Antonio Nunes de Souza*
Desde menino sempre tive uma inclinação e
desejo de ser músico. Alias, não especificamente músico. O que eu queria mesmo
era ser artista, ter fama, ser admirado na televisão e as gatinhas me
assediando como eu via acontecer com os artistas da época, e claro, cheio da
grana!
Como era de família pobre, e as dificuldades
financeiras não davam margens a uma dedicação com mais afinco, com sete anos,
nos horários que não estava na escola, tinha que sair pela rua vendendo
amendoim torrado, para ajudar o orçamento doméstico, não sobrando tempo para
uma dedicação maior com a intenção de alcançar meu sonho de um dia, ser uma
estrela no cenário musical nacional!
Quando completei 14 anos, mesmo não sendo mais o
meu pensamento primordial ser um astro, ainda residia no fundo do meu peito,
aquele desejo cheio de esperanças remotas, embora já considerado um sonho de
infância!
Aí, em um daqueles meus rotineiros dias, ao passar
pela porta de uma residência, vi no lixo um braço de violão despontando pela
boca do saco. Curiosamente, me aproximei e puxei o instrumento, percebendo que
se tratava de um cavaquinho com seu bojo rachado, faltando algumas cordas e uma
tarraxa. Juro que senti uma grande emoção pelo valoroso achado, vendo ali a
possibilidade de recuperar aquele velho instrumento, e começar nas poucas horas
vagas, praticar e iniciar a minha já quase esquecida, mas, ainda sonhada,
vontade de um dia ser um artista!
Levei meu precioso achado para casa, limpei
direitinho, aproveitei um resto de durepoxe que havia sobrado quando tapamos um
buraco no cano da pia da cozinha, fiz um remendo com o maior carinho, tirei as
enferrujadas cordas que sobravam, e uma tarraxa para servir de amostra, para
comprar na loja a que faltava!
Juntei uma graninha, e com uma semana, estava meu
precioso “cavaco”, mesmo com um som de taboca rachada, em condições de ser
utilizado, principalmente por mim, que não sabia nem o nome das notas,
logicamente, não podendo ser exigente quanto a qualidade do instrumento. O fato
é que era o início de uma caminhada esperada por muitos anos, e o primeiro
passo para a realização do devaneio de um jovem pobre!
Seu Quincas, dono de uma birosca perto da nossa
casa, tocava cavaquinho por diletantismo, e logo me veio a idéia de pedir a ele
para afinar o cavaco e, com jeito, solicitar que me desse algumas aulas
iniciais, e depois eu compraria um daqueles livrinhos tipo manual, que constam
algumas músicas e as sequências de notas. E o resto eu iria me arranjando!
Contando com a boa vontade de seu Quincas, que me
conhecia desde menino, não demorou um mês eu já dava meus primeiros acordes. E
com o passar do tempo, fui conseguindo tirar de ouvido algumas músicas
basicamente soladas no cavaquinho!
Hoje, com 22 anos, ainda não cheguei a ser um
astro, porém, faço parte de um modesto conjunto de pagode do bairro, nos
apresentamos nas festinhas, e sou um dos destaques da turma por tocar o
instrumento principal (um cavaquinho novo, é claro), sendo a atenção das
garotas da vizinhança!
Mas, toda essa lembrança veio em minha mente, em
virtude de me recordar de um fato marcante acontecido há um ano! Convidei uma
mina que era um tesão e desejada por todos, para ir ao cinema. E, depois que
começou o filme, iniciamos uma sequência de beijos e agarrações, fui subindo
minha mão lentamente pelas suas coxas até chegar ao seu sexo, polpudo,
redondinho e com pelos um tanto crespos, fazendo lembrar-me do meu querido e
maravilhoso cavaquinho!
Nem
sei até hoje o seu nome, pois, todos a chamava de Darling, em função de ser
bonita e sedutora. Então... ela arrepiada e cheia de emoções, abriu um pouco
mais as pernas, ajeitou o quadril para frente da poltrona, e disse sussurrando em
meu ouvido: Eu adoro tanto quando você está tocando!
Aí, não pensei duas vezes. Apalpei com carinho
aquele úmido sexo e, com o dedo anular, comecei a solar “Brasileirinho”!
Ela, arrepiando-se toda, respirava ofegante em meu
ouvido, num gesto de aprovação pela música que escolhi e a cadência carinhosa que,
com muita classe, eu imprimia sem sair do ritmo. E, quando ela tremeu de gozo,
eu senti na mente, como se milhares de pessoas estivessem me aplaudindo!
Pena que esse meu solo não foi gravado
*Escritor, Historiador, Cronista, Poeta e um, dos
Membros fundadores da Academia Grapiúna de Letras!
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