Antonio Nunes de Souza*
Pouco
ou muito, todos nós já sofremos alguma vez por ter bólido ou dito uma piada
idiota com alguém, ou sobre alguma coisa, que logo foi rechaçado, ficando
escabreado ou em maus lenções. Mas, o que aconteceu com Juvenal, foi realmente,
uma situação inusitada, com um desfecho de um sentido completamente dúbio, que
podemos dizer que foi surreal, ou para os religiosos, um grande milagre divino,
já que Juvenal, teve a oportunidade de me contar!
Disse-me
ele, que, na qualidade de corretor imobiliário, foi ver um imóvel que estava
anunciado para venda, e suas características eram exatamente o que seu cliente
desejava, Telefonou, marcou o horário para ir visitar e conhecer e, dia
seguinte, no horário previsto e marcado, estava ele, bem em frente a uma bonita
jovem mulher, que, abrindo a porto o convidou para entrar, e como era o normal,
passou a andar pelos corredores e salas, mostrando minuciosamente o belíssimo
imóvel, com quatro suítes, piscina, jardim de inverno, duas grandes salas e uma
garagem para três carros. Após ver tudo
em detalhes e anotar mentalmente, ambos sentaram e começaram a conversar sobre
preço, condições, documentação, etc., mas, pela beleza da mulher, Juvenal
começou, nas entrelinhas, meter umas frases meio ousadas, pensando estar
lidando com alguma mulher solteira, que, colocando seu chame, por ser um homem
bonito, conseguiria, além de uma boa comissão, alguns prazeres sexuais. Foi aí
que a coisa pegou, pois, a mulher notando a ousadia e petulância dele,
sutilmente, ligou para seu companheiro, que era nada mais, nada menos que o
chefe da facção daquelas bandas, que logo chegou com três seguranças, a mulher
falou da ousadia do corretor, e o chefão, sem nada falar, já mandou segura-lo e
deu uns quatro murros no estômago, que Juvenal desmaiou com falta de ar,
somente acordando, quando estava chegando na favela, num barracão meio escuro,
e os capangas chamaram um negão que parecia um guarda roupa de casal, e disse:
O chefe mandou para você estuprar esse
sacana, enfiando toda na bunda dele, para que aprenda a respeitar as mulheres
dos outros. Dizendo isso, jogou Juvenal algemado com as mãos nas costas, bem
num canto da parede. O negão olhou para ele e deu um largo sorriso, que ele se
mijou todo, imaginando a tragédia que seria!
Passadas
umas duas horas, voltam os capangas com dois outros prisioneiros, e falaram
para o negão: O chefe mandou que você afogasse esses dois merdas na banheira, e
depois se livre dos corpos numa estrada qualquer. Juvenal ouviu calado e
pensou: Aqui deve ser o lugar das condenações dos bandidos!
Passados
mais alguns minutos, chegam novos capangas com mais três, dando as instruções
para o forte negão: Os dois moremos você leva para a estrada, algema os dois no
carro e é para jogar gasolina e fazer churrasco. E com o louro, basta arrancar
os olhos verdes dele, que é polícia, e largue no meio da rua deserta lá pela
madrugada, para ver se ele acha seu endereço, e nunca mais vir disfarçado
espionar aqui na favela!
Nisso
Juvenal, olhou a sala e viu que estava cheia de gente, com suas sentenças
determinadas pelo “Big Boss”, então, cinicamente, olhou para o carrasco e
disse: Seu Negão, para o senhor não se atrapalhar, eu posso lhe ajudar
lembrando as sentenças de cada um, mas, não se esqueça que a minha é somente comeu
meu cu, que estou as suas ordens!
O
negão deu uma gargalhada pelo que ouviu, e talvez penalizado, ou não valia a
pena a bunda magra de Juvenal, olhou para ele e disse: Olhe seu porra, eu vou
livrar a sua cara, mas, suma daqui, e se o chefe souber que não cumpri sua
ordem e eu for penalizado, vou lhe buscar na casa da porra e lhe encherei de
bala. Juvenal todo feliz, levantou-se, o negão abriu as algemas e ele beijou as
mãos do seu libertador, saindo às pressas para tomar um táxi e ir para casa!
Esse
caso tem vinte anos, e somente hoje, primeiro de abril, foi que Juvenal me
contou, pois, viu ontem que o tal negão foi morto pela polícia, numa troca de
tiros, podendo assim se livrar da promessa do segredo!
Portanto,
tenha cuidado com quem você bole, pois, pode bolir com a pessoa errada, e não
dar a sorte de encontrar um negão generoso!
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros Fundadores da Academia Grapiúna
de Letras!
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