Antonio Nunes de Souza*
Caro Coroa,
Claro que não viajei por mar. Aqui se chega bem
de buzu, queixando carona, ou carango próprio. Optei pela última
possibilidade por gostar de conforto (que não sou de ferro), já que estou
sendo bancado pelo Além Mar e não tem ninguém aqui para controlar minhas despesas!
Fui tomado de impacto ao adentrar, após 522 anos do descobrimento, nesta
cidade de Porto Seguro. Cheguei pela parte histórica, onde o velho Cabral
construiu algumas obras até hoje conservadas, ou recuperadas. Daqui de cima
já comecei a imaginar a delicia que me espera, pela beleza do mar que
desbundou em minha frente!
O ar é puro e saudável, emanado pelo que resta da Mata Atlântica. Preparei
logo minhas narinas, porque aqui eu sei que vou “cheirar” à vontade. Haja
pulmão e cabeça para resistir!
Ao descer a ladeira, indo de encontro à cidade propriamente dita, o movimento
de carros de todos os lugares do mundo, fez-me parecer que errara de caminho
e estava no trânsito confuso de Sampa. Dezenas de homens, meninos e mulheres
correm atrás dos carros para oferecer panfletos indicativos de pousadas,
cabanas e casas noturnas, onde você pode descansar e cansar respectivamente!
Gatas e gatos (como são apelidados aqui as raparigas e os gajos) desfilam em
roupas ínfimas, partindo nas mais diversas direções em busca dos prazeres que
essa cidade oferece!
Até agora não vi um índio, nem para remédio. Creio que os Pataxós estão mais
espertos, para que os brancos não descubram o caminho "mais íntimo"
das índias!
Estou passando neste momento na artéria principal, denominada “Passarela do Álcool”.
Pelo nome, Reizaço, tu podes imaginar que é aqui que o couro come e a mãe não
vê. Neste bendito trecho encontra-se os mais diversos tipos de pessoas,
caminhando como formigas, vendendo, ou buscando prazeres!
Queimam-se todas as tristezas e as “fumaças” perde-se nas cabeças, fazendo a
alegria estourar em todos os ambientes, provocando a euforia geral dos grupos
que, gentilmente, são denominados de “Galera!”
Música ao vivo brada nos bares e cabanas, destacando-se um ritmo alucinante e
sensual chamado lambada que, pelo remelexo e esfregação ao dançar, pode levar
ao orgasmo num abrir e fechar dos olhos, até mesmo que você não sofra de
ejaculação precoce!
E é aí que mora o perigo! Depois da mistura do álcool, um tapinha no fumo,
muito “brilho” na cuca, lambadas e lambidas, todos chegam ao pico da
animação, desejando logo um local, adequado, ou não, para a prática do sexo
nas mais variadas maneiras e posições!
Normalmente esquecendo das precauções devidas com relação às doenças transmissíveis!
Pô Majesta, pude perceber que ainda existem
babacas que não usam a camisinha. E, na hora de afogar o ganso, não protegem
o pinto! As raparigas nativas, inibidas, também têm vergonha de exigir tal
procedimento!
Esse vacilo, lamentavelmente, é quase generalizado: homens, mulheres,
brasileiros e estrangeiros. Eu não diria que é uma promiscuidade. Mas, não
deixa de ser pois (com o perdão da palavra) uma puta ignorância, meu Rei!
Aqui, como em todo universo, já descobriram que o
sexo é maravilhoso. Contudo, esqueceram que também é perigoso em razão das
doenças venéreas e a fatídica AIDS!
Meu conselho para todos será: na hora da tempestade do amor, calmaria, meus
caros gajos. Calmaria e camisinha não fazem mal a ninguém!
O entrosamento internacional é interessante: Os
turistas comem as nativas e os nativos comem as turistas. Acontecendo,
normalmente, turistas ricas levarem nativos e muitos turistas ficarem morando
aqui, ou levam as nativas!
Finalmente, meu Rei, termino dizendo: aqui a
terra continua linda e maravilhosa. Como eu disse no passado: Aqui se
plantando tudo dá. E o povo plantou bastante. Sua população é bonita,
hospitaleira e meiga. E, se educando, todos vão usar (camisinha, claro)!
Vou aproveitar e ficar um mês aqui para me entrosar melhor, fazer uma
visita a Cabrália para ver a cruz e fazer um relatório mais completo nessa
minha segunda carta!
Com todo respeito a minha Majestade,
Pero Vaz de Caminha
*Escritor-Historiador-Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL
|
.
|
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário