Antonio Nunes de Souza*
Depois
de completar vinte e um anos, ter estudado até o segundo grau, somente me
dedicando a fazer exercícios para manter um corpo bonito, musculoso e sedutor,
fiz um curso de natação, no sentido de fazer um concurso para salva-vidas, já
que eu adorava praias, não só pelo mar, como também é um lugar ideal e
maravilhoso para azarar as gatas, pois escolhemos sem medo de errar, já todas
elas estão praticamente nuas, não nos assustando posteriormente com defeitos físicos
e excessos de maquiagem, como acontece com as bem vestidas urbanas!
Aconteceu
que, por alguma razão não explicada, o concurso foi protelado, deixando-me na
mão, e puto da vida. Mas, por sorte encontrei-me casualmente com Mendonça, um
ex colega de escola, e ele me disse que estava indo para Una, participar de uma
seleção para ser salva-vidas num grande Hotel, com mais estrelas que a bandeira
do Brasil, onde se hospedam as finas flores das finanças mundial. Como não me incomodo
em ir para qualquer lugar, e estava preparado exatamente para isso, resolvi
seguir com ele, para também competir a uma vaga!
Tomamos
um ônibus, chegamos, fomos até o departamento de RH, nos inscrevemos, vimos que
tinham vários candidatos, para apenas duas vagas. Com uma hora fomos chamados
para uma enorme piscina olímpica, nos deram uma vestimenta adequada, o professor
era um cara atlético, que começou a falar seu “bê a bá”, fazendo perguntas
diversas, fizemos uma prova escrita, e em seguida, trouxeram uns bonecos de
crianças, idosos e adultos, tudo em tamanhos naturais, foram jogados na piscina
e, como eles afundavam, ele foi escolhendo e mandando um de cada vez, fazer os
salvamentos. Depois dessa chata prova, que para mim tirei de letra, e meu amigo
teve algumas falhas. O fato é que eu passei e ele coitado, se fodeu, voltando
puto da vida, imagino que retado por ter me chamado, e terminei pegando um
lugar que seria seu!
Como
a contratação era de urgência, nem deixaram que eu fosse em Salvador apanhar os
restantes de minhas coisas, ficando para que eu fosse na minha folga semanal.
Acomodado num apartamento, ficou combinado para eu me apresentar as seis da
manhã ao diretor de esportividades e segurança, afim de começar o meu trabalho,
antes que os hóspedes acordassem. Conforme as instruções, eu deveria ficar
super atento com o olhar na piscina, e pulasse dentro, assim que percebesse
algo estranho com algum dos banhistas. Na manhã e à tarde, foi tudo tranquilo,
não aconteceu nada, nem na água para refrescar eu entrei, já que tinha essa
liberdade. Mas, à noite, logo após as dezenove horas, vem uma garota de mais ou
menos treze anos, e se atira na piscina. Fiquei observando e vi quando ela
afundou e demorou de voltar à tona e, quando voltou, percebi claramente que ela
estava se afogando. Imediatamente, pulei na água, dei umas braçadas e a peguei
pelos cabelos, em seguida pela cintura, vi que estava desmaiada, comecei a
nadar para o deck, ao tempo que via na margem, várias pessoas gritando e
nervosas. Entreguei a menina para uma senhora, que aos prantos a abraçou, enrolando-a
com uma toalha, e solicitando o médico de plantão do hotel, para dar a
assistência que se fazia necessária naquele momento!
Depois
desse incidente desagradável, já no meu primeiro dia, fiquei até feliz por ter
mostrado minha eficiência a diretoria do hotel. Como tinha encerrado meu
horário de expediente, tomei um bom banho, e depois fui até o jardim vislumbrar
o mar e o luar, que estava belo e romântico entre as folhagens dos coqueiros.
Estava fazendo um horário para jantar, quando eu menos esperava, me aparece uma
senhora, apresentou-se com o nome de Jacira, mãe da menina que eu havia salvado
horas antes. Ela falou que perguntou por mim, o hotel falou onde me encontrar
(temos um aplicativo que nos localiza imediatamente em caso de urgência), e ela
queria, não só me dar notícias da sua filha, que já estava ótima, como também
me agradecer ricamente pelo meu ato. Recusei imediatamente qualquer compensação
(determinação da direção), disse que meu ato faz parte do meu trabalho, e que
estava feliz por ter executado bem, salvando uma vida. Ela ficou comovida com
minha recusa, contou que era viúva de um grande comerciante, com várias lojas
de eletrodomésticos com filiais em todo país (pensei logo na Magalu), e que
seus dois irmãos estavam na direção, e ela com sua filha única, vieram passar
uns dias nesse lugar paradisíaco. Falei que tinha sido o meu primeiro dia de
trabalho, ela sorriu, e disse logo que foi Deus que me trouxe até ali (pra mim
foi meu amigo, que me levou e perdeu o teste)!
