Antonio
Nunes de Souza*
Sentada
em frente a penteadeira do seu quarto, onde em cima estavam uns perfumes, batom
e esmaltes de segunda classe, uma escova de pentear e mais algumas bobagens
referentes as arrumações das mulheres. Era quatro horas da manhã, hora em que a
casa de Janaína fechava, servidora de moças para relações sexuais!
Enfraquecida,
as lágrimas desciam pela sua face, dores no peito, tosse constante e ainda com
o corpo febril. Mas, pelas normas da casa, tinham que trabalhar diariamente e,
se virar para dar o relativo a diária da casa. Levantou-se tomou um banho bem
quente, tremendo pela frieza ao sair do chuveiro, já que seu corpo febril
sentia os respingos de água, já frios pelo seu corpo. Enxugou-se e sem nem
pestanejar, deitou-se, se cobriu com um velho cobertor e, imediatamente, caiu
no sono, como acontece com pessoas cansadas, enfraquecidas e doentes.
Manhã
seguinte, nem conseguia levantar-se e, suas colegas de infortúnio, prontamente
chamaram o SAMU, que a levou pra um hospital afim de ser medicada. Lá chegando,
depois de uma hora foi atendida, feitos alguns exames básicos de rotina pelo
plantonista, foram solicitados os exames clínicos de praxe e, pelo seu estado,
deixaram-na hospitalizada em observação, sendo receitada com alguns
medicamentos de sustentação e contra a febre que tomava o seu corpo!
Dois
dias depois aparece em seu quarto o Dr. Tarso, pneumologista, com seus exames
em mãos e, sério e atencioso, perguntou sobre seus familiares. Ela que não era
de Salvador, procedente do Amazonas que, tolamente achou que a vida de mulher
fácil” era realmente fácil e, terminou indo ser uma das servidoras de Janaína.
Não sabia nem o paradeiro da família, pois havia mais de 10 anos que não dava
nem recebia notícias. Falou que não tinha parentes, que ele poderia dar os
diagnósticos para ela mesma, já que tinha 28 anos, era maior de idade e
responsável pelos seus atos.
Depois
de ouvir seu relato, virou-se para ela e disse: Infelizmente você está com
tuberculose, tem que fazer um tratamento imediatamente devido ao avanço da
doença e, tenho que transferi-la para um hospital adequado para tal fim.
As
lágrimas brotaram em sua maltratada e sofrida, mas, linda face, chegando a
soluçar dada as péssimas circunstância de sua situação. O médico, muito dócil e
educado, procurou consola-la e disse que tudo daria certo e que ele a ajudaria
e acompanharia o caso no hospital que ela fosse!
Depois
da saído do dr. Tarso, a enfermeira já veio com uma injeção e lhe aplicou,
dando-lhe em seguida uns comprimidos, falando que ainda nesse mesmo dia ela
deveria ser transferida para a Clínica Central de Pneumologia do Estado.
Pegou
seu celular e ligou para Janaína falando da sua situação complicada, e esta se
prontificou a ajudá-la dentro do possível. Pediu para que arrumasse algumas
coisas básicas e permitidas na clínica e que, no dia seguinte, ligaria dando o
novo endereço para que fossem levadas!
Como
previsto, na manhã seguinte veio o Dr. Tarso e falou que ela estava indo para a
Uma Clínica Especializada, o diretor era seu primo e, havia solicitado um
tratamento especial para ela. Sorriu de agradecimento, despediu-se dele e,
alguns minutos depois, enfermeiros vieram com uma maca e a levaram para uma
ambulância, que a transportou para sua nova hospedaria.
Lá
chegando o Dr. Lúcio foi vê-la, se apresentou e falou que seu primo Tarso havia
pedido uma atenção especial. Então, atendendo seu parente e colega, conseguiu
um apartamento individual para ela, com todas as necessidades de um paciente em
recuperação, tendo uma maior liberdade que, nas enfermarias e quartos de duas
ou três pessoas.
Isso
lhe deu uma felicidade tão grande que logo se preocupou em agradecer a Tarso
quando se encontrassem. Mas, na verdade, imaginava que talvez nem mais tivesse
oportunidade de encontra-lo novamente.
Pois,
foi um ledo engano esse pensamento, pois, no dia seguinte, sem que fosse por
compromisso médico, Tarso pareceu para visita-la e saber se lhe faltava algo.
Ela sorriu de felicidade, agradeceu e, já sem cerimônia pediu que ele sempre
aparecesse, pois sentia falta da sua gentil e bondosa presença como um anjo
salvador! Ele riu bastante, se despediu e fez a promessa que assim que
possível, voltaria a aparecer.
