Antonio Nunes de Souza*
Decidi contar minha história para desabafar, e
dizer à todos que também temos os nossos dissabores e grades contratempos, na
trajetória próstata e peniana para nos transformar em vida!
Nasci, como todos os espermatozoides, proveniente
da excitação dos homens, colocando a próstata para trabalhar, que é a nossa mãe
ou produtora, passando a ter moradia o desconfortável saco escrotal, que já tem
como moradores oficiais dois ovos. Vivo relativamente bem, brincando com meus
irmãos, aguardando a oportunidade de ser ejaculado para cumprir a missão
determinada por Deus ou a ciência, que é de atingir o óvulo, transitar pelo
ovário e útero e me desenvolver, transformar-me em um feto, e com alguns dar continuidade
a perpetuação da espécie humana. Um trabalho muito edificante!
Lendo-se essa nossa diretriz de vida, parece que
além de ser uma maravilha, trata-se de algo tranquilo e sem nenhum problema.
Mas, nós que passamos por diversas etapas, enfrentamos situações bastante
chatas, desagradáveis e constrangedoras, muitas vezes, perigosas e suicidas!
Para ilustrar melhor os dissabores que passamos,
contarei algumas passagens que suei frio e escapei apenas por milagre:
Certa feita estava eu nadando e brincando com a
turma, no velho e murcho saco, que é minha moradia, quando sentimos sua
transformação. Começou a ficar menor, mais redondinho, veias e artérias pronunciadas,
que para nós era o aviso que haveria uma relação sexual, e nós deveríamos nos
preparar para sermos expelidos a caminho da procriação. Nos enfileiramos todos,
fizemos aquecimento, e abrimos o maior sorriso, cada um na esperança de ser o
mais rápido, alcançando o objetivo de se transformar em um novo ser humano!
Logo em seguida começaram as sacudidelas, aquele
vai e vem incessante, nos desequilibrando e embolando a ordem de saída já
estabelecida, deixando-me lá na retaguarda. Quando começamos a sentir maior
rapidez nos movimentos, e iniciar a tremedeira peculiar, colocamos as cabeças
pra frente e os rabinhos pra trás e, como um tiro, saímos voando rumo ao além,
já que se tratava de uma sacana masturbação. Eu, como na desarrumação inicial
fiquei para trás, escapei por um triz, me segurando em um vaso sanguíneo. Mas,
muitos dos meus melhores amigos, morreram afogados, descendo pelo ralo do
banheiro, sem nem mesmo entender o que havia acontecido! Alguns ainda ficaram
presos na mão, mas o cara sacudiu e foram voar na parede do banheiro,
escorrendo entre o limo e as lágrimas de tristeza, rumo a uma morte nada
gloriosa!
Depois dessa experiência nova para mim, pois
existe uma reciclagem constante na população escrotal, já que cada vez que acontece
excitação, começa uma produção em massa, e sempre aparecem os afobados, tirados
ao nadador Gustavo Borges, que querem ser os primeiros a sair e a chegar. Eu,
já experto, passei a ficar na última fila para evitar os acidentes de percursos,
que somos passivos eventualmente. Ontem mesmo, voltamos a sentir os sintomas
peculiares de uma relação sexual, e a preparação foi rápida e imediata. Eu me
arrumei no fundo, mas, com as sacudidelas, fui jogado para o meio. Aí, o homem
tremeu forte e mandou ver. Saiu todo mundo na maior disparada, mas quando eu
cheguei no meio do caminho, senti um mau cheiro danado, finquei o rabinho na
lateral e comecei a nadar contra aquela gosmenta correnteza, conseguindo voltar
para o meu lar. Mas, infelizmente, milhares de amigos meus morreram atolados na
merda. Tratava-se de uma relação anal, tão apreciada ultimamente para sentir
prazer e, ao mesmo tempo, praticar o nosso holocausto fecal!
Por essas razões e outras que não citarei agora,
confesso que nossa vida não é tão boa como pensam muitos. E, mesmo daqui de
dentro, ouço falar que a vida é um saco, e saco por saco, prefiro continuar
aqui, ficando sempre nas últimas filas, porém, bastante preocupado de me
pegarem dormindo e eu terminar morrendo numa mancha de lençol, em decorrência
de uma muito sem graça polução noturna!
Para os poucos informados, “polução noturna” e o
homem gosar dormido, sonhando praticando sexo!
*Escritor, Historiador, Cronista, Poeta e um dos
Membros Fundadores da Academia Grapiúna de Letras! r
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