sexta-feira, 24 de novembro de 2017

O DIA QUE PAPAI NOEL CHOROU!

Antonio Nunes de Souza*

Poderia enfeitar bastante essa “estória”, que me ocorreu há alguma dezenas de anos, talvez duas, quando aproveitando-me do meu tipo físico, meia altura, gordo, barba e cabelos longos completamente brancos que, mesmo trabalhando de alfaiate, todos os anos era convidado e bem pago para ser o Papai Noel do melhor shopping Center da cidade.
Era um trabalho extra que me enchia de orgulho, estimulava minha vida, dando-me ânimo e alegria durante o mês de dezembro, sentado num pomposo trono, cercado de garotas vestidas de vermelho e branco com o gorro de “papai Noel”, além de uma imensa árvore com milhares de presentes pendurados e luzes multe coloridas piscando intermitentemente. Sentia-me numa dimensão superior e muito mais perto de Deus!

Nesse ano, que, mesmo me marcando pelo resto da vida, não me recordo exatamente qual foi.
Estava, já no final do expediente, recebendo pais, mães, avós, babás, etc., tirando fotos e colocando suas crianças em meu colo para fazer, nos meus ouvido, os pedidos dos seus desejados e sonhados presentes.
Foi quando um garoto de aproximadamente uns sete anos, aproximou-se de mim, ainda seguro pela mão do seu sorridente pai e me disse, bem claramente:
-“Papai Noel eu sei que o senhor é bom e eu não quero nenhum presente, mas gostaria que trouxesse de volta a minha mãe que Deus levou ela para o céu. Meu pai disse que ela foi para um hospital e lá não tinha médico e ela morreu sem ser atendida. Prometi ao meu pai que se o senhor trouxer ela de volta, eu vou estudar para ser médico e cuidar dela! Por favor traga mamãe de volta!
Essas palavras me deixaram arrasado, as lágrimas brotaram em meus olhos, ao ver aquela grande esperança no seu lindo rostinho, contando comigo para atender algo completamente impossível para mim.
Eu, sem ter o que responder, apenas o abracei bem apertado, disse que ia ver a possibilidade, mas, que seria difícil tirar ela das mãos de Deus, e que ela estava de lá de cima cuidando dele.
Esse fato me deixou completamente triste, ao lembrar que, em nosso país, casos como esse ocorre cotidianamente, graças aos canalhas políticos.
Como já estava findando meu expediente, ainda com meu olhos lacrimejantes, fui trocar de roupa e voltei para casa. Porém, antes de sair do shopping, fui até o departamento pessoal e falei, enfaticamente: Coloquem um substituto em meu lugar amanhã, pois, nunca mais farei a representação de Papai Noel. Ficaram sem entender, mas, aceitaram a minha demissão.

Na noite de Natal, lembrei-me daquela criança que, provavelmente muito alegre, contava que eu lhe presenciasse com o pedido. E essa foi a grande noite que Papai Noel chorou!

*Escritor-Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com

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