Antonio Nunes de Souza*
Sem
que seja uma coincidência, ouvimos sempre e repetidamente em muitas ocasiões, a
seguinte frase: “Essa sorte não acontece comigo!” Essa sentença, geralmente é
dita quando acontece algo inusitado, extravagante e inesperado em qualquer
parte do mundo, onde alguém foi agraciado com uma oportunidade invejável de
melhora de vida, saindo da pobreza e partindo para a riqueza, sem os desconhecidos
anos de vida trabalhando duramente. Geralmente atribui-se logo que trata-se de
um atalho de grande sucesso, que foi programado pelas mãos divinas!
Porém,
essa tolice repetida constantemente, não é uma sentença que exprima a realidade
da vida. Comprovadamente, todos nós temos o dia de sorte e oportunidade, para
dar uma guinada de 360 graus, e por desconhecimentos, falta de qualificação,
desconfiança e arroubos pertinentes na fase jovem, fazem com que uma cegueira
temporária tome conta do indivíduo, deixando, lamentavelmente, passar talvez a
sua “grande chance”, levando em conta que trata-se de propostas que consideram
ridículas e absurdas. E, quando passa o velho tempo, vão perceber a merda que fizeram,
desprezando sua chance real e maravilhosa, porque acreditou que sua atitude de
recusar na ocasião, era a correta. Quando o tempo passa, vem o reconhecimento
da tolice que fes, aí é tarde e não adianta chorar o leite derramado!
Para
ilustrar melhor o que estou dizendo, posso contar um fato ocorrido tempos
atrás, que parece conto de fadas, mas aconteceu:
Haviam
duas mocinhas com 17 e 18 anos que, como ainda acontece, vendiam doces e
quinquilharias nos semáforos para se sustentar e ajudar as despesas em casa.
Ambas sem pai, vivendo com suas mães, que trabalhavam de lavadeiras de roupas,
morando em barracos no morro em péssimas condições. Certo dia, parou um carro e
elas se aproximaram, o senhor que estava dirigindo, falou para a mais jovem:
Todos dias eu passo aqui e vejo você lutando pela vida, entre aqui que quero
lhe fazer uma proposta!
Então
ela respondei grosseiramente: Se respeite seu velho descarado! (e ele tinha 38
anos, apenas, cabelos grisalhos nas têmporas). A amiga ficou horrorizada com a
atitude e falou: posso entrar e ouvir a proposta do senhor? Ele, meio
desconcertado, disse que sim, abrindo a porta do carro para que ela entrasse!
Seguiram,
pararam num jardim próximo e começaram a conversar. Ela, embora segura, estava
bastante tensa. Então ele apresentou seu cartão e identidade, disse que era
advogado, divorciado há 2 anos, e não tinha filhos. Ela começou a ficar mais
confiante, falou sobre sua vida e, em uma hora já estavam se dando bem, indo a
uma lanchonete, pois ela disse que até aquela hora, nada tinha comido. Assim,
inesperadamente, começou a amizade de Marília e Walter. Ele falando da sua
solidão e querendo uma nova relação com uma pessoa completamente fora do seu
círculo social, e que realmente ele pudesse ajudar de alguma forma. Para ele a
beleza não era o primordial, mas, o caráter sim!
Na
despedida, já com encontro combinado para o dia seguinte, ele quis pagar a
caixinha de Drops e batom que ela não pode vender em função da saída do ponto,
e o tempo que ficaram conversando, porém, ela recusou e disse que somente ter
conhecido ele e a oportunidade que estava recebendo, valiam muito mais que a
sua vendagem em toda sua vida. Lógico que estou sintetizando tudo, citando
apenas algumas nuances mais importantes do encontro!
A
verdade é que eles foram morar juntos (ela e a mãe) no apartamento de Walter,
tratamentos dentários, planos de saúde e, enquanto dona Albertina cuidava da
casa, Marília fazia um curso para se habilitar ao vestibular de enfermagem que
era sua preferência. Hoje já passados 8 anos, ela formada e trabalhando, quando
passa com seu carro no velho semáforo, ainda vê sua amiga com um filho pequeno
segurando sua mão e uma barriga enorme a espera de outro. Ela para o seu carro
e compra vários doces para ajudar a amiga que (e também levar para sua filhota
de 3 anos), recusou sua grande oportunidade por idiotice e orgulho tolo, e
terminou tendo um filho de pai desconhecido e esperando outro de produção
independente!
Na
minha ousadia, sempre aconselho que as pessoas sejam corajosas, guerreiras,
valentes e imponderadas, enfrentando com unhas e dentes as chances que
aparecem. Se derem erradas, que caiam e se levantem, tomando como lição e
aprendizado de vida. Pois, somente tentando, saberá se essa é “a sorte que era
para acontecer com você!”
Os
idiotas não aceitam novas propostas, não é por não confiar em quem propõe, na
realidade eles não confia neles mesmo!
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros fundadores da Academia Grapiúna
de Letras!
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