Antonio Nunes de Souza*
O
que eu fazia com prazer era ver o seu corpo se retorcendo no salçao, suas
cadeiras redondas rebolando no ritmo gostoso do samba de roda, nas noitadas santamarenses
das comemorações de eventos, ou sábados e domingos que nada se comemorava, a
não ser o desejo latente do povo do recôncavo em sambar sensualmente ao som provocante
do cavaco, pandeiros e atabaques!
Ela,
minha querida Juliana, ao mesmo tempo que colocava as mãos na cintura, fazia
caras e bocas, virando o rosto de um lado para o outro, onde o suor escorria,
como se fosse uma pequena cachoeira de felicidade, que lhe banhava com prazer!
Ver essa cena, era para mim um presente dos Deus, que me embevecia e enchia-me
de excitação e desejo, pela aquela mulata que era uma mistura de sedução e
pecado, porém, santificadamente, me aconchegava com encanto e paixão!
Não
éramos casados. Mas, morávamos juntos há dois anos, desde quando, curiosamente,
nos encontramos exatamente numa roda de samba em Cachoeira. Somente ao nos
olhar, percebemos que fomos feitos um para o outro. E, daí pra frente,
namoramos, amamos e nos juntamos, pois, seria impossível vivermos
separadamente. Essa foi e era a nossa calorosa visão de uma grande felicidade
infinita!
Vivendo
sempre momentos inesquecíveis, nossas vidas eram admiradas e invejadas, até que
um dia, por ironia do destino, numa roda de samba na minha cidade de Santo
Amaro, quando soava o tradicional samba: “Eu levei uma carreira, Essa foi
pequenininha, Um facão de dez arrobas, Fora o cabo e a bainha! Uma cesta de ovo,
Setecentas galinhas, O trem corre, É poir cima da linha...” Inesperadamente,
Juliana que sambava como se estivesse flutuando no ar, ou deslizando na neve,
caiu ao chão, num baque que, imediatamente fez silenciar o conjunto. Todos a
cercaram, eu desesperado a coloquei no colo, e estando na Praça da Purificação,
a carreguei rapidamente para a Santa Casa que fica em frente. Mas, ao chegar,
senti uma forte dor, por perceber no coração, que que minha querida Juliana
acabara de falecer. Coloquei-a na maca, e o Dr. Ranupho Paranhos pegou no seu
pulso, e constatou que a minha dor estava certa, avisando-me que eu acabava de
perder minha amada, sinalizando o fim de de um amor que até hoje sofro pela s
boas lembranças e eterna saudade!
Sem
que soubéssemos, Juliana tinha um problema no coração, que com os esforços constantes
no trabalho e nas nossas deliciosas sambadas, provocou-lhe um fulminante enfarto
do miocárdio!
Hoje,
por minha alegria e meu sofrimento terem ocorridos numa roda de samba, todas as
vezes que vou a Santo Amaro para as festas de Janeiro/fevereiro, ao me
aproximar de uma das barracas que tem sambadeiras, fico a olhar, não contendo
as lágrimas que descem pela minha face, pela saudade eterna da minha adorada
Juliana!
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros fundadores de Academia Grapiúna
de Letra!
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