Duas
horas depois, vieram avisar que tinha uma visita para ela. Ficou perplexa, pois
não conhecia ninguém, mas logo soube que era uma das meninas sua colega que
estava trazendo as coisa que ela havia solicitado. Conversaram, ela contou
sobre a sua doença, as gentilezas do dr. Tarso e o seu primo, pois, graças a
isso estava sendo tratada como se fosse uma Clínica Particular, internada em
apartamento com todas as necessidades básicas, inclusive ar condicionado,
televisão e uma banheira maravilhosa para que se banhasse dignamente!
A
amiga foi embora deixando um romance que as colegas se cotizaram e compraram,
para que, com a leitura, as horas passassem mais rápido.
Quatro
dias depois, estava ela no jardim com a enfermeira tomando um pouco de sol,
quando aparece Tarso para visitá-la inesperadamente.
Ela
ficou numa alegria profunda, começaram a conversar como se fossem amigos de
muito tempo, ele já tinha olhado a sua ficha e visto as melhoras ocorridas, a
medicação estava dentro do padrão, etc., isso deu a ela uma tranquilidade e
alegria, pois ele disse que, dentro de mais um mês ela poderia voltar para casa
e continuar tomando a medicação. Mas, como dizer para ele que era uma
prostituta sem moradia certa e que, jamais teria condições de morando na casa
de Janaína, continuar fazendo tratamento. Nada quis dizer, deixando para outra
oportunidade!
Se
alimentando bem, remédios adequados, tratamento de primeira classe pelas
recomendações recebidas, foi engordando um pouco, suas feições ficando mais
viçosas, sua beleza se estampando cada vez mais, seu corpo tornando a mostrar
as curvas bem talhadas do passado, voltando a ser com a aparência bem mais
jovem e, inegavelmente, apresentando-se como uma mulher charmosa e bonita.
Novamente
sem mais ter esperanças, pois já se passaram 18 dias, aparece Tarso com umas flores
para, novamente, visitá-la. Mas, desta feita, quem ficou sobressaltado foi ele,
ao vê-la linda, feliz, com um sorriso largo, cabelos escovados e os lábios
provocantes com o efeito de um batom trazida pelas meninas, quando iam
visita-la.
Ele
chamou o seu primo e falou algo em seu ouvido, que ela veio a saber logo em
seguida. Ele solicitou e perguntou se era possível convidá-la para uma pequeno
passei de carro pela orla. Pedido consentido (facilidades de primos), então,
falou pra ela por um vestido, mesmo simples pois não saltariam, apenas admirar
a paisagem e respirar um ar salitroso!
Ela
ficou eletrizada e feliz, saiu com a enfermeira, se arrumou as pressas e foram
até o carro, ela entrando e sentindo-se abençoada por Deus em encontrar uma pessoa
que, na sua hora de maior desespero, apareceu em seu socorro.
Ela,
tímida e muito feliz ao mesmo tempo, aproveitou a oportunidade e meio chorosa e
com vergonha, começou a contar a parte
trágica da sua vida, dizer que morava em uma casa de prostituição e que daqui a
alguns dias estaria numa situação bastante complicada para dar continuidade ao
seu tratamento.
Sem
que ela esperasse, Tarso a abraçou e sorrindo disse que já havia procurado
saber da sua vida, descobriu todas essas coisas, mas, como tinha gostado dela
bastante, estava querendo que ela fosse complementar seu tratamento em seu
apartamento, não só ele, como seu primo estariam lhe dando toda assistência e,
caso ela aceitasse, ficaria morando lá e, quem sabe, talvez até constituíssem uma
família.
Ela
sorria e, ao mesmo tempo chorava de felicidade, de Deus ter colocado um homem
bom, independente, jovem com apenas 38 anos, para se preocupar pela sua
felicidade, sem os preconceitos normais e atuais da sociedade!
Encurtando
esse romance, Isabel Cristina e Tarso foram viver juntos, ela voltou a ser a
mulher linda e saudável de antes, já tiveram um filho que foi batizado com o
nome do primo protetor, e nesse momento, estão no aeroporto dois de Julho, ou
Luiz Eduardo Magalhães, indo para Manaus, em busca de notícias de seus pais, um
vez que era filha única!
Minha
preocupação em escrever sobre a vida de Isabel Cristina e Tarso foi para, mais
uma vez demonstrar que Deus escreve sempre certo e, curiosamente, por linhas
tortas.
Muitas
vezes caímos em armadilhas na vida, e pensamos que tudo está perdido. Mas,
tenha fé, perseverança, lute, ore e, pacientemente espere que as soluções vão
aparecer a contento, lhe mostrando que: O DESTINO A DEUS PERTENCE!
*Escritos-Membro
da Academia Grapiúna de Letras- AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteigablogspot.com
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