Antonio Nunes de Souza*
Estamos convivendo como se fossemos animais irracionais, assustados e com medo uns dos outros, desconfiando até das nossas sombras. Antes nos sentíamos seguros quando estávamos nas ruas, pois, devido o movimento das pessoas, dificilmente algum ladrão ousava nos roubar ou assaltar, com medo de ser preso ou linchado pela população. Existia uma dupla policial apelidada de “Cosme Damião”, sempre rondando a cidade, que era suficiente para nos dar guarida e tranquilidade em nossos passeios matutinos, vespertinos e noturnos pelas madrugadas a dentro!
Podemos
dizer que eram anos realmente dourados, tranquilos e serenos. Até a movimentação
de veículos era mais suave, uma vez que automóvel somente os privilegiados
podiam comprar. Atropelamento era algo raro e, mesmo assim, quando ocorria era
devido uma criança que corria atrás de uma bola, ou algum idoso que atravessava
a rua distraidamente. Semáforos e câmeras nós nem imaginávamos que um dia
pudesse existir, já que a necessidade era completamente inexistente!
No entanto, a
merda do tempo vai passando, espera-se que cada vez as coisas melhorem, e hoje,
com o tal do maravilhoso “progresso” e a tecnologia, as coisas mudaram de tal
forma para pior, que tornou-se um verdadeiro e cruel tormento, enfrentar e
viver nas cidades, pelos grandes e constantes perigos, em todas as
circunstâncias possíveis!
Pode você
achar que sou um exagerado, mas, vou citar alguns poucos exemplos, sem observar
a tragédia da covid-19, máscaras, álcool Gel, etc. por ser uma situação anômala
e atípica, que ainda estamos enfrentando, e o dengue que voltou botando pra
foder, além da grande possibilidade de quando você voltar, encontrar sua casa
com dois metros de água e lama, seus utensílios domésticos boiando, e uma parte
da casa desabada pelo desmoronamento do morro. Citadas todas essas tragédias,
vou ater a um dia da nossa luta:
Você acorda
quase que na madrugada, toma café as pressas e sai para trabalhar, ou estudar.
Se for de carro, vai enfrentar um trânsito miserável, engarrafamentos, ruas
esburacadas, mal sinalizadas e motoristas impacientes, cheios de mau humor
matinal. Se for de moto-táxi, torna-se
uma aventura super radical, e a certeza de chegar vivo é remota, fica-se tenso
e o furico travado que não entra nem sai pensamento. E, se tiver a desdita de
ir de ônibus, ou metrô, primeiro tem que dar sorte de conseguir entrar, depois
ser uma “cagada” de sorte de encontrar um lugar para sentar, senão, vai em pé
no bolo, e sempre aparece um cara horroroso para ir fazendo “terra” em sua
bunda (você não tem como escapar dessa) e, se pegar esse transporte para ir e
voltar, quando chegar em casa, pode olhar no espelho que tem uma mancha roxa na
bunda, pelas pressões recebidas. Isso estou falando no caso feminino. Pois, no
masculino, você em pé, sempre tem alguém suado do trabalho, que com o braço
segurando na travessa do teto do ônibus, coloca o sovaco fedendo, bem em seu nariz!
Ao chegar ao
trabalho, depois de uma aventura digna de Indiana Jones, se arruma novamente no
banheiro, conversa com os colegas, fazendo e ouvindo queixas, preparando-se
para enfrentar um patrão cheio de problemas, estressado e impaciente, em função
dos pepinos da empresa. Se você for bonita e gostosa e já deu para ele, ele lhe
alivia um pouco, mas, se for feia e segura, prepare-se que tudo de errado que
acontece é sempre você que vacilou. Esse comportamento é uma regra que já faz
parte da cultura brasileira!
Depois de
uma manhã de expediente, você vai a um fast food próximo, geralmente a quilo,
pega uma fila e vai se servir de alimentos que você desconhece a procedência,
validade e a higiene utilizada na sua confecção. Sempre estará passível de uma
disenteria no dia seguinte!
Durante a
tarde, se teve a felicidade de não ter tido um arrastão, ou sequestro relâmpago
na sua empresa, prepara-se para retornar para casa a noite, sofrendo as mesmas
consequências da manhã, com os agravantes da possibilidade de ser vítima de
assalto, ser estuprada, ganhar de brinde uma bala perdida, ou ser atropelada
atravessando a faixa com o sinal aberto para você. Ainda tem um pequeno detalhe
que me esqueci de citar, que ocorre no ônibus e metrô: muitas vezes soltam uns
puns daqueles apelidados de “ninja”, pois, chegam silenciosos e matam todo
mundo. E você coitada, não tem como escapar dessa tragédia odorífera.
Você chega
em casa mais morta que viva, toma um banho revitalizador, come algo e depois
senta na sala para ver televisão e, as notícias que são transmitidas são tão
cruéis e absurdas, que por pouco não
escorre sangue no seu tapete, jorrado pelo aparelho de TV. Logo o sono chega,
você fecha as portas e janelas com trancas e cadeados, faz uma oração
agradecendo a Deus por estar viva, e vai dormir para enfrentar tudo novamente
na manhã seguinte!
Como podemos
dizer que essa merda de vida não é foda?
Queiramos ou
não, temos que ser nostálgicos e sentir muitas saudades dos tempos que jamais
voltarão!
O poeta
Cassimiro de Abreu tinha toda razão, quando disse no seu lindo poema: “Ai que
saudade que tenho – Dá aurora da minha vida – Da minha infância querida – Que os
anos não trazem mais!”
*Escritor, Historiador,
Cronista, Poeta e um dos Membros fundadores da Academia Grapiúna de Letras!
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