu anjo apareceu, deu bom dia e me entregou um manual, dizendo que ali estavam inseridos todos os meus direitos e deveres e, rigorosamente, deveriam ser cumpridos. Foi-me dado esse primeiro dia de folga, para que lesse e me preparasse para seguir, religiosamente, todos os artigos e parágrafos. Após entregar um “ceulular” marca Aleluia, com crédito em aberto, observou que, se necessário, ligasse para ele que o número já estava registrado. E, na outra mão, entregou-me um cartão Mastercéu Gold.
Nesse mesmo instante, chega um anjo montado em uma “moto-nuvem” para fazer o delivery do café da manhã. Recebi, entrei e abri a embalagem, vendo que estava recheada de hóstias-craker e um copo de suco que deveria ser de arco íris, já que tinha todas as cores possíveis. Comi e me sentei cheio de curiosidade em uma “almofanuvem”, que levitava em minha frente e iniciei a leitura.
Meu primeiro susto foi com o título: “Parabéns! Você ganhou a vida que pediu a Deus!”.
Não nego não! Cheguei a chorar de alegria pela felicidade de ter alcançado essa dádiva depois de morto, imaginando que, provavelmente, dentro de breves dias, estaria retornando para desfrutar meu prêmio, mesmo que fosse em outra matéria, pois, poderia estar havendo uma coligação espiritismo/catolicismo para facilitar as realizações dos projetos. Esse sistema para ajudar a governabilidade parece que é comum até no Paraíso!
Meus queridos irmãos viventes, vocês sabem muito bem como somos nós. Antes de ler a introdução, somente pelo título, vamos traçando planos, elucubrações, fantasias e, principalmente, realizar o que não foi possível fazer pela falta do vil metal. Como bom ex-terráquio, abri o compêndio e comecei ler avidamente.
Infelizmente, agora tenho que voltar, pois, se Pedro acordar do seu cochilo e me pegar, não poderei contar como, realmente, são as coisas por aqui. Aguarde-me que voltarei breve com novas informações, já que conheci um anjo do DEM que, por uns “agrados”, facilita as coisas (até aqui tem esse tipo que faz as coisas e o Homem não vê nada e não sabe de nada). Será que Ele, na nossa criação, em vez de barro, se enganou e usou lama? Sem heresias, tenho minhas dúvidas em alguns momentos.
Um abraço e aguardem!
*Escritor (Vida Louca - ansouza_ba@hotmail.com)

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