Antonio
Nunes de Souza*
Abri
os olhos e me vi dentro de uma urna mortuária, um caixão como se diz
normalmente, completamente paralisado, vendo tudo que estava se passando,
ouvindo todas as conversas e, quis me mexer e levantar, mas, cadê forças, ou
condições. Pensei logo em gritar, porém nem mexer com a boca conseguia. Deu-me
uma aflição filha da puta, estar ali naquela situação, completamente inerte e,
mais louco ainda fiquei, quando ouvi o cara da mortuária SAF dizer para alguém:
-Foi
completamente de repente. Ele estava conversando com uns amigos e teve um AVC
fulminante que nem deu tempo para ser medicado. Morreu imediatamente!
Meu
desejo foi de gritar bem alto: Eu estou vivo seu sacana! Me tire desse caixão,
pare de me enfeitar com flores e folhas de Avenca, pois eu estou legal!
Mas,
cadê forças, nem reações corpóreas? Eu estava, simplesmente, petrificado.
Será
que é assim a tal da obscura morte? Você vendo a porra toda, tudo que se passa
em sua volta, ouvindo “estórias” de sua vida, elogios e algumas sacanagens e
fica, literalmente, duro e inanimado, sem nada poder fazer?
Porém,
como sou muito brincalhão, imaginei que alguns dos meus amigos, como vingança,
tinham preparado essa brincadeira. Me deram uma medicação as escondidas, que me
deixou completamente imobilizado!
Mas,
não foi nada disso, uma vez que, meus dois ex cunhados que são médicos,
encostaram no ataúde e falaram: É bom antecipar o enterro, pois, infelizmente,
não dará para esperar mais dois dias para seu filho chegar do exterior! E ele
já mandou avisar que, já que não chegará para o sepultamento, prefere não vir,
pois nada mais adiantará!
Ao
ouvir esse comentário mórbido, creio que morri outra vez, pois, imediatamente,
escorreu uma lágrima de cada um dos olhos. Nisso, o funcionário da empresas
funerária, vendo essa reação de choro, pegou um pano e falou. Vou fechar os
olhos dele, porque está lacrimejando e ficará mais apresentável com os olhos
cerrados.
Fiquei,
logo puto da vida, pois estava vendo as pessoas que estavam se despedindo de
mim, quem realmente, estava me prestigiando, ou que tinha ido até lá apenas
como curioso e, com os olhos fechados, apenas estava tendo a chance de ouvir os
comentários que faziam perto do caixão.
Comecei
a sentir um tremendo mal estar, já que nunca tinha imaginado que a morte seria
dessa forma, onde nós continuávamos vendo, ouvindo tudo e, barbaramente, sem
poder ter nenhuma reação. Senti que era um sofrimento brabo e triste, pois,
imaginei que, quando morresse, apagava a merda toda, nos transformando apenas
em um monte de carne para banquetear os micróbios durante um tempo!
Fiquei
logo matutando como seria essa zorra daqui pra frente, até que chegaram alguns
amigos e parentes, pegaram meu caixão, colocaram no carro fúnebre e seguimos
para o cemitério. Confesso que foi uma viagem das mais tenebrosas que alguém
pode dizer que já fez!
Imaginei
logo que merda seria quando fosse a hora de enterrar-me. Lá chegando, tornaram
a pegar o meu caixão e ouvi alguém dizer: ele vai ficar em uma gaveta na
primeira ala. Meu Deus, isso para mim foi uma tragédia, pois sofro de claustrofobia
e iria enlouquecer e morrer umas três vezes mais!
Foi
aí que o vagalume do cinema, acendeu a lanterna e disse: Senhor, acorde que o
filme já terminou e todos já saíram do cinema. Essa foi a última sessão e o
senhor está dormindo desde a sessão passada!
Acordei
assustado, quase dava um beijo no vagalume por ter me despertado desse
pesadelo, levantei-me agradeci e me lembrei que tinha ido ao cinema ver o filme
“A morte mora ao lado!”
Passei
o maior sufoco e juro por Deus que: PREFIRO NÃO SEJA ASSIM!
*Escritor-Membro
da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário