domingo, 19 de dezembro de 2010

O Padre de Oxalá!

O padre de Oxalá!
*Antonio Nunes de Souza

Meu Deus! O mundo está perdido ou eu estou perdido no mundo?
Peguei minha Bíblia sagrada, parti para a igreja, cheio de fé cristã para rezar minha tradicional Santa Missa e, de repente, mas que de repente (como diria Vinicius de Moraes), deparo-me com um padre travestido de mãe de Santo, fazendo um deslumbrante desfile de Orixás, digno do Terreiro de Mãe Menininha, requebrando mais do que as garotas do Tchan e fazendo caras e bocas, ainda alegando que tudo aquilo era em nome de Jesus.
Sarava, meu Pai! Aliás, benza Deus! (Olhe eu já influenciado!)
Rapaz, mesmo sem ser do ramo, quase eu recebia uma entidade e saía dando Santo, fumando charuto e bebendo pinga.
A performance era de uma riqueza de afrescalhamento, que deixaria qualquer Drag Queen babando de inveja. Atrás do dito cujo, tinha um corpo de baile devidamente ensaiado, numa coreografia que faria o Papa João XXIII levantar do sepulcro e sentar o cajado na cabeça da boneca sagrada, voando cacos de bicha pra todo lado. Juro por Deus que ouvi claramente, de uma imagem de Cristo crucificado, Ele soltar as mãos dos pregos da cruz, colocar as mãos pra cima e dizer: Pai perdoe essa louca! Ela não sabe o que faz!
Santa Madalena, que sempre foi meio desbocada, cochichou baixinho para os anjos que ornamentam seu altar lateral: Não sou preconceituosa, mas essa bicha passou dos limites! Isso aqui é uma igreja ou uma boate Gay?
O pior de tudo é que as carolas começaram a dançar no ritmo afro, enquanto algumas batiam palmas, outras colocavam as mãos pra cima, balançando de um lado para o outro. Um verdadeiro show de viadagem, que se fosse no tempo do Papa Gregório, um dos baluartes da inquisição, essa boneca iria direto para a fogueira. Só faltou ele, na hora da benção, encher o cálice com sangue de galinha preta e fazer a comunhão numa gamela cheia de pipocas banhadas no azeite de dendê.
Acho até maravilhoso haver uma miscigenação de raças e credos, ou até uma unificação religiosa na Bahia, mas, também não precisa exagerar na carga de frescura, pois creio que até os Orixás, não ficaram muito satisfeitos com os trejeitos com que foram representados. Com certeza Ogum deve ter dito: Perai, mermão. Eu sou espada!
O interessante é o prefeito da cidade que assistia aquela cena feliniana, com a mesma e contumaz naturalidade que Roberto Carlos plagia as músicas dos outros. Sorrindo e aguardando o resultado se será sucesso ou não.
Não nego não! Saí sem saber se sorria da loucura que acabara de ver ou se chorava por presenciar mais uma decadência da igreja católica, que por suas antigas e ridículas tradições, está perdendo fieis para qualquer igrejinha de quinta categoria que é aberta, diariamente, em cada esquina.
São por essas e outras aberrações, que hoje eu dedico a minha fé estritamente a Deus. Pois, acreditar nesses ditos “ministros” pedófilos, depravados, praticantes de sexo (ativo, passivo e reflexivo) é uma incoerência e um desrespeito a minha própria pessoa.

Epa Rei! Sai pra lá padre Pinto!

*Escritor (Vida Louca – ansouza_ba@hotmail.com)

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