sábado, 27 de janeiro de 2024

O AZAR DE UM PODE SER A SORTE DE OUTRO! (Clique no título e leia)

Antonio Nunes de Souza*

Depois de completar vinte e um anos, ter estudado até o segundo grau, somente me dedicando a fazer exercícios para manter um corpo bonito, musculoso e sedutor, fiz um curso de natação, no sentido de fazer um concurso para salva-vidas, já que eu adorava praias, não só pelo mar, como também é um lugar ideal e maravilhoso para azarar as gatas, pois escolhemos sem medo de errar, já todas elas estão praticamente nuas, não nos assustando posteriormente com defeitos físicos e excessos de maquiagem, como acontece com as bem vestidas urbanas!

Aconteceu que, por alguma razão não explicada, o concurso foi protelado, deixando-me na mão, e puto da vida. Mas, por sorte encontrei-me casualmente com Mendonça, um ex colega de escola, e ele me disse que estava indo para Una, participar de uma seleção para ser salva-vidas num grande Hotel, com mais estrelas que a bandeira do Brasil, onde se hospedam as finas flores das finanças mundial. Como não me incomodo em ir para qualquer lugar, e estava preparado exatamente para isso, resolvi seguir com ele, para também competir a uma vaga!

Tomamos um ônibus, chegamos, fomos até o departamento de RH, nos inscrevemos, vimos que tinham vários candidatos, para apenas duas vagas. Com uma hora fomos chamados para uma enorme piscina olímpica, nos deram uma vestimenta adequada, o professor era um cara atlético, que começou a falar seu “bê a bá”, fazendo perguntas diversas, fizemos uma prova escrita, e em seguida, trouxeram uns bonecos de crianças, idosos e adultos, tudo em tamanhos naturais, foram jogados na piscina e, como eles afundavam, ele foi escolhendo e mandando um de cada vez, fazer os salvamentos. Depois dessa chata prova, que para mim tirei de letra, e meu amigo teve algumas falhas. O fato é que eu passei e ele coitado, se fodeu, voltando puto da vida, imagino que retado por ter me chamado, e terminei pegando um lugar que seria seu!

Como a contratação era de urgência, nem deixaram que eu fosse em Salvador apanhar os restantes de minhas coisas, ficando para que eu fosse na minha folga semanal. Acomodado num apartamento, ficou combinado para eu me apresentar as seis da manhã ao diretor de esportividades e segurança, afim de começar o meu trabalho, antes que os hóspedes acordassem. Conforme as instruções, eu deveria ficar super atento com o olhar na piscina, e pulasse dentro, assim que percebesse algo estranho com algum dos banhistas. Na manhã e à tarde, foi tudo tranquilo, não aconteceu nada, nem na água para refrescar eu entrei, já que tinha essa liberdade. Mas, à noite, logo após as dezenove horas, vem uma garota de mais ou menos treze anos, e se atira na piscina. Fiquei observando e vi quando ela afundou e demorou de voltar à tona e, quando voltou, percebi claramente que ela estava se afogando. Imediatamente, pulei na água, dei umas braçadas e a peguei pelos cabelos, em seguida pela cintura, vi que estava desmaiada, comecei a nadar para o deck, ao tempo que via na margem, várias pessoas gritando e nervosas. Entreguei a menina para uma senhora, que aos prantos a abraçou, enrolando-a com uma toalha, e solicitando o médico de plantão do hotel, para dar a assistência que se fazia necessária naquele momento!

Depois desse incidente desagradável, já no meu primeiro dia, fiquei até feliz por ter mostrado minha eficiência a diretoria do hotel. Como tinha encerrado meu horário de expediente, tomei um bom banho, e depois fui até o jardim vislumbrar o mar e o luar, que estava belo e romântico entre as folhagens dos coqueiros. Estava fazendo um horário para jantar, quando eu menos esperava, me aparece uma senhora, apresentou-se com o nome de Jacira, mãe da menina que eu havia salvado horas antes. Ela falou que perguntou por mim, o hotel falou onde me encontrar (temos um aplicativo que nos localiza imediatamente em caso de urgência), e ela queria, não só me dar notícias da sua filha, que já estava ótima, como também me agradecer ricamente pelo meu ato. Recusei imediatamente qualquer compensação (determinação da direção), disse que meu ato faz parte do meu trabalho, e que estava feliz por ter executado bem, salvando uma vida. Ela ficou comovida com minha recusa, contou que era viúva de um grande comerciante, com várias lojas de eletrodomésticos com filiais em todo país (pensei logo na Magalu), e que seus dois irmãos estavam na direção, e ela com sua filha única, vieram passar uns dias nesse lugar paradisíaco. Falei que tinha sido o meu primeiro dia de trabalho, ela sorriu, e disse logo que foi Deus que me trouxe até ali (pra mim foi meu amigo, que me levou e perdeu o teste)!

