Antonio Nunes de Souza*
-Meu filho eu quero entrega-lo a Deus! Essas eram as palavras que D. Maria de Lurdes sempre
repetia para suas amigas e familiares, derramando um olhar de meiguice para
Luizinho!
Devido um problema genético que impedia sua gravidez, Lurdinha
como era chamada, fizera uma promessa que, caso conseguisse ter um filho, este
seria entregue a Deus na profissão sacerdotal. E, como um verdadeiro milagre,
após todos os desenganos da medicina, um belo dia ela começou a ter tonturas e
náuseas, e não deu outra. Fez exame e constatou estar grávida. O pai Godofredo
vibrou de alegria!
Não precisa dizer que foi o maior carnaval no seio familiar e,
mais que depressa, foram logo a igreja comunicar o fato ao sacerdote,
encomendando logo uma missa festiva em agradecimento, pela dádiva que acabara
de ser agraciada!
Luizinho coitado, mesmo sem demonstrar nenhuma vocação para
ministro religioso, obedecia religiosamente às determinações da mãe, indo à missa
diariamente, e já ajudava ao Padre Fenelom nas celebrações, sendo elogiado como
um ótimo e dedicado coroinha. Mas, no fundo do seu coração, aquela ideia
materna ia de encontro aos seus desejos, suscitando uma dúvida atroz em sua cabeça!
Ao completar 14 anos, sua mãe encaminhou uma carta ao bispo solicitando
uma vaga no seminário, para que Luizinho lá concluísse o segundo grau e seguir
sua trajetória, saindo de lá somente após a ordenação!
Como se tratava de uma paroquiana das mais assíduas e
colaboradora em todas ocasiões, contou com a interferência de Pe. Fenelom, que
mandou uma carta logo após, reforçando a solicitação. Até que Luizinho gostava
da devoção dedicada, e tinha uma fé indubitável em Deus e todos os santos. Mas,
pairava em sua cabeça uma forte dúvida com relação ao voto de castidade. Achava
o celibato algo inconcebível, principalmente pelo fato de relacionar-se com
famílias, e como poderia dar conselhos e orientações sobre algo, que somente
tinha conhecimento através da literatura?
Nas suas leituras as escondidas, sempre escolhia revistas e
livros sobre sexo, e sua libido ia lá pras cabeceiras. Muitas vezes terminando
em deliciosas masturbações. Porém, seu desejo maior era experimentar a sensação
de ter uma relação sexual plena, com uma mulher. Bastavam as brincadeiras e
gozações de seus colegas, que sempre lhe sacaneavam, dizendo que jamais ele
iria transar. Isso era uma guerra mental que o atormentava constantemente.
Porém, jamais teve coragem de dizer para sua mãe, que preferia ser um advogado
ou médico! Se sentiria melhor cuidando dos bens ou dos corpos, do que do
espírito e da alma!
Finalmente chegou o dia da partida de Luizinho. Sua mãe havia
preparado seu enxoval conforme a exigência do seminário, comprou uma mala nova
que coubessem todas as suas coisas, aprontando-o como um noivo que chegaria e
ficaria no altar, mas, sem nunca ter a felicidade do sacramento do matrimônio e
nem a consumação do ato sexual, que lhe atormentava pela aguçada curiosidade de
um jovem!
Dona Lurdinha era um choro só. Muito pela felicidade de estar
cumprindo sua promessa, e outro tanto pela saudade que já sentia do seu único e
amado filho homem!
Embora já convivendo desde criança dentro de uma igreja,
Luizinho sentiu-se bastante deslocado, em função das regras e determinações,
que deveria seguir, conforme as normas educacionais estabelecidas pelo bispo diretor
do Seminário!
A primeira noite foi nostálgica e mal dormida. Estando alojado
em um grande salão, onde camas enfileiradas eram dispostas de tal maneira que,
o padre sensor, de qualquer posição poderia ver tudo que estava se passando
naquele ambiente. Para ele que tinha o seu quarto individual, sentiu uma
horrível sensação de invasão da sua privacidade, inclusive porque sempre
detestou trocar de roupas na presença de outra pessoa. Mas, pelo bem da sua
mãe, sempre lembrando quanto ela estava feliz por ele estar lá, reteve sua ira
e resolveu encarar tudo com tranquilidade, e seguir o destino que lhe traçaram!
