sábado, 18 de dezembro de 2010

A mulher de Edgar!

A mulher de Edgar
*Antonio Nunes de Souza
Ele estava realmente desesperado. Sua mulher, uma jararaca ultravenenosa, além de encher a sua testa de lindos chifres, usava o cartão de crédito como se fosse algo grátis que ninguém teria que pagar posteriormente. Comprava roupas como se fosse montar uma loja, ia ao salão como se fosse uma estrela de TV e perfumes e cremes eram suas taras. Sem contar os salões de massagens que pareciam sua segunda morada. Era uma verdadeira dondoca, um pouco tirada para perua. Bonita ela era! Mas, com ele, sempre estava com dores de cabeça, enxaquecas, etc. Suas chances sexuais eram tão mínimas, que muitas vezes apelava para a masturbação, satisfazendo suas necessidades, no firme propósito de jamais traí-la. Tinha orgulho de ser fiel.
Até que ele segurava todas suas barras, mas, no dia que descobriu que vinha sendo traído há muito tempo, ficou P da vida. E essa era a razão dele estar desesperado.
-Filha da mãe! Gasto uma grana preta com essa cachorra, troco o carro dela duas vezes por ano, faço todas suas vontades e ela, sacanamente, anda transando com outro.
-Calma, seu Edgar! Essas provas que estou apresentando é o atestado de que minha empresa de investigação é honesta e faz um trabalho digno e perfeito. Porém, faz parte das nossas atividades, controlar e orientar nossos clientes, no sentido de não fazerem bobagens, impulsionados pelos resultados apresentados. Só não conseguimos saber quem é o amante, pois ela sempre entra no motel sozinha. Com certeza o cara já está lá no quarto esperando.
-Calma uma zorra! Vou matar essa vagaba de porrada!
-Nós sugerimos que o senhor pare para pensar e vingue-se de uma forma mais civilizada possível, sem que venha sofrer conseqüências na vara criminal.
-É melhor do que ficar quieto na vara cornal! Não vejo razões para cautelas, mas, já que você está disposto a me dar uma idéia, desembuche para ver se é viável. Por mim eu a cortava toda em pedacinhos com uma gilete bem cega!
Como estamos habituados a tratar de casos similares ao do senhor, podemos sugerir o seguinte: Para que não haja desconfianças imediatas, será de bom alvitre continuar dando boa vida para ela, enquanto vamos colocando nosso plano para funcionar.
-Você me acha com cara de que, para continuar bancando essa pilantra?
-Não é nada disso! Cautela e caldo galinha não faz mal a ninguém. O plano é o seguinte:
Vou continuar seguindo-a e, quando ela entrar no motel, eu lhe telefono e damos o fragrante com fotografias, polícia e tudo mais.
-Bonito isso! E no outro dia sai estampado no jornal: “O corno Edgar pega mulher transando no motel com amante”. E meu retrato com cara de otário e servindo de gozação pra todo mundo.
-Não senhor. Eu vou passar é a porra nela, me livrar do cadáver e dizer que ela fugiu.
-Bem, estamos fora de tudo. Dessa hora em diante nossa firma de investigação abandona o caso e suas atitudes serão por sua conta. Quanto a nós, pode ficar despreocupado que guardaremos sigilo absoluto sobre suas intenções.
Edgar pagou o restante da conta ao detetive, saindo para seu escritório já matutando o que faria e de que maneira.
Ao chegar, com esse assunto corroendo sua mente, resolveu chamar em sua sala o seu assistente para poder desabafar com alguém da sua confiança, pois não poderia guardar essa notícia dentro da mente, que já estava em tempo de explodir.
-Seu Afonso, faça o favor de vir até minha sala!
-Dois minutos depois, entra na sala o Afonso, homem de boa aparência, cumprimentando o seu chefe com um bom dia e um sorriso discreto nos lábios.
Edgar levantou-se, foi até a porta e trancou. Afonso estranhou a atitude, mas nada disse, aguardando o que o seu chefe queria.
Ele sentou-se na sua confortável cadeira e, com o rosto transtornado pelo ódio, encarou Afonso e disse: Descobri toda traição de Ana Paula e agora vou me transformar num assassino!
-Não seu Edgar! Pelo amor de Deus não me mate não! Eu saio com ela porque ela me provoca e me ameaça, se eu não ficar com ela, ela vai fazer o senhor me botar pra fora do emprego!
Edgar levou um grande susto. Justo aquele filho da puta que trabalha com ele há oito anos, nas suas barbas, transando com sua mulher. Sem pestanejar, meteu a mão na gaveta, pegou trinta e oito e deu quatro tiros a queima roupa no peito de Afonso, que caiu duro sem dizer uma palavra e sem saber que Edgar nada sabia ao seu respeito no adultério.
Edgar saiu como um louco pegou o carro e foi se esconder para livrar-se do fragrante. No dia seguinte, passou disfarçadamente por uma banca de revista e comprou um daqueles jornais que primam por oferecer notícias trágicas. E, ao abrir a página policial, estava estampada em letras garrafais: Edgar Carneiro matou o empregado porque estava transando com sua mulher!
-Meu Deus, que vergonha para mim! Jamais terei coragem de enfrentar meus amigos e a sociedade! Falou ele em voz alta para si mesmo.
Ao entrar novamente no carro, viu no tapete aos seus pés, o revolver. Não pensou duas vezes, apanhou e disparou contra sua própria cabeça.
Felizmente, no outro dia, como Edgar já estava morto, não teve a oportunidade de ver a outra manchete do mesmo jornal: Além de traído e assassino, Edgar Carneiro suicidou-se como um covarde!
Na página social, podia-se ler o seguinte tópico: A elegantérrima Ana Paula Carneiro, herdeira das empresas do Grupo Carneiro S/A, sensibilizada e pesarosa, convida os amigos para a missa de sétimo dia do seu saudoso e querido marido Edgar. Igreja Imaculada, dia12/01 as 18:00 hs.
Sorry, Paulinha! Estarei lá.
*Escritor (Vida Louca – ansouza_ba@hotmail.com)

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