Antonio
Nunes de Souza*
Poderia
enfeitar bastante essa “estória”, que me ocorreu há alguma dezenas de anos,
talvez duas, quando aproveitando-me do meu tipo físico, meia altura, gordo,
barba e cabelos longos completamente brancos que, mesmo trabalhando de
alfaiate, todos os anos era convidado e bem pago para ser o Papai Noel do
melhor shopping Center da cidade.
Era
um trabalho extra que me enchia de orgulho, estimulava minha vida, dando-me
ânimo e alegria durante o mês de dezembro, sentado num pomposo trono, cercado
de garotas vestidas de vermelho e branco com o gorro de “papai Noel”, além de
uma imensa árvore com milhares de presentes pendurados e luzes multe coloridas
piscando intermitentemente. Sentia-me numa dimensão superior e muito mais perto
de Deus!
Nesse
ano, que, mesmo me marcando pelo resto da vida, não me recordo exatamente qual
foi.
Estava,
já no final do expediente, recebendo pais, mães, avós, babás, etc., tirando
fotos e colocando suas crianças em meu colo para fazer, nos meus ouvido, os
pedidos dos seus desejados e sonhados presentes.
Foi
quando um garoto de aproximadamente uns sete anos, aproximou-se de mim, ainda
seguro pela mão do seu sorridente pai e me disse, bem claramente:
-“Papai
Noel eu sei que o senhor é bom e eu não quero nenhum presente, mas gostaria que
trouxesse de volta a minha mãe que Deus levou ela para o céu. Meu pai disse que
ela foi para um hospital e lá não tinha médico e ela morreu sem ser atendida.
Prometi ao meu pai que se o senhor trouxer ela de volta, eu vou estudar para
ser médico e cuidar dela! Por favor traga mamãe de volta!
Essas
palavras me deixaram arrasado, as lágrimas brotaram em meus olhos, ao ver
aquela grande esperança no seu lindo rostinho, contando comigo para atender
algo completamente impossível para mim.
Eu,
sem ter o que responder, apenas o abracei bem apertado, disse que ia ver a
possibilidade, mas, que seria difícil tirar ela das mãos de Deus, e que ela
estava de lá de cima cuidando dele.
Esse
fato me deixou completamente triste, ao lembrar que, em nosso país, casos como
esse ocorre cotidianamente, graças aos canalhas políticos.
Como
já estava findando meu expediente, ainda com meu olhos lacrimejantes, fui
trocar de roupa e voltei para casa. Porém, antes de sair do shopping, fui até o
departamento pessoal e falei, enfaticamente: Coloquem um substituto em meu lugar
amanhã, pois, nunca mais farei a representação de Papai Noel. Ficaram sem
entender, mas, aceitaram a minha demissão.
Na
noite de Natal, lembrei-me daquela criança que, provavelmente muito alegre,
contava que eu lhe presenciasse com o pedido. E essa foi a grande noite que
Papai Noel chorou!
*Escritor-Membro
da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com
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