Os anos foram passando, Luizinho estudioso como sempre, era um
destaque entre todos pela sua eloquência e conhecimentos profundos de toda
história da religião católica, dominando com maestria todos os versículos e
capítulos da Bíblia Sagrada, interpretando-os com uma desenvoltura que, ao falar,
transportava os fiéis para Jericó, Cafarnaum ou Jerusalém! Suas palavras
encantavam os mais descrentes, e fazia chorar de emoção os mais detentores da
fé. O Bispo o olhava com orgulho, vislumbrando o futuro brilhante que o
esperava. Sentindo no fundo um grande orgulho por ter sido seu mestre!
Luizinho, além da literatura ligada à teologia, jamais deixou
de ler centenas de outros livros, clássicos ou não, das publicações mundiais,
procurando sempre se ilustrar ao máximo, colocando-se numa posição de homem
bastante culto. Entretanto, nessas suas leituras, geralmente se deparava com
autores que faziam do sexo, praticamente uma religião e, inevitavelmente, bulia
com seus adormecidos, porém vivos, desejos de experimentar o fruto, que para
ele era proibido.
Chegou o dia maior, que seria o da sua ordenação! Sua família toda presente, Lurdinha e
Godofredo vestidos a caráter, deixava claro em seus semblantes o orgulho da
promessa cumprida, e a felicidade de ser seu filho o primeiro da classe e o
orador oficial da solenidade!
Tudo se desenrolou conforme a tradição. Muitos abraços, choros,
e Luizinho partiu para umas férias em casa, até que fosse definida a paróquia
que lhe seria determinada, para servir em nome de Deus!
Embora sempre visitasse sua cidade nos períodos de folgas ou
férias, esta sua ida teve um significado maior, pois, desta feita, ele era
verdadeiramente um santo padre da Igreja Católica Apostólica Romana. Um orgulho
para a pequena e atrasada cidade do recôncavo baiano!
As beatas amigas de Lurdinha prepararam uma recepção a altura
e festejaram com carinho e amor, à volta do filho pródigo (não como o da
parábola), mas, pródigo em conhecimentos e símbolo da fé cristã!
Como desejava, Pe. Léo (nosso querido Luizinho), foi designado
para uma paróquia distante, pois, para ele seria mais interessante e se
sentiria melhor, enfrentando uma cidade diferente, não tendo que se deparar
diariamente com pessoas por demais conhecidas. Acreditava que, por ser um
estranho, sua credibilidade seria encarada de uma forma mais consistente.
Lembrou-se ele do adágio popular: Santo de casa não faz milagres!
Sua primeira confissão, obviamente após a ordenação, foi algo
que marcou consideravelmente sua vida. Ao entrar no confessionário,
aproximou-se uma linda jovem, meio cabisbaixa, usando véu e com um terço na
mão, ajoelhou-se e o cumprimentou: -Bom dia, Padre Léo!
-Bom dia, filha! Sinta-se à vontade e desabafe o que lhe
preocupa, pois estou aqui em nome de Deus para ajudá-la, e dar sua absolvição,
caso se faça necessário.
-Padre, eu estou com vergonha de falar, Mas preciso desabafar
o que sinto, pois creio que extrapolei em meu comportamento, me deixando seguir
pelo ímpeto e pelo desejo carnal, praticando coisas que, embora tivessem me
dado um imenso prazer, deixou-me cheia de arrependimentos. Mas, não posso
deixar de confessar, que foi a maior noite de prazeres e satisfações que senti
em toda minha vida!
A moça dizia tudo isso, sem ter a coragem de olhar nos olhos
do padre, mas, eventualmente, levantava os olhos e percebia a curiosidade que
estampava no rosto de Luizinho, que, com os olhos brilhando, aguardava com
ansiedade o relato daquela longa noite de loucuras!
-Filha, não tenha vergonha das suas fraquezas, todos nós somos
passivos de errar, e Deus sabe perdoar seus filhos, pedindo apenas que estes
erros não se repitam. Conte detalhadamente o que aconteceu, pois talvez não
seja tão absurdo como você está pensando. Esse pedido de “detalhadamente”,
deixou claro que o fato despertou algum interesse nele, em ouvir de viva voz o
que existe de tão especial numa noite de amor, já que as dissertações através
de livros, sempre são fantasiosas, levadas ao exagero e fogem da fidelidade.
-Perdoe-me padre Léo, mas vou ser o mais transparente
possível, no sentido de colocar para fora tudo como realmente aconteceu.
