Antonio Nunes de Souza*
Naquele
cortejo triste, uma família chorava copiosamente, acompanhando o final de uma
curta trajetória de mais um menor que, na loucura e desespero da sua luta pela
sobrevivência, tinha tido um fim trágico e simplório, de mais uma vítima dessa
sociedade cruel e egoísta, que, erroneamente, comporta-se muito alheia as
evidências, imaginando que estão agindo corretamente!
Robertinho
ou Roberto, que era mais conhecido na favela como Betão, filho de pai desconhecido,
como acontece com a maioria das crianças dos pobres e periféricos recantos,
morava com sua mãe e mais dois irmãos menores. Desde sua mais tenra infância,
já sofria no seu barraco de restos de tábuas e papelão, cobertura com dez
telhas de Eternit, apenas dois cômodos, onde todos se arranjavam, se maldizendo
do calor escaldante no verão e frio e goteiras no inverno, pegando suas gripes
e enfrentando as invasões de água e corrimentos de terras das encostas. O
retrato perfeito de uma família de miseráveis pobres, completamente esquecidos
e desprezados, por essa maravilhosa sociedade consumista e egoísta que, pelos
seus interesses financeiros, criou um podre sistema de “levar vantagem em tudo”
e, todas as culpas, são atribuídas aos governos. Esse capitalismo sórdido,
lamentavelmente, enoja aos poucos homens de bem, que se preocupam com a
humanidade!
Esse
jovem, o pobre Betão, olhado como um criminoso canalha, nada mais foi que uma
criação meticulosa do sistema social existente, pois, começou sua infância
limpando vidros de carros nos semáforos para ajudar na alimentação em casa, até
que ouviu de um motorista a frase que nunca esqueceu: “Saia da frente seu
neguinho descarado!” E um dos filhos, no banco de trás, cuspiu em sua cara e
saíram rindo debochando. Desde então, revoltado começou a praticar pequenos
furtos, até que foi convidado a atuar com os traficantes do morro, para fazer
entrega (o popular avião), ganhando uma quantia que melhorou,
consideravelmente, as condições de sua família. Os anos foram passando, as
oportunidades sempre escassas, continuou até transformar-se em um pequeno
traficante e, como acontece, participando de alguns assaltos!
Até
que a casa caiu e ele foi baleado mortalmente, com apenas 17 anos. E, nesse
momento, todos aplaudem esse triste resultado, esquecendo que Betão, foi nada
mais, nada mesmo, uma criação da sociedade, que plantou, regou, podou e fez
florescer mais um bandido nas ruas das cidades!
Estou
sempre massacrando com essas mensagens, não por ser apologista de bandidos,
mas, veementemente, abomino esse descaso social existente, que despreza a
pobreza, não se dando conta que estão, literalmente, proliferando a marginália!
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros fundadores da Academia Grapiúna
de Letras!
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