terça-feira, 5 de dezembro de 2023

UM CARNAVAL MARCANTE! (Clique no título e leia)

 

Antonio Nunes de Souza*

Aproxima-se o carnaval, e ele está totalmente louco de alegria. Seus pais irão para a Ilha passar quinze dias, ficando a casa livre para curtirmos a maior parada, sem limitações de ações e prazeres mundanos!

-Roberto, prepare a rola brother! Os velhos vão pra ilha e só vai dar a gente aqui em casa. Com esse calor da porra, quero tomar bando de boceta de manhã, de tarde e de noite. Há! Há!

-Verdade, Marcelo?

-Duvida não, bicho! Tá tudo cor de rosa, mais que cu de albino!

-Pô cara, vou juntar meus paninhos de bunda e me mudar pra sua casa, assim que seus velhos partirem!

-Então arruma logo, pois eles vão hoje a tarde.  Inclusive eu vou leva-los lá e volto com o carro que vai ficar comigo, tanque cheio e as porras todas!

-Valeu brother! Ao cair da noite eu bato aí de mala e cuia!

Marcelo desligou o telefone, foi para mesa almoçar com os pais, e em seguida dirigiu-se ao ferry, levando os coroas para a casa de veraneio. No caminho seu pai ia fazendo as recomendações, principalmente com relação ao carro e a casa!

-Fique frio velho! Vai ser tudo beleza! Podem curtir os ares marinhos que nada acontecerá. Depois que entrei na faculdade, meus pensamentos só apontam o futuro. Aquele papo de jacaré que “o futuro a Deus pertence”, não me confunde mais. Eu é que lutando construo minha vida e meu futuro!

-Como fico feliz em ver que você está ajuizado. Falou a mãe, dando-lhe um beijinho no pescoço.

Dezenove horas, Marcelo já estava em casa a espera de Roberto que, minutos depois, tocava a campainha da casa!

-Entra meu rei! Você está chegando no paraíso, só faltam as “meninas Evas” pra gente encher o cu de maçãs! Desse jeitão Marcelo foi recebido pelo amigo!

-Velho, vai ser o maior carnaval da minha vida. Casa, carro, liberdade, grana e muita xoxota! Eu não mereço tanto, Há! Há! Isso aconteceu na quinta-feira, dia que oficialmente inicia o carnaval baiano (digo oficialmente porque carnaval na Bahia na verdade começa em primeiro de janeiro e só acaba em 31 de dezembro). Rei Momo recebe do prefeito a chave da cidade no Campo Grande, o desfile dos trios segue até a Praça da Sé, para na Praça Castro Alves e rompe a madrugada a dentro!

E como previsto, a zorra correrá solta. Nós convidamos umas amigas porraloucas e liberais, Renata e Dulce, que convidou duas primas também chegadas a sacanagens, completando nosso modesto harém, para um carnaval, que será o melhor da nossa vida, em termos de alegrias e muitos prazeres!

Fomos ao mercado, compramos algumas caixinhas de cerveja, dois litros de conhaque pra esquentar o sangue, pacote de cigarros e como não podia faltar, compramos uma boa quantidade de maconha, para dar mais animação ao nosso especial bloco e, com nossos mantimentos básicos prontos, a piscina limpa e clorada, ligamos para que as gatas viessem logo com malas e bagagens!

Reunidos todos, eu, Marcelo, Dulce, Renata, Lícia e Célia. Um time pra ninguém botar defeito, pois, somos sarados, bonitos e alegres, e sabemos curtir a vida como não houvesse amanhã. Foi meio foda acomodar essa putada toda no carro do velho, mas, sentadas nos colos meio apertado, deu tudo legal, e saímos em direção ao Campo Grande, já para a abertura oficial, que é uma zoeira da porra, com a metade da Bahia reunida, todos ávidos pela folia, que começaria a sacodir o povo, com os acordes do Trio de Armandinho, Dodô e Osmar!

Brincamos pra caralho, bebemos muitos capetas e cervejas que levamos num isopor no carro e, já no cu da madrugada, o sol já piscando o olho pra gente, fodidos de cansados, resolvemos voltar para casa, para nossa seção de sodomia com as meninas, que meio bêbadas, com certeza se entregariam de corpo e alma, bem muito mais de corpo, que de alma!

Mesmo cansados, não deixou de acontecer um banho geral de piscina, todos completamente nus, trepadas aquáticas, sacanagens com parceiras variadas, todos curtindo, gozando e se divertindo do jeito que o diabo gosta e que deus permite!

Acordamos na manhã seguinte, as meninas prepararam o café com ovos, bacon, pão, mamão e queijo. Comemos e fomos pra sala conversar sobre a deliciosa noite anterior!

Depois de jogarmos muitos papos fora, resolvemos ir para um desafio de trios em Itapoã, que com certeza estaria bombando de gente numa puta animação!

Pegamos o carro, fizemos as arrumações das bebidas e quem iria sentada no colo, e seguimos pela pegando a orla para o reinado de Dorival Caymmi. As praias cheias, nas ruas vários foliões fantasiados, vendedores de comidas e bebidas, via-se que a cidade estava pipocando nesse carnaval, depois da sacana epidemia, que deixou todo mundo dentro de casa!

Chegamos e já encontramos o couro comendo, a galera muito louca, e nós não perdemos tempo. Depois de um trabalho da porra para arranjar um lugar para estacionar, seguimos para o meio da turma, já que não tinha cordas e a alegria de dançar era livre. O pau comeu até as 19 horas, horário que resolvemos voltar, tomar um banho de piscina para se recuperar e, tranquilamente, comer algo e seguir para o circuito da Barra!

Todos cantando a música do momento, a lata de cerveja girando de mão em mão, e aí, num desses vacilo, Marcelo já meio alto pelas bebidas, derrapou o carro numa curva, atravessou a pista e, tragicamente, batei de frente com um enorme caminhão carregado de cimento, que pelo peso nem se abalou. Mas, o carro ficou completamente destruído, três das moças com mortes imediatas, Marcelo preso nas ferragens e todo quebrado, enquanto Roberto foi projetado para fora e estava todo dilacerado e morto no meio do asfalto. Trânsito parado, chamado de polícia, que chegou rapidamente, chamada dos bombeiros e Samu, e multidão em volta. Um dos policiais chegou-se perto do carro e viu no colo de Marcelo um celular, imediatamente pegou, vasculhou os contatos, e viu um número que dizia: Papai. Então, imediatamente ligou comunicando o acidente, que deixou o Dr. Fernando completamente dese4sperado, saindo imediatamente da Ilha de Itaparica, rumo ao local indicado pelo policial!

Tristemente, esse carnaval foi péssimo, trágico e infeliz. Pois, Marcelo, perdeu as duas pernas, e Dulce que foi a única sobrevivente, teve um traumatismo craniano, que já está em coma por mais de um ano, com apenas poucas possibilidades de voltar a normalidade!

Que sirva de exemplo para essa juventude porralouca, que acha que as coisas só acontecem com os outros, e continuam bebendo, usando drogas e, estupidamente, morrendo e matando dirigindo bêbados!

Isso já aconteceu, está acontecendo e acontecerá muito, pois, lamentavelmente, os pais não mais educam seus filhos. Principalmente os de melhores condições, que fazem todas vontades aos seus filhos, não ensinam que “não é não” para que no futuro eles obedeçam as coisas que não devem fazer. E com esse comportamento errado, eles se imaginam ótimos pais. Um triste e ledo engano, que somente tarde demais eles saberão!

*Escritor, Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros Fundadores da Academia Grapiúna de Letras!

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