-Pois não, filha. Sou todo ouvidos! Na entonação da sua voz, percebia-se que no
fundo estava dizendo: Conta logo pelo amor de Deus!
-Eu tenho 19 anos e moro somente com meu pai, pois minha mãe
faleceu o ano passado, acometida de uma doença inesperada. O mês passado veio
morar em nossa casa um primo distante, em função de fazer a faculdade aqui em
nossa cidade e, como somos parentes, meu pai aceitou hospedá-lo conosco, já que
nossa casa é grande e não seria nada demais atender uma solicitação do meu tio que
mora em outro Estado.
-Eu nunca fui dada a namoros, mas, assim que Pedro chegou,
fiquei vislumbrada com a sua figura atlética, seu lindo rosto e a maneira
gentil e brincalhona de ser. Seu sorriso era algo que me deixava embevecida e
cheia de encanto. Quando ele me olhava com seus bonitos olhos esverdeados,
mesmo sem desejar, o desejo aflorava em todo meu corpo, como se estivesse
hipnotizada como uma Naja, quando ouve o toque da flauta do seu amestrador!
-Procurei por todos os meios, desvencilhar-me daquele encanto
maldito ou bendito, não sei, tentando evitar que algo pudesse acontecer. Mas,
ao deparar-me com ele, desculpe padre, minha excitação chegava ao extremo de
provocar secreções vaginais, e meu impulso era de agarrá-lo, beija-lo até não
mais poder. O senhor quer que eu pare? Estou sendo impura na minha confissão?
-Não filha! Continue por favor. Não omita nenhum detalhe, pois sei que
isso lhe fará muito bem (na verdade era ele que morria de curiosidade e queria
saber minuciosamente o acontecido).
-Então, ontem à noite, Pedro ficou conversando comigo até bem
mais tarde, explicando-me um assunto de física e, por baixo da mesa, nossas
pernas começam a se tocarem, inicialmente por casualidade, mas, com o decorrer
do tempo, passamos a nos esfregar cada vez mais, chegando ao ponto dele começar
a alisar minhas coxas, subir até o meu sexo, massageando-o com muito carinho
aquele que já se encontrava molhadinho pela sensação que eu estava sentindo.
Até então, tudo isso estava acontecendo, enquanto nós não tirávamos os olhos
dos livros e falávamos algumas coisas sobre física, mas o certo é que aquela
altura, estávamos mais preocupados com os prazeres físicos do que as equações
da física. Pedro, sorrateiramente, pegou a minha mão e colocou encima do seu
membro que, ao apertá-lo, senti que estava super duro e latejava no compasso do
seu coração!
-Acho bom eu parar padre Léo! Estou morta de vergonha para
continuar contando o que houve depois!
-Não, não, minha filha! Confesse a Deus e desabafe seu
coração, pois dizendo toda verdade, Deus saberá quanto estás arrependida e dará
o seu perdão! O certo é que Luizinho já
estava super excitado com o que estava ouvindo, principalmente pela voz macia e
doce da moça, que sussurrava baixinho as minúcias da sua aventura pecaminosa!
-Aí padre, ele me beijou no rosto várias vezes, depois na minha
boca e, como loucos, começamos uma agarração sem limites e seguimos para o
quarto, tiramos nossas roupas desajeitadamente, pois já estávamos deitados,
começando a nos amar com uma gulodice insaciável. Ele começou beijando meus
seios, descendo sua boca até o umbigo e, sem nenhuma cerimônia começou a sugar
a minha vagina de uma maneira que eu desconhecia totalmente, fazendo com que eu
me contornasse de gozo e prazer, chegando a dar pequenos gritos pela sensação
maravilhosa que sentia!
-Oh! Padre Léo eu vou parar, porque estou morrendo de vergonha,
e o senhor não vai querer ficar ouvindo esse relato pecaminoso. Vou apenas
dizer que aconteceu tudo e pronto.
-Mas menina, como posso fazer uma reflexão a respeito do fato,
se não souber as minúcias? O nome confissão
foi dado a esse ato cristão, exatamente para que você relate, sem cortes, tudo
aquilo que você acha que foi pecado, para que Deus, na sua bondade divina,
possa perdoá-la. Pe. Léo falou de uma forma veemente, pois já estava super
excitado e olhando para a bela moça em sua frente, por mais que quisesse
desviar o pensamento, seu desejo era estar no lugar de Pedro, para desfrutar
daquela aventura e realizar o seu desejo contido desde a puberdade!
