sábado, 21 de outubro de 2023

TUDO ACONTECEU NUMA RODA DE SAMBA! (Clique no título e leia)

 

Antonio Nunes de Souza*

O que eu fazia com prazer era ver o seu corpo se retorcendo no salçao, suas cadeiras redondas rebolando no ritmo gostoso do samba de roda, nas noitadas santamarenses das comemorações de eventos, ou sábados e domingos que nada se comemorava, a não ser o desejo latente do povo do recôncavo em sambar sensualmente ao som provocante do cavaco, pandeiros e atabaques!

Ela, minha querida Juliana, ao mesmo tempo que colocava as mãos na cintura, fazia caras e bocas, virando o rosto de um lado para o outro, onde o suor escorria, como se fosse uma pequena cachoeira de felicidade, que lhe banhava com prazer! Ver essa cena, era para mim um presente dos Deus, que me embevecia e enchia-me de excitação e desejo, pela aquela mulata que era uma mistura de sedução e pecado, porém, santificadamente, me aconchegava com encanto e paixão!

Não éramos casados. Mas, morávamos juntos há dois anos, desde quando, curiosamente, nos encontramos exatamente numa roda de samba em Cachoeira. Somente ao nos olhar, percebemos que fomos feitos um para o outro. E, daí pra frente, namoramos, amamos e nos juntamos, pois, seria impossível vivermos separadamente. Essa foi e era a nossa calorosa visão de uma grande felicidade infinita!

Vivendo sempre momentos inesquecíveis, nossas vidas eram admiradas e invejadas, até que um dia, por ironia do destino, numa roda de samba na minha cidade de Santo Amaro, quando soava o tradicional samba: “Eu levei uma carreira, Essa foi pequenininha, Um facão de dez arrobas, Fora o cabo e a bainha! Uma cesta de ovo, Setecentas galinhas, O trem corre, É poir cima da linha...” Inesperadamente, Juliana que sambava como se estivesse flutuando no ar, ou deslizando na neve, caiu ao chão, num baque que, imediatamente fez silenciar o conjunto. Todos a cercaram, eu desesperado a coloquei no colo, e estando na Praça da Purificação, a carreguei rapidamente para a Santa Casa que fica em frente. Mas, ao chegar, senti uma forte dor, por perceber no coração, que que minha querida Juliana acabara de falecer. Coloquei-a na maca, e o Dr. Ranupho Paranhos pegou no seu pulso, e constatou que a minha dor estava certa, avisando-me que eu acabava de perder minha amada, sinalizando o fim de de um amor que até hoje sofro pela s boas lembranças e eterna saudade!

Sem que soubéssemos, Juliana tinha um problema no coração, que com os esforços constantes no trabalho e nas nossas deliciosas sambadas, provocou-lhe um fulminante enfarto do miocárdio!

Hoje, por minha alegria e meu sofrimento terem ocorridos numa roda de samba, todas as vezes que vou a Santo Amaro para as festas de Janeiro/fevereiro, ao me aproximar de uma das barracas que tem sambadeiras, fico a olhar, não contendo as lágrimas que descem pela minha face, pela saudade eterna da minha adorada Juliana!

*Escritor, Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros fundadores de Academia Grapiúna de Letra!

 

 

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