Antonio Nunes de Souza*
Parei
carro às pressas, pois, estava faltando apenas cinco minutos para que o banco
fechasse para expediente externo. Mas, para me atrasar, apareceu uma moça
cobradora da “zona azul”, me abordou, mas, sem dar atenção, pedi que colocasse
no para-brisa o ticket, que na volta acertaria. Corri e peguei a porta já
fechando, porém, dando-me tempo para entrar. Me dirigi ao balcão, e rapidamente
fui atendido (coisa rara em bancos), a moça disse-me que seria da competência
da gerência geral, e que este havia saído mais cedo, que eu voltasse no dia
seguinte. Meio puto, saí em seguida, voltando para o carro!
Lá
chegando, encontrei a moça encostada nele à minha espera. E logo falei: Não
precisava você ficar aqui de plantão, pois, eu não iria fugir para não pagar!
-Em
absoluto moço! Eu fiquei porque meu turno terminaria as 16 horas, e tenho que
prestar conta amanhã as sete horas, e por essa razão o aguardei. Quis falar com
o senhor isso, mas, não me deu atenção, então tive que lhe aguardar!
Eu
a olhei com mais calma e vi, que mesmo com sua farda de calça azul e camisa
amarela, parecendo uma “patriotária”, suada e assanhada pela labuta do dia, era
uma mulher bonita, morena com as feições delicadas. Dei um sorriso, me
desculpei e, logicamente, paguei com dez reais, dispensando o troco, como se
estivesse pagando minha grosseria. E, sem nenhuma razão, falei que ainda teria
que ir até o bairro de Nazaré, antes de ir para casa. E ela, vendo-me de
palitó, gravata, boa aparência, deve ter imaginado que eu era confiável, e, imediatamente,
falou: Me desculpe a ousadia, que até não nos é permitido, mas, estou muito
cansada, tive um dia difícil com o calor e chuva e, se não for incômodo, o
senhor poderia me dar uma carona, pois, eu moro exatamente em Nazaré?
Dei
uma risadinha, e claro que assenti, uma vez que nada me custaria fazer esse
favor a uma batalhadora!
Entramos,
seguimos, fomos conversando, ela me disse que era professora, mas, que emprego
não estava fácil, já que com essas faculdades a distância e relativamente
baratas e imprestáveis, estavam abarrotando o país de pessoas desqualificadas
e, consequentemente, pelos seus apadriamentos[políticos, se empregam, tirando as vagas de
pessoas bem capacitadas, que estudaram em universidades federais, como era seu
caso. E que estava fazendo esse bico, até ser chamada para um cargo estadual,
que havia sido aprovada num concurso!
Falei
que era advogado, divorciado, que me chamava André. E ela aí me disse que seu
nome era Jessica, e que para ajudar no seu orçamento, estava também fazendo
unhas nos fins de semana. Após uns quinze minutos chegamos, parei no lugar onde
ela pediu, por ser pertíssimo de sua casa, nos despedimos, eu segui indo para tratar
do meu assunto!
Dia
seguinte, como era necessário para um processo que estava resolvendo, voltei ao
banco, e, curiosamente, ao estacionar em outra área um pouco distante, de cara
me bato com Jessica, que me deu um sorriso, pela coincidência quase absurda,
dizendo-me que foi escalada para atender aquela parte posterior à de ontem.
Achei engraçado, e disse: Vou ao banco, mas, não precisa me aguardar não, pois,
vou pagar antecipadamente. E assim fiz!
Quando
retornei, parecendo coisa de Deus (como dizem os religiosos) estava Jessica
encostada no meu carro. Aí falei, mas, dessa vez sorrindo: Você quer me cobrar
duas vezes garota? E ela, com a cara meio triste, disse-me: Acontece que me
senti mal, liguei para a empresa e eles me liberaram. Aí, imaginei que o senhor
poderia na volta ir para Nazaré, e eu pegaria outra vez uma carona!
-Você
dá muita sorte, e algo de bom vai lhe acontecer na vida pelas coincidências.
