segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

NÃO OUÇA, NÃO VEJA , NÃO FALE! (Clique no título e leia)

 

Antonio Nunes de Souza*

As maiores fatalidades de nossas vidas, sempre surgem inesperadamente, nos colocando em situações desagradáveis, complexas e perigosas. E comigo não foi diferente, pois, ocorreu numa tarde de um dia que eu estava felicíssimo, por estar sem nenhum tipo de problema!

 Meu nome é Mendonça, já que todos me cumprimentam pelo sobrenome, e sou taxista há vários anos e, como não tenho praça fixa, fico normalmente, circulando pela cidade!

E foi numa dessas voltas, que passando pela porta de um Motel, um casal deu a mão, parei, eles entraram e segui para onde indicaram. Olhei pelo retrovisor e vi a discrepância entre eles. Ela via-se ser alguém de classe e de seus 40 anos, quanto a ele devia ter bem menos e, pelas suas roupas e cara, percebia-se que era pobre. Chegando em determinado lugar, o homem beijou demoradamente a mulher, e saltou despedindo-se. Ela deu um outro endereço, que prontamente obedeci, sendo ele em um conhecido bairro de classe alta. Ao entrar no chique condomínio, ela pagou a corrida e saltou, entrando em sua belíssima casa. Alegre por ter ganho uma corrida longa, num horário que sempre é “devagar”, segui minha rotina!

Voltei dando minhas voltas, hora vazio, hora com clientes, mas, sempre que pegamos clientes as compensações são boas, porque, acontece ter algum para pegarmos nos retornos!

Passado um mês mais ou menos, passando pelo edifício de uma grande empresa, um homem de meia idade sinalizou, eu parei, ele entrou logo dando-me o endereço. Como conheço Sampa na palma da mão, não tive dificuldade de com menos de meia hora chegar ao condomínio que, curiosamente, me lembrei de ter levado uma mulher vinda do Motel. Ele apontou a casa e, sinceramente, tomei o maior susto, quando vi na porta esperando-o, a mesma bonita mulher, que eu havia transportado com seu amante. Ele disse-me: Me aguarde que eu apenas vou pegar alguns documentos, e volto em seguida para meu escritório!

Fiquei olhando o casal, a casa que parecia uma mansão, e rememorando a bandida saindo do Motel com o amante, com a cara mais cínica do mundo, que pelo visto, ainda deve dar boa vida aquele malandro. Esse pensamento me deu uma revolta danada, ver aquele condenável comportamento. Alguns minutos depois, volta o homem com uma pasta, a mulher se despede com um beijinho, me revoltando o cinismo da cachorra. Ele entrou e seguimos. Mas, logo adiante, Deus ou o Diabo fez com que eu, idiotamente, desse com a língua nos dentes, e de estalo falei: O senhor me desculpe intrometer em sua vida, mas, vou lhe dizer algo muito importante. Aí narrei toda história nos mínimos detalhes, porém me esqueci do endereço do cara, pois, sempre gravo os endereços finais, até algumas vezes anoto. O homem tomou um susto e ficou sobressaltado, pediu meu cartão alegando que poderia precisar de mim para outra corrida, pagou-me com o dobro que acusava o taxímetro, e eu segui aliviado por ter feito uma boa ação!

Rapaz, agora veja a merda que deu: A mulher caiu em prantos, alegando que eu estava redondamente enganado, querendo desmoraliza-la, o marido acreditou nela, e entrou com uma queixa de calúnia contra mim. Como tratava-se de pessoas ricas e da sociedade, o juiz me deu dois anos de prisão, que meu advogado conseguiu transformar em cestas básicas e serviços comunitários. Fiquei puto da vida, gastei uma nota, somente porque tive a besteira de querer ser bom e praticar uma boa ação!

Isso serviu de lição para mim, e que sirva também para você, pois, em problemas de marido e mulher, sempre se lasca quem mete a colher!

Hoje, eu posso ver a mulher do meu melhor amigo transando, que jamais falarei nada. Cada um que cuide e fiscalize seus amores!

*Escritor, Historiador, Cronista, Poeta e um dos fundadores da Academia Grapiúna de Letras!

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