Fatos da vida!

Fatos da vida!
Antonio Nunes de Souza*

Acordei, abri os olhos e vi que ainda era noite. Tentei dormir mais um pouco, mas não consegui, pois sentia que já havia dormido suficiente e a vontade era mesmo de me levantar. Então, assim fiz!
Com gestos lentos e preguiçosos fui até o interruptor e liguei. Mas, para minha surpresa a luz não acendeu. Imaginei que havia queimado. Fui até o corredor e liguei a outra lâmpada. Mas, também não acendeu. Aí pensei: será que está faltado energia? Que chato!
Para não ficar no escuro e como queria saber as horas, andei até a cozinha, peguei um fósforo e uma vela para acender e ter condições de melhor me locomover. Risquei o palito e, horrivelmente, senti calafrios nas costas, pois embora sentindo que o fósforo estava aceso, não conseguia ver a claridade normal feita pela sua chama. Percebi naquele momento, que o problema estava em minha visão.
Meu Deus será que estou cega? Esfreguei os olhos, fui até o banheiro, lavei o rosto, mas, lamentavelmente, continuei sem nada enxergar em minha volta.
Pelo meu conhecimento dos caminhos da casa, voltei até o quarto, sentei na cama e, com lágrimas nos olhos, comecei a me questionar: Será que Deus se esqueceu de mim? Por que está acontecendo isso comigo? Como posso acreditar e ter fé se estou sendo castigada de uma forma tão brutal?
Ao mesmo tempo em que soluçava e sentia uma grande dor no peito, fazia uma reflexão com relação às perguntas que acabara de me fazer, procurando as respostas que, para mim, não existiam.
Porém, me acalmando um pouco, comecei a encontrar as respostas com tanta clareza, que parecia que alguém estava ao meu lado tirando todas as dúvidas do meu questionamento.
Minha primeira pergunta foi: Será que Deus se esqueceu de mim?
Claro que não! Deus jamais se esquece de seus filhos sejam eles pecadores ou não. Nós somos a sua carne, seu sangue e sua semelhança. Ele nos deu a dádiva da vida e, para seguir essa trajetória, nos nutre com o que realmente é necessário. Quando nos tira algo, não quer dizer que seja uma punição ou castigo, apenas, para Ele, nós somos tão especiais que não precisamos de algumas coisas, que para outros são muito importantes. Podemos viver sem elas, muitas vezes bem mais felizes e úteis que muitos. Com certeza absoluta, Ele está somente nos preparando para uma determinada atividade, que somente com a deficiência, poderemos melhor desempenhar sendo o seu instrumento do bem. Poderíamos dizer que é: Ser deficiente para ser mais eficiente! É paradoxal, mas é uma realidade. Temos tantos exemplos no mundo que, se formos enumerar passaríamos aqui uma semana escrevendo. Vou citar, rapidamente, apenas um: o rapaz que é tri campeão de natação não tem as pernas. E, por incrível que pareça, quando não era deficiente, nem sabia nadar e não gostava de estudar. Hoje, além de ter uma formação universitária, é um orgulho nacional e um professor respeitável. Em algumas ocasiões é preciso que aconteça um momento triste para poder florescer milhares de momentos de alegrias.
A minha segunda pergunta foi: Por que está acontecendo isso comigo?
Na resposta anterior já quase esclarece essa pergunta, mas, complementando, posso dizer que certas coisas só acontecem com pessoas especiais, com privilegiados que são escolhidos por Ele, pois, sabe Ele que pode contar conosco para fazer na terra a continuação do seu trabalho. Considero-me uma iluminada, mesmo sem a visão, pois, meus outros sentidos se revitalizarão de tal forma que, com certeza, me fará sentir em minha frente as imagens que desejar.
Por último eu me perguntei: Como posso acreditar e ter fé se estou sendo castigada de uma forma tão brutal?
Por que não pensar pelo lado positivo das coisas? Quem sabe se Ele apenas está me poupando de ver as misérias, absurdos, guerras, massacres, assaltos e todas as imundices que aparecem nas revistas, jornais e televisões? Por que não pensar que, com esse fato, você estará mais perto dos seus entes queridos e Dêle também? Será olhada com mais respeito, admiração, reconhecimento e, provavelmente, alcançara a plenitude na sua área profissional e social. E, depois dessas auto-explicações, que por certo vou fazer reflexões mais detalhadas, chegarei à conclusão que jamais devo perder a fé ou deixar de acreditar que existe alguém que nos criou e está sempre cuidando de nós. Nunca serei resignada e conformada. Pensarei sempre que sou designada! Eu tenho uma missão importante para cumprir.
Eu sou uma pessoa especial!
*Escritor (Vida Louca – ansouza_ba@hotmail.com