Antonio Nunes de Souza*
Ela
era bonita, charmosa, corpo perfeito e branquinha como uma porcelana chinesa.
Era o que todo homem chama de mulher gostosa ou tesuda. E, sabedora dessa sua
condição, conquistava todos os homens que queria com facilidade, não fazendo-se
de difícil. Bastava ter um carro já levava 50% de vantagem para desfrutar
daquela maravilhosa máquina humana.
As meninas que adoram carro eram chamadas de
“Maria gasolina”, mas ela, por ser branquinha e gostar de ficar aberta encima
de uma cama, seu apelido era Renata Lençol. Pois, quase todos os rapazes da
faculdade já tinham forrado suas camas com a dita cuja.
As outras meninas nutriam uma puta inveja dela,
mas, sempre cheias de pudores, faziam-se de difíceis e, mesmo naquela época,
sexo já rolava solto, apenas com um procedimento mais discreto para evitar
comentários. Ela não! Fazia o que queria e pouco estava se lixando para o que
dissessem. O que queria mesmo era gozar a vida e aproveitar ao máximo as
possibilidades que surgiam diariamente.
Ela tinha um comportamento típico dos homens, que
se vangloriam de bocas cheias que já comeram centenas de mulheres, mostrando
assim a sua masculinidade e condição de machão. Renata Lençol não deixava por
menos e não escondia das colegas que transara com dezenas de caras e ainda, no
barzinho da escola, ficava apontando para as colegas aqueles que eram melhores
de cama e as deficiências de outros que lhe decepcionaram. Os olhares fixos e
os ouvidos atentos, demonstravam claramente quanto elas tinham vontade de fazer
a mesma coisa, mas, faltava coragem!
Ela, com a maior tranquilidade dizia: Como posso
escolher um homem para casar, se não conhecer vários e sentir no meu corpo,
qual é o que será mais adaptável ao meu gosto e prazer?
Vocês quando vão escolher uma roupa na loja, não
experimentam várias para ver qual é a que melhor fica em seus corpos? Pois
marido é a mesma coisa. Você vai usá-lo por bastante tempo (assim como a roupa)
e é preciso que se ajuste bem no seu corpo e lhe faça feliz quando estiver lhe
cobrindo.
-Você é doida, Rê! Falou uma das meninas,
mostrando-se horrorizada com o que estava ouvindo!
-Doida uma zorra! Estou é vivendo minha vida com
liberdade, e os mesmos direitos que os homens sempre tiveram, e ás mulheres
babacas, seguindo a regra idiota de que teríamos que ser virgens até o
casamento, depois pegar um banana qualquer, e ficar sem orgasmo o resto da vida
ou ter que se separar por incompatibilidade de gênios, que na maioria das
vezes, a incompatibilidade é de sexo. Pois, 90% dos problemas que acontecem em
pé ou sentados, sempre se resolvem quando estamos deitados. A cama é a coisa
mais metafísica que existe. Nela nós nascemos, crescemos, dormimos, sonhamos,
amamos, sentimos prazer, vivemos e morremos. Então... como dividi-la com alguém
que não conheço muitíssimo bem?
As meninas pararam pasmas com o que acabaram de
ouvir, embora reconhecessem em Renata uma aluna estudiosa, não imaginavam que
existia toda essa filosofia para justificar o que elas taxavam de mera sacanagem
e libertinagem!
-Olhe, Rê, sabe de uma coisa? Você está certíssima
em viver, fazendo jus aos direitos iguais entre os seres humanos. Por que
ficarmos passivas a julgamentos da sociedade, se ela mesmo diz que a mulher já
conquistou o seu espaço e deve lutar por ele?
-Realmente Renata tem toda razão! Eu estou puta da
vida de ter deixado de aproveitar todas as chances que apareceram, querendo
bancar uma heroína de uma história que não existe mais. Falou sua amiga Cel!
Todas caíram numa gargalhada, pediram uma rodada
de chope, e brindaram com um grito, o desejo que estava reprimido nas suas
gargantas e nos seus ventres:“Viva o sexo livre!”
Depois dessa explanação lógica, sábia e normal de
Renata, o comportamento geral das meninas foram se adaptando a realidade dos
tempos e, quando terminei o meu curso, a faculdade parecia a fabrica Santista
de tantos lençóis que haviam a disposição!
*Escritor, Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros
fundadores da Academia Grapiúna de Letras!
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