Antonio Nunes de Souza*
Recém
formada em medicina, ainda sem um emprego fixo, mas, como sou de uma família
classe média alta, não tenho nenhuma agonia ou preocupação, para ir logo
trabalhar em qualquer emprego. Sendo assim, aproveito para fazer cursos de pós
graduação, mestrado, e se possível doutorado, pois, quanto melhor minha qualificação,
maiores serão as oportunidades de trabalhar em bons hospitais, e com colegas de
ponta e renomados nacionalmente!
Sabendo
de um seminário de mastodôntica, com personalidades de outros países,
prontamente me escrevi, pague as caras taxas, e no dia seguinte estarei indo
para Salvador no meu próprio carro, que ganhei de presente na formatura, mesmo
meus pais dizendo que eu deveria ir de avião ou ônibus. Mas, como conheço bem
Salvador do tempo de faculdade, e dirijo desde quatorze anos, não dei ouvidos a
eles!
O
dia amanheceu e, messe momento, estou entrando no carro para seguir meu
destino. Beijos e abraços, preocupações estampadas nos rostos, mas, como filha
única, sempre fizeram tudo que eu desejava!
Passei
no posto, abasteci, mandei olhar tudo, e depois da checagem, paguei e meti o pé
na estrada, sempre atenta e ouvindo minhas músicas preferidas. Até que,
inesperadamente, o carro começou a soluçar e falhar o motor, fiquei logo tensa,
pois o desgraçado era novíssimo e do ano. Mas, mesmo assim, foi falhando,
falhando até que parou completamente. Somente me dando tempo de arranjar um
acostamento mais largo para poder encostar sem maiores riscos. Olhei para o
relógio e vi que eram 8.30, já tendo viajado por uma hora e meia. Peguei o
celular imediatamente, e para meu espanto e surpresa, no local não tinha sinal
de internet, deixando-me completamente apavorada. Uma jovem de vinte e cinco anos,
sozinha em plena BR 101, um trânsito terrível, e sujeita a bandidos, ladrões ou
assaltantes. Sentada no volante, parei para pensar se saltaria para dar a mão
pedindo socorro, tendo a possibilidade da pessoa que parar seja um malfeitor,
pois, geralmente, pessoas de bem são previdentes, e não param com receio de
emboscada. Esse dilema cruel me deixou super nervosa, mas, como sou forte e
decidida, segurei a barra, e pensei num adágio vulgar que meu primo sempre
dizia: “Quem tem medo de cagar, não come!” Meu caso não era comida, mas, tinha
sentido: Ou eu enfrentava a situação me arriscando no peito e na raça, ou ficaria
feito uma tola, esperando que a solução caísse do céu, como as pessoas idiotas ficam
imaginando que fazendo assim resolverão seus problemas!
Sabidamente,
gravei uma mensagem em meu celular contando o fato aos meus pais, pois, caso
algo acontecesse, eles teriam uma ideia do ocorrido. Saltei e, me cagando de
medo, passei a dar a mão, primeiramente para automóveis, mas, todos olhavam e
não paravam. Quando muito, apenas buzinavam. Verdadeiros filhos da puta
desumanos. Já nervosa e sem mais medo, passei a dar a mão para caminhões e
todos veículos que passavam. Olhei para
o relógio e vi que já era 9.30 e, com uma hora, nenhum miserável me
socorreu. Aí, quando resolvi entrar para
sentar e descansar, notei um carro parar no fundo do meu, Olhei pelo retrovisor
e vi saltar um homem, porém, com boa aparência. Chegou-se ao meu lado e disse:
Bom dia! Posso ajuda-la em alguma coisa?
Pelo seu jeito de falar, aparência e delicadeza,dei um suspiro, pois senti que era alguém confiável. Então falei sobre o defeito do carro, e ele prontamente, pediu-me que abrisse o capô, para que pudesse verificar a razão do problema, muito embora entendia pouco de mecânica. Mas, de imediato ele viu que o cabo da bobina estava solto, talvez em função dos tombos da estrada. Assim que ele conectou no lugar, fui testar e, milagrosamente o motor ligou, dando-me uma alegria incomensurável!
