Antonio Nunes de Souza*
Aviso
que o texto é longo, mas, é muito melhor você perder uns minutos lendo, que
passar mais quatro anos sofrendo. Não trata-se de campanha, e sim um
esclarecimento!
Lógico
que em rápidas palavras, é impossível expor completamente esse sórdido e
aviltante regime, mas, numa síntese, podemos pelo menos mostrar os detalhes
mais significativos e os resultados, principalmente para o povo, que sempre é o
maior sofredor e mais atingido. Pois, em qualquer regime, os ricos e remediados
pouco se incomodam, inclusive muitos que apoiam, são bastante beneficiados!
O
que vou passar a relatar ninguém me contou, foram situações que vivenciei
durante a ditadura militar, iniciada em 1964 prolongando-se até 1985. Observa-se
que foi um longo período que, sem nenhuma dúvida, sofremos as agruras do
inferno, nas mãos impiedosas das forças armadas!
Na
madrugada de primeiro de abril foram invadidos todas as sedes dos sindicatos, a
UNE (União Nacional dos Estudantes), casas e apartamentos de pessoas que os alcaguetes denunciaram como subversivos (?), supermercado do Sindicato da
Petrobras, inclusive prendendo todos que estavam fazendo compras. E essas
invasões foram com quebra-quebra geral, jogando máquinas de escrever, carteiras,
documento, arquivos, tudo na rua pelas janelas. Nas residências pela mesma
forma, nas bibliotecas particulares, todos os livros que tinham as capas
vermelhas os soldados rasgavam, até os de receitas culinárias, pois, capa
vermelha para eles era subversivo. Na Refinaria de Mataripe, onde eu trabalhava
na época desde de 1962, chegou um batalhão enorme, expulsou todos os
funcionários que moravam nos alojamentos, para aquartelar os militares, ficamos
proibidos de fazer refeições no hotel, prenderam mais de uma centena de
funcionários, apontados como sindicalistas e contra o regime imposto, colocaram
um navio em Madre Deus, que ficou servindo de prisão em seu porão. Muitos foram
torturados barbaramente, para confessar coisas que eles imaginavam que
existiam, principalmente armas! Diziam eles que havia um arsenal escondido.
Mas, não encontraram nem um modesto revólver!
Daí
pra frente, passamos a sermos revistados quando chegávamos, fiscalizados por
centenas de soldados, armados e circulando por todos os cantos, paravam e
ficavam nos encarando e, aqueles que demostrava algum medo ou coisa parecida,
eles levavam escoltados para sofrer uma série de perguntas veementes, chegando
às vezes a torturas físicas e mentais, para que confessassem o que nada tinham
a dizer! Estupidamente, foi exonerado o Dr. Perrone, superintendente da
Refinaria, homem que conhecia petróleo até debaixo d’agua, e foi colocado em
seu lugar o General Ariovaldo Pereira Lima, que de petróleo a única coisa que
sabia, era parar nos postos para botar gasolina no seu carro!
Aí
começamos todos no Brasil a sofrer uma censura absurda nos filmes, livros,
teatros, exposições, shows, rádios, jornais, televisões, chegando ao ponto de
até as músicas ambientes que eram tocadas em bares, restaurantes, eventos, salas
de espera, etc., você era obrigado a fazer uma lista dos títulos, cantores e
compositores, e mandar para o departamento de censura, onde eles examinavam,
cortavam aquelas que eles achavam subversivas, e devolvia a lista com as que
poderia executar. E ai de você se saísse da lista aprovada. Isso eu vivi,
literalmente, pois, minha família tinha três hotéis e eu administrava os
restaurantes, onde executava-se músicas ambientes. Em Salvador tinha um coronel
Luiz Arthur que era o cão chupando manga. Sua distração era encarcerar qualquer
um. Tive um amigo que foi acusado de subversivo, e quando se apresentou com um
advogado, prenderam ele e o advogado, com a alegação que quem defende
subversivo também é igual. E ficaram um bom tempo nas grades!
Nossos
governantes foram praticamente todos trocados por militares, muitos
desqualificados para as funções (como atualmente), além de prepotentes,
arrogantes e desumanos! Passamos a não ter direito de ir e vir dentro e fora do
país, muitas pessoas qualificadas (artistas, reitores, cientistas, escritores,
professores), por não concordar com o brutal regime foram exilados, ou expulsos
do país. Muitos foram embora espontaneamente, num ato de repulsa ao que estavam
vendo e acontecendo!
