segunda-feira, 11 de setembro de 2023

OS SOFRIMENTOS CONSTANTES DE UM ESPERMATOZOIDE! (Clique e leia)

 

                                                                                   Antonio Nunes de Souza*

Decidi contar minha história para desabafar, e dizer à todos que também temos os nossos dissabores e grades contratempos, na trajetória próstata e peniana para nos transformar em vida!

Nasci, como todos os espermatozoides, proveniente da excitação dos homens, colocando a próstata para trabalhar, que é a nossa mãe ou produtora, passando a ter moradia o desconfortável saco escrotal, que já tem como moradores oficiais dois ovos. Vivo relativamente bem, brincando com meus irmãos, aguardando a oportunidade de ser ejaculado para cumprir a missão determinada por Deus ou a ciência, que é de atingir o óvulo, transitar pelo ovário e útero e me desenvolver, transformar-me em um feto, e com alguns dar continuidade a perpetuação da espécie humana. Um trabalho muito edificante!

Lendo-se essa nossa diretriz de vida, parece que além de ser uma maravilha, trata-se de algo tranquilo e sem nenhum problema. Mas, nós que passamos por diversas etapas, enfrentamos situações bastante chatas, desagradáveis e constrangedoras, muitas vezes, perigosas e suicidas!

Para ilustrar melhor os dissabores que passamos, contarei algumas passagens que suei frio e escapei apenas por milagre:

Certa feita estava eu nadando e brincando com a turma, no velho e murcho saco, que é minha moradia, quando sentimos sua transformação. Começou a ficar menor, mais redondinho, veias e artérias pronunciadas, que para nós era o aviso que haveria uma relação sexual, e nós deveríamos nos preparar para sermos expelidos a caminho da procriação. Nos enfileiramos todos, fizemos aquecimento, e abrimos o maior sorriso, cada um na esperança de ser o mais rápido, alcançando o objetivo de se transformar em um novo ser humano!

Logo em seguida começaram as sacudidelas, aquele vai e vem incessante, nos desequilibrando e embolando a ordem de saída já estabelecida, deixando-me lá na retaguarda. Quando começamos a sentir maior rapidez nos movimentos, e iniciar a tremedeira peculiar, colocamos as cabeças pra frente e os rabinhos pra trás e, como um tiro, saímos voando rumo ao além, já que se tratava de uma sacana masturbação. Eu, como na desarrumação inicial fiquei para trás, escapei por um triz, me segurando em um vaso sanguíneo. Mas, muitos dos meus melhores amigos, morreram afogados, descendo pelo ralo do banheiro, sem nem mesmo entender o que havia acontecido! Alguns ainda ficaram presos na mão, mas o cara sacudiu e foram voar na parede do banheiro, escorrendo entre o limo e as lágrimas de tristeza, rumo a uma morte nada gloriosa!

Depois dessa experiência nova para mim, pois existe uma reciclagem constante na população escrotal, já que cada vez que acontece excitação, começa uma produção em massa, e sempre aparecem os afobados, tirados ao nadador Gustavo Borges, que querem ser os primeiros a sair e a chegar. Eu, já experto, passei a ficar na última fila para evitar os acidentes de percursos, que somos passivos eventualmente. Ontem mesmo, voltamos a sentir os sintomas peculiares de uma relação sexual, e a preparação foi rápida e imediata. Eu me arrumei no fundo, mas, com as sacudidelas, fui jogado para o meio. Aí, o homem tremeu forte e mandou ver. Saiu todo mundo na maior disparada, mas quando eu cheguei no meio do caminho, senti um mau cheiro danado, finquei o rabinho na lateral e comecei a nadar contra aquela gosmenta correnteza, conseguindo voltar para o meu lar. Mas, infelizmente, milhares de amigos meus morreram atolados na merda. Tratava-se de uma relação anal, tão apreciada ultimamente para sentir prazer e, ao mesmo tempo, praticar o nosso holocausto fecal!

Por essas razões e outras que não citarei agora, confesso que nossa vida não é tão boa como pensam muitos. E, mesmo daqui de dentro, ouço falar que a vida é um saco, e saco por saco, prefiro continuar aqui, ficando sempre nas últimas filas, porém, bastante preocupado de me pegarem dormindo e eu terminar morrendo numa mancha de lençol, em decorrência de uma muito sem graça polução noturna!

Para os poucos informados, “polução noturna” e o homem gosar dormido, sonhando praticando sexo!

*Escritor, Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros Fundadores da Academia Grapiúna de Letras!                    r

 

 

 

 

 

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