-Siga em frente sem cortes nem omissões. Deus castiga os mentirosos.
Falou ele para enfatizar sua veemência.
-Tudo bem padre, não pararei mais e farei uma narração fiel do
meu pecado, porém peço-lhe que me perdoe se no decorrer o senhor observar ou
sentir muito entusiasmo nas palavras ou emoções em meu rosto. Que Deus me
perdoe, mas, somente em estar falando, estou sentindo um arrepio no corpo e o
mesmo desejo de realizar tudo outra vez. Falou Jacira (esse era o seu nome) com
um sorriso amarelo nos lábios, porém com uma carinha safadinha, que fez
Luizinho ter que se controlar para não cometer uma besteira.
-Então, depois de me fazer sentir diversos orgasmos através do
sexo oral, Pedro colocou seu corpo pesado sobre o meu e, sem que precisasse
ajuda das mãos, seu penis acomodou-se de uma só vez dentro de mim, fazendo com
que, naquele momento, passasse a sentir estertores convulsivos como se
estivesse sendo transportada para outro mundo, onde jamais desejaria voltar.
Quanto mais ele, freneticamente, fazia aquele movimento de vai e vem, eu o
agarrava fortemente, desejando que nos transformássemos em siameses e nunca
mais fossemos separados!
Luizinho, esquecendo sua condição de padre, a essa altura já
alisava seu membro endurecido, quase se masturbando, graças ao que estava
ouvindo e, principalmente, por ser exatamente o que sempre desejou fazer e se
reprimia pela sua condição religiosa. E, olhando que a igreja estava vazia e o
sacristão estava viajando, num impensado ato, pediu para que Jacira fosse até a
sacristia, para que ele lhe desse uns conselhos.
-Estou indo pra lá e lhe aguardo atrás do altar mor. Disse ele
querendo fazer uma cara de respeitabilidade, mas, seu semblante, denunciava
completamente suas maldosas ou boas intenções.
-Está bem. Irei em seguida. Disse Jacira sentindo que algo
estava para acontecer, pois os desejos de ambos estavam aflorados nos seus
rostos.
Assim que ela entrou na sacristia, Luizinho trancou a porta e,
sem nada dizer, foi agarrando-a pela cintura, enchendo-a de beijos. Jacra, sem
demonstrar surpresa, pendurou-se em seu pescoço e entregou-se completamente
para acontecer tudo que fosse possível, e que seu prazer carnal pudesse ser
saciado de uma maneira sacro santa. Luizinho já não enxergava mais nada e nem
de longe se lembrava da sua condição de ministro de Deus. Naquele momento só o
interessava realizar o seu sonho, que desde garoto pairava em sua mente!
Deitaram no tapete e juntaram a experiência teórica de
Luizinho e a prática de Jacira, adicionados aos desejos de ambos, fizeram uma
encenação do Kama Sutra, literalmente ao pé da letra, acrescentando ainda
algumas variações em torno do tema!
Duas horas se passaram e eles pararam exauridos, deitados
olhando em sua volta uma série de castiçais, velas queimadas, Turíbio e outros
equipamentos ali guardados, que serviam nos ofícios religiosos.
Como um estalo, Luizinho caiu na realidade, levantou-se de um
pulo, vestiu-se rapidamente, e pediu que ela fizesse o mesmo. Ela tinha um
sorriso enigmático nos lábios, pois não sabia ao certo se estava purificada ou
“putificada”. Mas, uma coisa ela tinha certeza: Foi uma trepada celestial inesquecível!
Depois de ambos estarem totalmente recompostos, Jacira, com a
cara mais cínica do mundo, virou-se para Luizinho e perguntou: Padre, qual é a
minha penitência?
Luizinho, contendo-se para não dar uma gargalhada, disse com
um tom super sério: Reze 10 Pai Nossos e 10 Ave Marias. Mas, amanhã, nesse
mesmo horário, vou esperar você aqui.
-Combinado. Aguarde-me que
não faltarei!
-Benção Padre Léo!
-Deus lhe abençoe minha
filha! Vá com Deus, mas, volte pra nosso ato de piedade cristã. Disse Luizinho
com um sorriso maroto nos lábios.
*Escritor, Historiador, Cronista, Poeta, e um dos Membros
fundadores da Academia Grapiúna de Letras!
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