sábado, 5 de março de 2022

A VIDA DE ANDREZINHO!

 

Antonio Nunes de Souza*

Para que possa começar a contar a história de Andrezinho, tenho que falar sobre seu carrasco e machista pai que, sumariamente, com suas intolerâncias, modificou o destino desse belo rapaz!

André, quarto filho de uma família de cinco irmãos, sendo ele o caçulinha cheio de dengos e vontades nas alimentações e brincadeiras, mas, nas decisões sobre seus desejos futuros, infelizmente, foi controlado pelo seu severo pai, um homem a moda antiga!

Aos dez anos Andrezinho (como era tratado por todos), resolveu que queria aprender balet. Seu pai, irritado, bateu na mesa e disse: Isso é coisa de viado! Você não vai não! Em vez de ir lutar Karatê, Kong Fu, Capoeira, Box, etc., esse corno me aparece com essa ideia idiota!

Aos dezoito anos ele descobriu que tinha um jeitinho muito especial para culinária, e quis entrar em uma escola para aprender as magias dos temperos. Porém, seu pai, retado da vida, disse bravamente: De hipótese nenhuma, quero ver um filho meu com uma panela na mão. Isso é coisa de viadão! E enfatizava: Comigo a palavra é viado. Nada de homossexual, que eu acho um termo aviadado!

Já adulto, com vinte e cinco anos, influenciado por ver sua tia costureira fazendo vestidos, Andrezinho decidiu que ia tomar um curso de corte e costura, criando vestidos e realizaria desfiles maravilhosos! Aí, seu grosso e revoltante pai, berrou firme: Prefiro a morte, que ver meu filho que tanto amo, numa passarela como uma boneca. Isso é coisa de viado dos grandes. Jamais permitirei essa barbaridade!

Com o tempo, seu pai ficou velhinho, sem forças mais para comandá-lo, sofrei um infarto e morreu! Resultado: Andrezinho não aprendeu a fazer porra nenhuma na vida, e hoje é uma bicha louca desvairada, sem nenhuma profissão, vivendo às custas da mãe e dos irmãos!

Mas, com quatro anos, ele resolveu que poderia aprender algo interessante, e dentro do mercado consumidor, e passou a se dedicar a vertente dinâmica da computação. Leu e treinou bastante e, por ser bem falante, conseguiu conquistar uma clientela ótima, já que todos gostam de receber muitas explicações. E ele não faz por menos, explicando até o que o cliente nem quer saber, e nem sabe da existência. Virou uma celebridade virtual na sua cidade, que hoje, seu apelido as escondidas, entre os funcionários e clientes é: Placa Mãe!

Com essa crônica, quis mostrar que não devemos interferir, bruscamente, nos desejos dos nossos filhos, pois, eles podem desempenhar qualquer função que desejar, sem que suas tendências sexuais sejam abaladas, ou modificadas. O importante é que todos possam seguir os seus caminhos fazendo o que mais se sente bem, que com certeza, se tornarão excelentes profissionais nas suas áreas!

Andrezinho é um exemplo de luta pelos seus direitos, e hoje, além de ser um gênio nas vendas, ainda para relembrar os desejos do passado, às vezes costura uma blusa, dá uns passinhos de balet, e faz todo mês de setembro, um caruru pra ninguém botar defeito!

*Escritor – Historiador – Membro da Academia Grapiúna de Letras - AGRAL

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