Antonio Nunes de Souza*
Não
é novidade para ninguém, que nessa vida tem coisas esquisitas, estranhas,
diferentes e inusitadas, que nos surpreendem quase sempre quando chegam aos
nossos conhecimentos. Umas até chegam a alcançar um grau tão fora dos padrões
de tudo, que deixam transparecer, coisas de outros mundos ou planetas!
No
caso, eu conheci uma família, que o marido era um funcionário público,
relativamente graduado, a esposa uma professora respeitável pelas suas
qualidades e métodos que utilizava nas excelentes aulas, ambos religiosos, e
com certeza, ótimas pessoas, Eles tiveram três filhos, sendo duas meninas e um menino,
que foram criados com bons hábitos educacionais, além das maiores atenções e
carinhos, normalmente dispensados por pais da qualidades deles!
Curiosamente,
talvez pela grande religiosidade professada pelos pais, suas duas filhas se
formaram em pedagogia, mas, por desejos próprios, resolveram entrar para um
convento de Irmãs Sacramentinas, talvez, por o colégio que estudaram algum
tempo era administrado por freiras, provavelmente isso deve ter pesado
bastante. Mas, o fato é que, mesmo com muitos conselhos de familiares e amigos,
elas não se deixaram vencer, e seguiram o destino que elas mesmo traçaram,
transformando-se em Irmã Iva e Irmã Jacira!
Já
seu irmão Fernando, desde menino nunca gostou de estudar, mesmo com todas
orientações da mestra sua mãe, jamais se enquadrava, nem como um mal aluno, era
sim, péssimo. Com doze anos já fumava e bebia eventualmente, suas companhias preferencias
eram sempre as piores, tinha um amigo que era o terror do bairro, chamado
Mendonça, que além de fumar e beber muito, ainda praticava pequenos furtos,
apanhava coisas em casa para vender, jogava dados e baralho apostado no meio de
adultos de péssimos costumes e, infelizmente, para a família, cada dia Fernando
foi se moldando nessa vida, pois, seu amigo Mendonça era o seu querido e
invejável ídolo!
Eu
a distância, por ser amigo próximo, via esses fatos transcorrerem, os desesperos
da família, as duas freias rezando desbragadamente e cheias de fé, para que
Deus intervisse, e levasse Fernando para o bom caminho, ao mesmo tempo que,
provavelmente, Mendonça devia pedir ao Diabo para que Fernando cada dia ficasse
mais habilitado, para juntos fazerem fortunas sem precisar trabalhar, como normalmente
pensam, pessoas desses comportamentos. Eu ficava sem entender, que pessoas com
o mesmo DNA, mesma educação, família distintíssima e invejável, duas filhas se
dedicaram a evangelização, e o filho, completamente fora dos padrões sociais
determinados. Mas... são coisas que jamais podemos entender, ou mesmo entender,
que nossos destinos, não é ninguém que traça e nem pertence a ninguém. Nós,
exclusivamente, é que fazemos o nosso futuro, através dos nossos desejos, força
de vontade, lutas incessantes, ouvir pessoas experientes, companhias que
acrescentem e, principalmente, lendo e estudando. Jamais será rezando ou orando
que seu destino, sonhos, planos e projetos acontecerão. Abra os olhos e tome
consciência disso, que verá que, às vezes temos que engolir até sapos, para
chegar onde desejamos. O orgulho e falta de humildade, são dois grandes e
brutais empecilho!
A
triste realidade é que Fernando, passou a ser o segundo na pequena gangue de
venda de maconha e cocaína, comandada por seu amigo Mendonça, ele se achava um
rapaz de 24 anos já realizado, por já ter uma moto potente, dinheiro, mulheres,
porém, sempre vivendo sobressaltado. Isso já morando num apartamento na
periferia, deixando sua família altamente debilitada e triste, e as irmãs
ajoelhadas quase 24 horas, fazendo pedidos as santidades para tirar seu irmão
desse desonrada vida!
O
tempo foi passando, com dois anos a facção foi aumentando, Fernando já era um
dos chefões de uma comunidade do morro, já morando com amante, carros, joias,
colares e correntes de ouro pendurados no pescoço, corpo cheio de tatuagens, o protótipo
do bandido, e nem ia mais ver a família, apenas pequenos contatos por celular,
com todas precauções, para que não fosse rastreado pela polícia!
Aí,
como acontece constantemente, um dia a casa caiu, a polícia descobriu sua toca
e, de surpresa, surgiu no morro, houve trocas de tiros, Fernando foi
mortalmente baleado, Mendonça conseguiu escapar e foi se esconder na Bolívia,
com a ajuda dos seus fornecedores de pó, para voltar quando a coisa esfriasse!
Nesse
instante eu estou no cemitério das Quintas da Boa Vista, em frente aos pais de
Fernando que, juntamente com as suas santificadas filhas, choram torrencialmente,
pela grande perda do seu querido e desastrado filho, e como sempre pensam os
pais no íntimo nesses momentos: “Meu Deus, onde será que eu errei?”
Mas,
ninguém erra nesses casos, são as próprias pessoas que tornam-se boas ou ruins,
se assim desejarem. Jamais pensem que nasceram com seus destinos traçados, ou
que algo ou alguém determinou ou vai determinar. Esse alguém é você, o que pode
é você ter a sorte de encontrar alguém que lhe ajude para que aconteça, e você
deve, inteligentemente, pegar com unhas e dentes, para não se arrepender no
futuro e continuar sofrendo no presente!
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros fundadores da Academia Grapiúna
de Letra!
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