Realmente eu vou pra lá, já que minha vinda ao banco tem relação exatamente com
meu cliente, que sua empresa é lá!
Perguntei
o que ela estava sentindo, e se não seria melhor ir a um médico, etc., mas, ela
disse-me que tratava-se de fadiga e cansaço, pois, o trabalho faz com que você
se desloque por dezenas de quilômetros por dia, enfrentando sol, calor e chuva,
além de clientes mal-educados!
Seguimos
o mesmo trajeto, parei no mesmo lugar, porém, desta vez eu fiz uma cobrança:
Jessica, já que você está me fazendo de motorista de aplicativo 0800, como
pagamento, gostaria de lhe convidar para um jantar, já adiantando que não
aceito não como resposta?
Ela
deu uma gargalhada e, desculpou-se pelos incômodos das caronas e, sem pensar
duas vezes, disse que sim. Peguei o endereço, seu celular e marquei que a noite
as 20 horas a pegaria, afim de voltarmos cedo, em função do seu mal-estar,
sendo que o dia seguinte seria sua folga!
A
noite, no horário, estava eu na frente de sua casa. Liguei e, com uns dez
minutos, me aparece uma mulher lindamente vestida, maquiada, penteada,
belíssima, que, sinceramente, não a reconheci e nem pensei que fosse a Jessica
que conhecia. Somente acreditei quando ela se dirigiu para meu carro, abriu a
porta, me deu boa noite e, com um perfume delicioso, sentou-se ao meu lado!
Não
posso, de modo algum, deixar de dizer que fiquei fascinado por ela. Saímos e,
como bom cavalheiro e querendo entusiasma-la, fui para o melhor restante de
Salvador, que estava bombando de chique que era! Chegamos e nos acomodamos.
Tinha um pianistas, tocando as músicas mais maravilhosas e selecionadas
nacionais e internacionais. Escolhemos nossas iguarias, bebemos um delicioso
vinho, conversamos e passamos a nos conhecer mais que demais, que, no decorrer
do papo, antes da sobremesa já estávamos nos segurando as mãos, e na hora do
licor digestivo, já estávamos aos beijinhos. Ela tinha um sorriso lindo e,
curiosamente, excitante, pois, esse era o sentimento que me despertava. Com
esse papo romanceado, quando demos por fé, já era meia noite, praticamente, só
nós dois éramos os clientes retardatários. Rimos, paguei a conta, e nos
dirigimos para o carro!
Pelo
meu desejo e ansiedade, logo antes de começarmos a seguir, peguei-a pela
cintura, dei-lhe o maior beijo na boca, como se estivesse, ou estava mesmo
implorando, disse em seu ouvido: Vamos para meu apartamento terminar a noite?
Ela
nada respondeu com a boca, mas, o seu sorriso foi mais que eloquente,
assinalando um enorme sim. Aí, dali pra frente, a zona azul passou a ser cor de
rosa, já que chegamos, meios excitados pelo vinho, abri mais uma garrafa da
minha adega e, começamos a brindar o nosso casual encontro. Lógico, que a partir
daquela hora, somente uma deliciosa sacanagem justificaria a noite como
queríamos e estávamos cheios de desejos e tesão. Jessica nos seus 28 anos e eu
nos meus 36, estávamos em plena capacidade sexual ativa, que colocamos em
pratica deliciosamente, nas posições mais agradáveis, eróticas e abundantes.
Para não ser cansativo, digo-lhe que tudo que você está imaginando aconteceu, e
até outras que você nem imagina e nem sabe que existe, pois, na cama, sempre
inventamos algo novo para provocar orgasmos múltiplos. E isso fizemos com
maestria e muito prazer!
Não
é que nos conhecemos casualmente, saímos, jantamos, transamos, namoramos, e
hoje somos marido e mulher, e Jessica já me deu dois filhos, sendo um menino com
sete anos, uma menininha de três anos!
Essas
são as coincidências boas que acontecem, nessa vida louca e agitada que
vivenciamos!
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros fundadores da Academia Grapiúna
de Letras!
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