quinta-feira, 2 de novembro de 2023

A TRANSFORMAÇÃO DO DIA DE FINADOS! (Clique no título e leia)

 

Antonio Nunes de Souza*

Dois de novembro, “Dia de finados”, mesmo para os mais duros de coração, bate uma lembrança geral daqueles que tivemos oportunidade de conviver, e o tempo achou por bem recolhe-los, em alguns casos, até bem antes das horas previstas!

Dei um mergulho nos anos cinquenta (Pô! Tô velho pra cacete!) e comecei a rememorar aquele tempo, que todas as emissoras de rádios saiam do ar, falava-se baixo em casa, havia horários para orações, missas e, principalmente, as sagradas visitas ao cemitério, levando umas flores e velas para enfeitar os túmulos dos nossos entes queridos, seguindo todos cabisbaixos e carregados de sentimentos!

O tempo foi decorrendo, as emissoras passaram a transmitir apenas músicas clássicas, inclusive a própria televisão que estava chegando ao Brasil, respeitosamente, colocava uma imagem padrão fixa e um rosário de orquestrações lentas e saudosistas no decorrer do dia. Sinceramente, era um comportamento, além de religioso, uma demonstração de afeto e sentimento, pelas faltas corporais em nossos convívios de parentes e amigos queridos!

Rapaz, sem querer relatar todas as mudanças, decorridas nesses anos subsequentes, pois, daria um romance, vou partir para a atualidade, onde não estão mais respeitando os vivos, quanto mais os mortos. Além de dizerem que: “Quem morreu foi quem se Fo....!” Ainda ficam P da vida, quando o defunto só fez dar trabalho, e não deixou herança nenhuma. E, para justificar seu próprio alívio, diz para os outros: “Foi bom ele ter ido, pois estava sofrendo muito coitado!” Mas, no seu íntimo está pensando: “Que alívio retado pra mim!”

Por mais que pareça que estou sendo cético, atroz e exagerado, tirando as raríssimas e honrosas exceções, essa é uma realidade vista nesse mundo moderno, e cheio de praticidades, onde ouvimos, constantemente, quando damos os pêsames: “É isso mesmo, a vida continua”. No passado as viúvas se vestiam de preto por um ano, e os viúvos usavam uma tarja preta na manga da camisa, simbolizando a perda!  Ao depararmos com alguém conhecido nessas condições, não era nem preciso perguntar pela saudade, pois, as vestes já deixavam transparecer tais sentimentos!

Hoje, os jovens cônjuges já estão flertando em pleno velório e, se for bom partido, a disputa é grande, começando pelos advogados, se candidatando aos inventários e, consequentemente, aos encantos das viúvas!

Essa transformação radical na comemoração do dia de finados, oficializado como dia santo nacional, não mais é justificado, uma vez que a maioria das pessoas, aproveita para fazer festas e bebedeiras, deixando os pobres mortos horrorizados em suas sepulturas e catacumbas. De roupa preta, a única peça que eles adoram é a “Calcinha Preta” da banda de forró, para se deleitarem até o raiar do dia, ainda dizendo sorridentes que compraram pacotes de velas, mas, os defuntos interessados que apareçam lá em casa para buscar!

Para finalizar o meu estarrecimento por essa radical mudança, fiquei sabendo ontem que o m2 no cemitério paulista está custando mais caro que no luxuoso bairro Morumbi, dificultando o pobre até morrer em paz, pois, além de nunca ter tido onde ficar em vivo em pé, não tem nem onde cair morto. Minha esperança é que o governo, que já é solidário em muitos óbitos, crie agora para os pobres que estão morrendo de fome, mais um programa eleitoral popular que se chamará: “Minha cova, Minha morte!”

*Escritor, Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros fundadores da Academia Grapiúna de Letras!

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