Um dia, uma noite!
Antonio Nunes de Souza*
Ela só faltava andar rastejando para ser uma verdadeira cobra! Tinha a beleza colorida de uma serpente, andar sinuoso num corpo cheio de curvas, um grau de convencimento verbal imbatível, que era complementado com um olhar e sorriso derrubadores de qualquer reação contrária aos seus desejos. Um verdadeiro perigo! Talvez, por causa dessa mulher, tenham criado a palavra “periguete”.
E não é que eu fui logo me enrolar com essa desgraçada? Pois é! Numa das minhas saídas noturnas, entrei num barzinho da moda para tomar um Whisky e ouvir uma MPB de qualidade e, como estava lotado, o garçom meu conhecido disse-me que havia apenas uma mesa, já reservada, mas, que as pessoas não haviam chegado. E, se desejasse arriscar, poderia sentar e, se chegassem, cederia. Topei na hora e fui logo para o lugar bastante privilegiado por ser discreto e com boa visão geral, onde poderia ter uma panorâmica de todo ambiente.
O bom cantor, Fernando Caldas, começou a cantar a música “Sozinho”, imaginei que era uma alusão a mim por estar como tal, mas, não passou de uma conhecidencia, já que ele nem tinha me visto chegar. Pedi meu doze anos favorito com bastante gelo e, antes que chegasse, aparece o maitre Mendonça trazendo ao seu lado a tal mulher que já descrevi, dizendo ele ser a pessoa da reserva, pedindo-me desculpas por solicitar que me levantasse, prometendo-me que a primeira livre estaria ao meu dispor.
Devo ter feito uma cara abobalhada de espanto, não por ter que sair, mas, quando olhei para aquele monumento de mulher e ela, com seu sorriso imbatível, falou: meus amigos desistiram de vir e eu estarei sozinha, como você é pessoa conhecida na casa, podemos dividir a mesa sem problema.
Refiz-me do primeiro susto e, imediatamente, tomei outro pela proposta que eu não teria coragem de ter feito e recebi de bandeja.
-Agradeço muito e será um prazer ter sua companhia, pois, pela escolha do local, percebe-se que é uma pessoa de bom gosto. Ela nada disse, mas, largou outro sorriso que pareceu um flash disparando em meus olhos. Não posso e nem quero negar, porém, me pareceu um sonho o que estava acontecendo numa noite que nada havia programado e Deus me enviava essa dádiva.
Suspendi o whisky e, de comum acordo, solicitamos um bom vinho rose (que era sua preferência), brindamos ao nosso encontro e saúde e, continuando as conhecidencias, o bom filósofo/cantor mandou ver “ Você é linda”. E eu não me contendo, falei: Dedico essa música para você, ela exprime, poeticamente, o mais belo que se pode dizer a uma mulher!
-Você é muito gentil e também um homem bonito e simpático. Falou ela, não deixando de quase me cegar com os flashs do seu sorriso. A desgraçada sabia explorar bem o sorriso perolado, que era enriquecido pelo seu olhar super sedutor.
Muitas conversas e queijos e vinhos depois, já estávamos com intimidade, segurando nas mãos e, sentando ao seu lado, não me contive em abraçá-la. A receptividade foi uma delícia! Ganhei um inesperado beijo no rosto e um cochicho no ouvido: -Você é danado, viu? vejo algo especial em você que me fascina, mas, não seu explicar.
Dei um sorriso que parecia um apagão (inverso do dela) e pensei comigo mesmo: o fascínio que sinto por ela eu explicaria facilmente olhando aquele corpo, rosto, olhos, sorriso, elegância e charme. Quanto a mim, imagino que ela tenha a visão da mulher maravilha e tenha descoberto algo que nunca percebi a olho nu. Porém, me deixou em tempo de explodir de vaidade masculina.
Resumindo, no decorrer da noite, nos deleitando com as belas canções, vinhos e carícias mútuas, convidei-a para irmos para meu apartamento para terminarmos a noite que o destino havia proporcionado. E ela, sem titubear, aceitou carinhosamente!
Tivemos uma noite maravilhosa, graças sua desenvoltura e imaginação fértil nas posições mais sedutoras que, se ela escrevesse um livro sobre o assunto, o Kamasutra iria parecer um livrinho infantil.
Depois dessa jornada sexual adorável e inesperada, dormi como uma pedra, acordando somente ao meio dia do domingo. E, quando olhei para o lado da cama, para minha surpresa estava vazia. Imaginei que ela estava no sanitário se arrumando e, como um cavalheiro, fiquei esperando que aparecesse. Mas, já demorando mais de meia hora, resolvi levantar e ver o que estava se passando e, para minha surpresa, não havia ninguém, percebi que minha carteira havia sumido, meus cartões de crédito, celular e algumas pequenas coisas de valor que poderiam ser levadas em uma bolsa!
Notei logo que aquela filha de uma puta havia me feito de trouxa e, toda aquela encenação, era para me roubar. Tomei um banho, me refiz do choque, não quis dar queixa na polícia para não me passar de idiota, deixar uma mulher que tinha no máximo 33 anos me enganar tão tolamente.
Passei o resto do dia em casa, telefonei para cancelar os cartões, tomando conhecimento que já haviam feitos alguns saques e compras (mesmo sem eu ter dado a ela as minhas senhas).
À noite resolvi voltar ao barzinho para ver se alguém me dava uma pista sobre a tal mulher. Sentei-me pedi, um whisky duplo, chamei o maitre Mendonça e perguntei: Aquela mulher que estava comigo ontem, você a conhece?
-Não senhor. Foi a primeira vez que esteve aqui e o senhor é um homem de sorte. Falou o maitre dando um sorriso matreiro como se eu fosse um retado!
Fiquei calado e, por mais uma conhecidencia, o cantor/filósofo Fernando Caldas, contratado pela casa, começou a cantar a velha e linda canção dos irmãos Paulo e Sérgio Valle: “Não confie em ninguém com mais de trinta anos!”
Tomei o whisky de uma só talagada e saí puto da vida voltando para casa e, saibam vocês, nunca mais vi essa cachorra!!!
*Escritor (Vida Louca - ansouza_ba@ hotmail.com)
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