Antonio Nunes de Souza*
Hoje,
vinte e nove de novembro, acordei bastante animado, apesar de meus oitenta e
cinco anos (felizmente sempre foi bem saudável), com alegria e satisfação,
pois, devo me arrumar dignamente, para apresentar-me as quatorze horas no
Shopping Center Iguatemi, no sentido de receber as normais instruções, já
bastantes conhecidas por mim, para representar o Papai Noel, na parte central,
onde é armado um cenário espetacular, contando com uma linda árvore abarrotada
de presentes, além de algumas Mamães Noel para organizar as crianças, e um
lindo trono, onde sento-me eventualmente para descansar, assim como tirar fotos
com as crianças e clientes!
Após
o café, segui para o salão, afim de dar um trato legal na minha barba, que é
original e longa, pois, por ser meio gordo e conservá-la desde jovem, sempre
fui apelidado de Papai Noel, terminando, depois da minha aposentadoria, passei
a exercer essa função no Shopping, que já tem a duração de dez anos. Trabalho
agradável que me dá uma ótima grana, e muitos presentes todos finais de ano!
Cheguei
no salão, fui logo atendido, sentei-me na cadeira, vesti o avental protetor, não
precisei nada dizer, pois sou um cliente assíduo da casa, e eles sabem que vou
apenas para acertar as pontas, deixando-me com a real aparência do velho
presenteador. Criteriosamente, ele começou seu artesanal trabalho, enquanto eu,
calado comecei a rememorar as vezes anteriores, as surpresas agradáveis,
alegrias, sorrisos, milhares de fotos, bombons e chocolates dados pelas
crianças, além de uma montanhas de pedidos, muitos deles impossíveis de serem
realizados. Nisso, lembrei-me de um de uma menininha de uns quatro ou cinco anos
de idade, que largou a mão de seu pai e, chorando muito, chegou pra mim em
soluços, e disse: Papai Noel eu quero que você me dê de presente minha mãe, que
morreu e está lá no céu. Traga ela pra mim! Dizendo isso, agarrou-se a mim aos
prantos, que me derrubou completamente, fazendo as lágrimas descerem na minha
face, sentindo uma dor no peito, causando-me tão mal, que tiveram que me levar
ao médico, e em seguida fui para casa, já que era final de expediente. Não
posso negar que foi um momento triste, que me sensibilizou muito e jamais
consegui esquecer, pois ainda tive que, enganosamente, dizer a criança que ia
pedir a Papai do Céu e se Ele deixasse, eu trairia, fazendo com que ela parasse
o choro, e carinhosamente, me beijasse no rosto com um lindo sorriso nos lábios!
Ainda
fiquei traumatizado por algum tempo, imaginando a decepção da criança, por eu
não ter cumprido o seu pedido!
Na
nossa vida, mesmo quando estamos desfrutando momentos felizes e maravilhosos,
devemos estar preparados, pois, somos passíveis de contratempos bastantes
desagradáveis, que nos deixam sequelas inesquecíveis!
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros fundadores da Academia Grapiúna
de Letras!
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