quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Vida paradoxal!

Vida paradoxal!
Antonio Nunes de Souza*

Como todas as pessoas, também tenho minhas opiniões a respeito da vida e da morte, mesmo sabendo que sempre estaremos entrando em choque com alguém, pois, ninguém é dono da verdade absoluta. Somente os idiotas não mudam de opinião com o passar do tempo, depois de absorver novas informações e vivenciar fatos que nos provam que a realidade é outra. Ser mutante é sinal de inteligência!
Tempos atrás fiz um poema onde expressei que a vida é curta, começa na penetração do espermatozóide e tem a duração de apenas nove meses, que é o período da gestação e está se criando no ventre um ser vivo, uma nova pessoa, um abençoado que conta com a proteção envolvente de um corpo materno que, com amor, acompanha e zela toda sua trajetória de vida.
Passado esse período, quando colocamos a cabeça no mundo exterior, seguramente, começamos a morrer num processo lento, com durações diversas. Pois, simplesmente, cada dia que passa na vida (?), nós na verdade, estamos morrendo. Lógico que, paradoxalmente, estamos vivendo a nossa morte, uma vez que a passagem dos dias nos aproxima dela gradativamente, até que se apodere totalmente e encerre nosso ciclo.
Se você fizer uma analogia simplista e romântica, achará que minha teoria é louca e simplória, porém, refletindo com a frieza necessária e lógica, verá que tem um sentido não só justo como profundo, pois, acredito piamente que devemos viver essa trajetória da morte com muitas alegrias, satisfações, prazeres e, principalmente, administrando tudo isso com sabedoria, pois a morte não tem período de validade, como a vida que, lamentavelmente, são apenas nove meses. Se formos espertos e cuidadosos poderemos ampliá-la por muito mais tempo, já que a preocupação dela é nos debilitar progressivamente. Somente ainda não conseguimos eterniza-la, mas, os cientistas estão trabalhando para ampliar cada vez mais sua duração. Ver mortes centenárias hoje não é mais uma grande novidade!
Tinha prometido a mim mesmo que não voltaria a esse assunto por ser muito polêmico, pouco entendida e choca completamente com tudo que aprendemos no passado sobre o que é a vida e o que é a morte. Contudo, vendo o filme “O estranho caso de Benjamin Button”, que achei genial a visão fantástica do criador do texto, deu-me vontade de retornar ao assunto, apenas para enfatizar uma realidade clara e objetiva.
Imagine como seria genial se nascêssemos velhos, já com todas as nossas debilidades inerentes a terceira idade, fossemos cuidados carinhosamente para irmos suplantando todas as complicações salutares, nos restabelecendo e rejuvenescendo tranquilamente, começando a desfrutar da vida e nos tornando cada dia mais capazes e fortes, vivendo primeiro essa fase triste e desagradável de doenças, discriminações e rejeições e, a cada dia, desfrutar de momentos novos e maravilhosos, com a certeza que amanhã estaremos mais jovens, bonitos, sadios e amados.
Essa regressão fantástica e, infelizmente, ainda inviável, nos faria bem mais felizes, pois, nossa dita morte chegaria quando estivéssemos num colo com todo aconchego, sem a consciência de nada que ocorreu ou ocorrerá e sem as dores e saudades que hoje sentimos quando estamos velhos e percebemos que chegou a nossa hora de partir.
Pense como seria maravilhoso alguém morrer cheio de saúde, robusto, querido e ter vivido e atravessado em torno de um século?
Tudo isso parece uma loucura que bate de frente com todos os padrões científicos e religiosos, mas, com a ciência todos os dias fazendo novas pesquisas (clones, DNAs, espermatozóides genéricos, inseminações artificiais, etc.), nada é impossível de acontecer nessa Vida Louca!
Minha esperança é que se esse processo for acontecer que seja logo para que eu pegue essa bendita regressão, reviver ou remorrer (não sei como dizer ao certo), curtindo tranquilamente uma nova oportunidade e morrer mamando nos braços de uma mulher!

*Escritor (Vida Louca – ansouza_ba@hotmail.com)

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