Agradeci gentilmente a ajuda providencial, ele muito gentil, nos despedimos e, imediatamente seguimos a nossa viagem. Já no caminho me veio a mente, que nem nos apresentamos, e eu nem seu o seu nome. O restante da viagem foi tranquilo, cheguei em Salvador as 13 horas, e fui direto para o hotel programado pela organização do evento, que fazia parte do pacote da inscrição! E< inacreditavelmente, ao encostar no balcão da recepção, bato-me com o homem que me socorreu na estrada. Nos olhamos, demos uma risada contagiante pela coincidência, e aí nos apresentamos: Meu nome é Lucineide França, sou médica e estou aqui para participar de um Congresso, e moro em Ilhéus. Ele deu u8ma gargalhada enorme que me assustou totalmente. Mas, imediatamente falou: Eu sou Adalmir Farias, médico em Itabuna e também estou aqui para esse mesmo Congresso. Aí percebi a razão da sua gargalhada e, ao mesmo tempo, voltamos a sorrir. Ele estava de saída, enquanto eu estava me registrando, para ir me acomodar, tomar um bom banho e descansar, já que a abertura do evento será as 18 horas, no salão de convenções do próprio hotel!
Acordei às 16 horas, pedi um lanche no quarto, já que nem tinha almoçado, e comecei a me arrumar, procurando colocar-me bem apresentável, pois sabia que me depararia com mais de cem participantes, sendo todos médicos, e alguns conceituadíssimos, que seriam palestrantes. Faltando cinco minutos para o horário, saí do apartamento e me dirigi ao elevador para ir ao décimo andar, local indicado pelos recepcionistas. E, mais uma vez, o destino me colocou frente a frente com Adalmir, pois, assim que o elevador abriu, dentre os ocupantes, ele se destacava pelo seu tamanho. Lógico que demos um sorriso pelos inesperados encontros, todos no mesmo dia, como se fosse uma predestinação. Desceram todos e Adalmir chegou ao meu lado, e sorrindo disse: Você está me seguindo Lucineide?
-Nada
disso meu amigo. Também posso dizer que é você que está a me perseguir!
Ficamos
rindo, e como nosso destino era o mesmo, ficamos juntos, assistimos a abertura
sentados um ao lado do outro, ouvimos os normais discursos, apresentação dos
palestrantes, foi servido um coquetel com petiscos salgados, formamos alguns
grupos, conversando e trocando informações sobre nossas regiões, porém, não nos
separamos um segundo. Até que as 21 horas começaram todos a sair, e nós
resolvemos ir jantar num restaurante italiano, já que eu sugeri, afim de comer
uma deliciosa macarronada com frutos do mar, que adoro, desde que experimentei
na minha viagem a Roma!
Tenho
que dizer que foi um jantar maravilhoso, regado ao vinho Matheus Rosé da safra
privilegiada de 1998, esbanjamos conversas e reais com essa familiarização
gastronômica, porém ficamos bem informados sobre ambos. Eu filho de um
comerciante e industrial e ele filho de uma educadora altamente gabaritada,
chamada professora Vininha, proprietária do Colégio Lustosa, onde ele fez seus
primeiros cursos. Como pessoas jovens, modernas e educadas, dividimos a conta e
seguimos para o carro, que depois de um passeio pela orla para fazer uma boa
digestão, apreciando o luar e as praias, nos dirigirmos para o hotel. E foi o
que fizemos!
Seria
uma grande mentira eu dizer que fui para meu quarto dormir, pois, depois de
vários encontros inesperados, um jantar delicioso, com uma companha super
agradável, logicamente, deveria terminar na cama, selando o fim do dia com uma
belíssima e maravilhosa transa, sem a imbecilidade de reprimir, achando que é
pecado. Pra mim, pecado é bancar a idiota não desfrutando momentos de prazer!
O
fato é que o congresso foi excelente, aprendemos muito, estar com Adalmir todos
os dias na cama foi uma delícia, voltamos juntos, ele seguindo meu carro até
Ilhéus, nos despedimos, ficando de voltar a nos encontrar!
O
fato é que hoje temos uma ótima Clínica Mastodôntica em Itabuna, na Av. Duque
de Caxias, 122, que nós montamos, e eu estou grávida de nosso primeiro filho!
Vejam
vocês, que muitas vezes o dia começa com contratempos e acidentes de percursos
absurdos, mas, com o decorrer do dia, as coisas podem se transformar em um mar
de rosas. O importante e ter cautela e paciência, para que as coisas sejam
resolvidas!
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros fundadores da Academia Grapiúna
de Letras!
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