Com
o grotesco Ato institucional 5 (AI-5), passamos a não ter constituição,
democracia, direitos, nem nada. Quem mandava no país era um grupo de generais,
e eram eles que ditavam as regras aos seus gostos. Todos com as maiores
mordomias possíveis (como atualmente). Em 1965 eu era noivo de uma moça em
Salvador, e o tio dela era General e veio do Rio de Janeiro para ser o Chefe da
Quinta Região Militar (o manda chuva do Estado) e, por essa coincidência, tive
oportunidade de ver de perto as benesses exageradas que lhe prestavam! Dezenas
de jantares, manifestações, presentes, concessões nos clubes, cinemas, teatros.
Inclusive tive oportunidade de ir algumas vezes, até nas praias e lanchas da
Base Naval de Aratu, pois, o Gal. João Santos trouxe para ser chefe da Base
Naval da Bahia, um tenente que era seu genro. Não posso deixar de dizer que no
carnaval, fomos para o Yacht Clube da Bahia, éramos umas dez pessoas e lá
estava o melhor camarote, muita comida, bebidas, queijos, vinhos, salgados,
etc., tudo 0800. Nunca vi tanta subserviência de um lado e prepotência do
outro. Até os garçons me chamavam de tenente e as vezes de coronel. Eu que
conhecia o outro lado da história, sentia repulsa e nojo!
Todos
viviam calados, passamos os primeiros anos só podendo ficar nas ruas até as 20
horas, depois ampliado para 22 horas e, quando tomaram o domínio completamente,
passamos a poder sair um pouco mais, porém, sempre vigiados por carros do
exército circulando nas ruas, cheios de soldados fortemente armados. Muitas
vezes paravam aleatoriamente, alguns saltavam e lhe pedia documentação,
perguntava o que você estava fazendo na rua, etc., deixando o cidadão em pânico
e aterrorizado. Nesse período, para conhecer melhor as intenções dos militares
com relação ao nosso país, fui fazer o curso na ADESG (Associação dos
Diplomados da Escola Superior de Guerra), uma espécie de lavagem cerebral programada,
cujo diploma tenho e guardo até hoje!
Foram
21 tristes anos, ocasião que o Brasil retrocedeu em todas as áreas,
principalmente na educação, cultura, tecnologia e pesquisas científicas. Sua
única obra expressiva foi a ponte Rio/Niterói, com o gasto assustador, que
daria para construir quatro pontes semelhantes!
Ficamos
todos esses anos sem poder escolher nossos presidentes e governadores, todos
eram militares e alguns civis da corriola de apoiadores, ou apadrinhados
políticos. Vereadores não tinham direito a salário!
Nessas
linhas, não tem da missa a metade, isso é o mínimo que você sofrerá se cair na
bobagem de votar nesse homem que, claramente, deseja ser um ditador, dar um
golpe militar e ficar no governo por tempo indeterminado, fazendo o que já está
fazendo: Provocando a miséria, fome, desemprego, enfraquecendo a educação e
saúde, moradia, nenhuma segurança (assaltos, roubos, crimes, raptos, sequestro
por minuto), falta de respeito com todas instituições, democracia e a
constituição, dando indulto a criminoso comprovadamente nocivo a sociedade e a
política. Além de outros atos que demonstram, claramente as intenções de ser o
ditador do nosso querido país. Vamos dar a resposta a ele nas urnas. Ele é tão
acintosamente prepotente e arrogante, que por diversas vezes, já disse que se
ele perder as eleições, só Deus tirará ele da presidência. Essa declaração é
totalmente golpista e ditatorial!
Morrerei
sem entender, qual a razão de pessoas apoiarem essas e outras atitudes
discrepantes, contra totalmente os padrões democráticos e humanos!
Tudo
isso, juro que é café pequeno no comando desse homem, pois, não deu certo um
golpe chefiado por generais, imaginem vocês o que seja com o comando de um
capitão da reserva, frustrado por ter sido reformado, por alguma razão que
desconheço, mas, coisa boa não deve ter sido!
Em
outubro, são mais ou menos dez candidatos e, com certeza absoluta, qualquer um
é melhor que Bolsonaro. Pelo menos, nenhum deseja ser ditador da nossa
maravilhosa nação. Todos estão voltados para consertar os absurdos desses
últimos anos! Vale dizer que, se eu ousar escrever essas verdades reais na
ditadura militar, serei logo preso, torturado e desaparecerei sem deixar
vestígios, como aconteceu com muitos nos 21 anos!
*Escritor
– Historiador – Membro da Academia Grapiúna de Letras - AGRAL
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