Depois de muito papo jogado fora, ela pediu pelo celular uma garrafa de champanhe para comemorarmos a dádiva do salvamento. Eu falei que sou proibido de beber ou fazer refeições com os hóspedes, e ela, imediatamente, ligou para a direção geral, falando peremptoriamente, que iria tomar uma champanhe com o salva-vidas que salvou a sua filha, e que desejava uma permissão especial, custasse quanto custasse, para que eu ficasse a sua disposição durante sua estadia de quinze dias no Resort. Imagino que permitiram, pois, mais que depressa, me convidou para a borda da tal piscina, onde sentamos numa mesa coberta por um lindo sombreiro. Ela era uma mulher de seus 45 a 50 anos, não maravilhosa, porém muito bonita e com todas feições de mulher de finíssimo trato. Ligou para o quarto, chamou sua filha, que logo veio, me deu um beijo e abraço agradecendo, falou que sabe nadar muito bem, porém, teve um desmaio súbito e inesperado, Chegou a champanhe, ela solicitou o maitre com o cardápio, dizendo que jantaríamos os três, como se fosse a comemoração da sua filhota ter nascido outra vez, graças a mim. No íntimo, me sentia um herói!

Jantamos, Taninha, a garota, foi para o quarto ver televisão, e nós ficamos papeando, já que ela era uma mulher viajada e contava-me várias histórias ocorridas em diversos países do mundo, deixando-me embevecido e fascinado pela sua simpatia, inteligência e desenvoltura, em dissertar as suas andanças!

Depois de jantar e mais de duas horas de papo, resolvemos nos recolher, nos despedimos, indo ambos dormir, cada um em seu apartamento. Me deitei meio grilado com esse fato novo, o desprendimento de Jacira em tratar-me com educação, elegância, e como se eu fosse alguém importante, dando a liberdade de jantarmos juntos, beber, conversar e, curiosamente, ainda contar alguns dos seus pequenos segredos!

Para simplificar, durante todos os dias eu era chamado por ela para ir à praia, almoçar passear, sempre estando eu, ela e Taninha, que, talvez pelo acidente, me tratava como alguém especial. Aí aconteceu o que eu menos esperava: Jacira chamou-me para o jardim, no mesmo banco que nos conhecemos e, com seriedade, convidou-me para ir para São Paulo, trabalhar na matriz das suas lojas. Falei da minha falta de experiência, mas, ela foi irredutível, falando que eu tomaria cursos e instruções com seus diretores de departamentos, e que tinha certeza de meu desenvolvimento!

Como nunca fui de desprezar um desafio, aceitei de pronto, confiando veementemente em Jacira, já que ela demonstrava ser uma pessoa honesta e de bom caráter. O fato é que seguimos dois dias depois, eu me comuniquei com meus pais, que acharam que eu era um louco em abandonar um bom emprego, mas, nada disso adiantou!

Me prepararam muitíssimo, trabalhava e estudava (por exigência de Jacira), com alguns anos terminei me formando em administração de empresas, passei a ocupar uma das diretorias e, com o passar desses anos, Taninha se transformou numa linda moça, acontecendo o inevitável em função de sairmos sempre juntos: passamos a namorar às escondidas!

Porém, como sempre acontece, um dia Jacira nos pegou aos beijos. Ficamos numa tensão incrível, pela merda que poderia acontecer. Ela nos olhou seriamente e, antes que eu abrisse a boca para falar, ela correu para nós dois, nos abraçou e nos encheu de beijos, como se fosse uma maravilhosa aprovação!

Hoje tenho 46 anos, sou diretor geral da empresa, juntamente com Taninha e os irmãos de Jacira, que sempre fica em casa se deleitando com nosso casal de filhos, seus netos favoritos Fernando e Iolanda. Pensei até em convidar meu amigo Mendonça para trabalhar na empresa, como uma compensação dele ter me levado para fazer o teste de salva-vidas, mas, morando em São Paulo, perdi completamente o seu contato!

Essa é minha história, de como uma ameaça de morte, pode proporcionar uma boa vida!

*Escritor, Historiador, Cronista, Poeta e um dos membros fundadores da Academia Grapiúna de Letras!


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