Depois
de muito papo jogado fora, ela pediu pelo celular uma garrafa de champanhe para
comemorarmos a dádiva do salvamento. Eu falei que sou proibido de beber ou
fazer refeições com os hóspedes, e ela, imediatamente, ligou para a direção
geral, falando peremptoriamente, que iria tomar uma champanhe com o salva-vidas
que salvou a sua filha, e que desejava uma permissão especial, custasse quanto
custasse, para que eu ficasse a sua disposição durante sua estadia de quinze
dias no Resort. Imagino que permitiram, pois, mais que depressa, me convidou
para a borda da tal piscina, onde sentamos numa mesa coberta por um lindo
sombreiro. Ela era uma mulher de seus 45 a 50 anos, não maravilhosa, porém
muito bonita e com todas feições de mulher de finíssimo trato. Ligou para o
quarto, chamou sua filha, que logo veio, me deu um beijo e abraço agradecendo,
falou que sabe nadar muito bem, porém, teve um desmaio súbito e inesperado,
Chegou a champanhe, ela solicitou o maitre com o cardápio, dizendo que
jantaríamos os três, como se fosse a comemoração da sua filhota ter nascido
outra vez, graças a mim. No íntimo, me sentia um herói!
Jantamos,
Taninha, a garota, foi para o quarto ver televisão, e nós ficamos papeando, já
que ela era uma mulher viajada e contava-me várias histórias ocorridas em
diversos países do mundo, deixando-me embevecido e fascinado pela sua simpatia,
inteligência e desenvoltura, em dissertar as suas andanças!
Depois
de jantar e mais de duas horas de papo, resolvemos nos recolher, nos despedimos,
indo ambos dormir, cada um em seu apartamento. Me deitei meio grilado com esse
fato novo, o desprendimento de Jacira em tratar-me com educação, elegância, e
como se eu fosse alguém importante, dando a liberdade de jantarmos juntos,
beber, conversar e, curiosamente, ainda contar alguns dos seus pequenos
segredos!
Para
simplificar, durante todos os dias eu era chamado por ela para ir à praia, almoçar
passear, sempre estando eu, ela e Taninha, que, talvez pelo acidente, me
tratava como alguém especial. Aí aconteceu o que eu menos esperava: Jacira
chamou-me para o jardim, no mesmo banco que nos conhecemos e, com seriedade,
convidou-me para ir para São Paulo, trabalhar na matriz das suas lojas. Falei
da minha falta de experiência, mas, ela foi irredutível, falando que eu tomaria
cursos e instruções com seus diretores de departamentos, e que tinha certeza de
meu desenvolvimento!
Como
nunca fui de desprezar um desafio, aceitei de pronto, confiando veementemente
em Jacira, já que ela demonstrava ser uma pessoa honesta e de bom caráter. O
fato é que seguimos dois dias depois, eu me comuniquei com meus pais, que
acharam que eu era um louco em abandonar um bom emprego, mas, nada disso
adiantou!
Me
prepararam muitíssimo, trabalhava e estudava (por exigência de Jacira), com
alguns anos terminei me formando em administração de empresas, passei a ocupar
uma das diretorias e, com o passar desses anos, Taninha se transformou numa
linda moça, acontecendo o inevitável em função de sairmos sempre juntos:
passamos a namorar às escondidas!
Porém,
como sempre acontece, um dia Jacira nos pegou aos beijos. Ficamos numa tensão
incrível, pela merda que poderia acontecer. Ela nos olhou seriamente e, antes
que eu abrisse a boca para falar, ela correu para nós dois, nos abraçou e nos
encheu de beijos, como se fosse uma maravilhosa aprovação!
Hoje
tenho 46 anos, sou diretor geral da empresa, juntamente com Taninha e os irmãos
de Jacira, que sempre fica em casa se deleitando com nosso casal de filhos,
seus netos favoritos Fernando e Iolanda. Pensei até em convidar meu amigo
Mendonça para trabalhar na empresa, como uma compensação dele ter me levado
para fazer o teste de salva-vidas, mas, morando em São Paulo, perdi
completamente o seu contato!
Essa
é minha história, de como uma ameaça de morte, pode proporcionar uma boa vida!
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos membros fundadores da Academia Grapiúna de
Letras!
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