segunda-feira, 6 de novembro de 2023

O TEMPO E AS BOAS RECORDAÇÕES! (Clique no título e leia)

 

Antonio Nunes de Souza*

“Ai que saudade que tenho, da aurora da minha vida, minha infância querida”, que os anos não trazem mais”. Os anos da infância, aliados a minha juventude, puberdade e adulto, fazendo eu carregar pelo resto da vida, um sentimento, que por ser tão forte, dizer que é amor, paixão, desejo ou ímpeto, juntando tudo isso, ainda é pouco para descreve-lo. Pois, minha pequena Maria Bethânia, que vi muitas vezes de fraldas, ainda engatiando, foi o que desfraldou em mim!

O curioso é que fomos criados como verdadeiros irmãos, e como tal, no decorrer dos anos, sempre tivemos nossas rusgas, desapegos e apegos, mas, voltávamos aos boas e ótimos momentos, comportamentos mais que normais nas irmandades, mesmo não sendo sanguínea. E, talvez por isso, sempre nos olhávamos diferenciadamente, como se algo verdadeiramente diferente existisse entre nós. Talvez nem soubéssemos o que era, porém, era belo, aprazível, e por não dizer gostoso?

Fomos crescendo, crescendo, e aquela criança recalcitrante, teimosa e cheia de vontades, foi tomando corpo, evoluindo e transformando-se numa menina magra, sempre não tão arrumada, atrevida e ousada, fazia minha admiração ampliar cada vez mais, já que adoro desafios de domar feras, feridas ou sem ferimentos. Mas com todos esses momentos de desencontros, os encontros normalmente eram cheios de olhares, como se vivássemos “entre tapas e beijos”, sempre e normalmente, os tapas em maioria. Coisa normal entre os humanos: só se discute com quem gostamos muito!

Ficamos adultos, embora eu um pouco mais velho, trazia dentro de mim aquele sentimento inexplicável e sem nome definido, pela minha irmã, que por sua vez, não deixava de demonstrar, mesmo ligeiramente, que a coisa não era unilateral!

Como sempre, o tempo que é coadjuvante em tudo de nossas vidas, um dia, por sua ousadia, nos beijamos, abraçamos, acariciamos por alguns momentos, que para mim foi uma eternidade e, para ela, pelo seu olhar e reciprocidade, com certeza, foi um instante marcante de felicidade. Porém, tomamos rumos diferentes. Mas, nunca deixamos de contentes, nos encontramos com abraços e beijinhos inocentes pelos nossos compromissos, embora, nitidamente, percebia-se em nossas mentes, que existia algo diferente que seguramente, poderia ser taxado de dois desejos incestuosos latentes!

E o tempo, esse louco tempo que adoraria que voltasse atrás, foi passando, até que um dia, num dos nossos maravilhosos carnavais, mais uma vez pela sua grande ousadia e coragem, já que sou um tímido disfarçado de atrevido, pegou-me pela cintura e, loucamente beijou minha boca, num beijo sem tempo ou hora para parar. E, agarrados como dois siameses, nos enchemos com um prazer tão maravilhoso, que demonstrava ser algo desejado por ambos há muito tempo, que o tempo com pena, nos proporcionou. Foi divino e maravilhoso, como diria nosso mano Caetano!

Como sempre, o tempo discorreu, sempre nos situamos a distância, vidas e compromissos de trabalhos e afetivos bem diferenciados, porém, nos poucos e esperados encontros, sempre os olhares e cumprimentos, deixavam transparecer que nos amávamos irmãmente!

Ela transformou-se em uma cantora e interprete internacional, e eu um modesto escritor interiorano. Mas, para mim que sempre senti aquele sentimento sem nome por ela, essa parte não passa de um simples detalhe, pois, meu sentimento é pela mulher que ela é e sempre foi. Tenho certeza que se ela fosse até muda, cantaria em “libras” para mim, e o som estridente de seu olhar, me fascinaria com uma emoção indescritível!

Essa sensação sem nome, já atravessou tanto tempo, que o próprio tempo, faz com que eu sempre lembre daquele velho e saudoso bom tempo. Creio que morrerei sem saber ao certo, o significado dessa passagem na minha vida. Mas, com certeza, foi algo belíssimo que deixou marcas em minha mente e em meu coração. Pois, até hoje, nos olhamos como se tivéssemos alguma coisa que foi mal resolvida e, certamente, seria bom resolver!

“Eu amo a vida, principalmente por ela ser louca, e nos dar alguns momentos de lucidez, para recordarmos nossas loucuras!”

*Escritor, Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros fundadores da Academia Grapiúna de Letras!

 

 

 

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