quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Uma visita a favela!

Uma visita a favela!
Antonio Nunes de Souza*

Eu estava perdido, preocupado e com medo, devido à situação que me encontrava naquele local e momento. Era um tiroteio em várias direções e correr nada adiantaria, pois, de todos os lados as balas surgiam com uma diversidade de calibres, somente visto em exposições de materiais bélicos no conflito árabe. Ninguém distinguia quem era policial ou bandido, uma vez que, muitos deles, usavam fardas e coletes exatamente iguais para confundir a população.
Isso aconteceu numa obra do PAC para beneficiar (?) os moradores da favela, que eu como guia turístico, comandava um grupo para mostrar o trabalho do governo em favor dos menos favorecidos. Eram quinze no total, com nacionalidades diversas (ingleses, franceses, italianos e americanos). Todos gritando socorro em várias línguas e eu mandando que se deitassem no chão para evitar que fossem atingidos, criando assim mais um conflito diplomático com mortes de estrangeiros em nosso país. Mas, alguns teimosos e irresponsáveis, insistiam em tirar fotos e se aproximarem do fogo cerrado, talvez para mostrar aos amigos os momentos de emoções que viveram no passeio sul americano.
O pipocar das balas vindas do alto do morro continuava sem a menor cerimônia, enquanto os policiais respondiam com seus rifles e metralhadoras sem nem olhar quem lá encima estava. De vez enquanto se ouvia gritos de dor e desespero vindo de feridos e seus parentes solidários. As ambulâncias iam chegando com suas sirenes ligadas, aumentando ainda mais o pânico dos moradores. E, meus turistas, agora todos obedientes e deitados, berravam que queriam voltar para o hotel. A mistura de idiomas me fez lembrar a Torre de Babel.
Mas, como sair daquele lugar sem atravessar a linha de fogo?
Seria uma temeridade tentar, mesmo pedindo auxílio aos policiais, pois estes eram exatamente os alvos dos bandidos e, conseqüentemente, terminariam atingindo-os vítimas das conhecidas balas perdidas, que sempre acham os incautos e inocentes para se alojarem.
Essa situação de pânico durou uns quinze minutos, mas pareceu que foram horas, dado o desespero e agonia que todos sentiam, totalmente ao Deus dará, pedindo que a ajuda divina colocasse uma redoma a prova de balas como proteção. E, felizmente, Ele ouviu nossos pedidos!
A calma começou a reinar, os estampidos foram desaparecendo, vários feridos sendo transportados para as ambulâncias, alguns presos sendo algemados e colocados nos camburões e, aproveitando essa rápida trégua, peguei meu pessoal na maior pressa e levei para a Van que estava estacionada um quarteirão a frente.
Já dentro do veículo, recontei o grupo, tudo certinho e, sem pestanejar, mandei o motorista seguir em frente em direção a Copacabana.

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