Antonio Nunes de Souza*
No
auge dos meus 35 anos, jovem, bem apessoado, professor de inglês em um
instituto de franquia internacional, bem remunerado pelas minhas qualidades.
Formei-me em Nova Yorque, onde passei seis anos com uns tios moradores de lá e,
sem dar folga, fiz dezenas de cursos paralelos que, seguramente, falo e escrevo
tão bem como qualquer americano de boa formação. E, como jovem, tornei-me um
craque em todas as expressões idiomáticas usadas em geral pelo povo, principalmente
a juventude. Esse é o meu perfil que além de solteiro sou, modéstia a parte, um
cara massa real, simpático e boa companhia. Coisa rara nos dias de hoje!
Inteligentemente,
com as facilidades atuais, cheguei a correta conclusão que casar era algo que
não fazia parte de meus planos, já que não desejava, em nenhuma hipótese, ter
alguém ao meu lado, no mesmo teto, querendo me manobrar, me policiando e
tendo-me como sua propriedade. Tanto eu não desejava, como também nunca tive
temperamento para proceder dessa forma, mesmo nas ocasiões que surgiram algumas
paixões desenfreadas. Mas, depois de algum tempo e as tesões se acalmarem, essa
euforia ia por água a baixo! Mesmo com esses predicados excelentes, minha
classificação masculina era puramente de “ficante”. Mas, de alta qualidade!
Porém,
sempre acontece algo inesperado que, com uma força estranha, quebra essas
nossas regras comportamentais e nos faz dar uma guinada de trezentos e sessenta
graus, caindo na rotina costumeira dos seres humanos: Casar e ter uma família!
E
foi o que me aconteceu quando conheci Dora, uma aluna do curso básico de
inglês, com dezessete anos, metade da minha idade, porém com um corpo de
mulher, que parecia ser uns anos mais pela sua formação corpórea ser avantajada
e bem distribuída. Tinha uma carinha angelical, com seus dentinhos um pouco
proeminentes que lhe dava uma meiguice e a aparência de um lindo e doce
coelhinho da páscoa!
Começamos
a namorar maravilhosamente, desfrutando de todos os momentos de folga para
nossos prazeres, sua família era do interior e eu não conhecia ninguém, apenas
ela que morava na capital em um pensionato bom e respeitável. Então, resolvemos
passar um fim de semana na sua cidade, S. Amaro, recôncavo baiano, onde residam
seus avôs e sua mãe que era psicóloga e professora em uma faculdade particular.
Quando chegamos, parei o carro e Dora ficou dentro, pois nossa ida era uma
surpresa e ninguém me conhecia. Toquei a campainha e apareceu uma mulher
lindíssima, que logo perguntei se era irmã de Dora, não só pela semelhança como
pela jovialidade. Ela sorriu, quase gargalhando e me respondeu: Eu sou a mãe
dela! Fui eu desta feita de deu uma grande risada e me assustei e me encantei
por vê-la tão jovem, ser mãe de um mulherão como minha namorada. Ela, percebendo
meu espanto, claramente, como fazem as pessoas inteligentes, disse logo que,
sua filhinha era fruto de um amor na juventude, que lhe trouxe problemas, mas,
que foi uma benção divina!
A
essa altura já não havia mais necessidades de outras surpresas, fui ao carro,
chamei Dora e ela me apresentou a sua mãe, entramos, conheci os seus avôs,
também ainda jovens, pois, em seguida, eu soube que a dra Alice tinha apenas
trinta e quatro anos e seus relacionamentos com sua filha era como duas irmãs,
partilhando nos mesmo lazeres e prazeres!
O
fato é que, quando Deus facilita, o Diabo entra no meio e coloca minhocas em
nossas cabeças, fazendo acontecer os mais mirabolantes pensamentos e atitudes.
Na noite do sábado, fomos a uma danceteria e, ao dançar com Alice, senti que
ela me apertava e colava o seu corpo ao meu, não sei se era por distração ou
algo proposital, mas, que me deu arrepios e desejos, fazendo com que me
excitasse, e ela deveria estar sentindo em suas coxas o volume do meu sexo
completamente endurecido. Rimos, comemos, bebemos, dançamos, conversamos e,
sempre que olhava para Alice, sentia em seus olhos uma sensação de vergonha e
culpa, mas, ao mesmo tempo, de desejo e encanto por minha pessoa. Se prestassem
atenção aos meus gestos e olhares, certamente percebiam que estava havendo algo
estranho no ar. Dora, com simplicidade nada via, porém, estava acabando de
começar uma nova trilha em nossas vidas!
Voltamos
no domingo à tarde trazendo fritadas de mapé, sururu e maniçoba, iguarias
típicas da cidade, que eu acabara de conhecer. Porém, por minha culpa ou um
esfriamento normal dos costumes atuais, nosso namoro terminou, continuamos bons
amigos, mas, como não deixava de me lembrar de Alice, resolvi telefonar para
ela e convidá-la para passar um fim de semana em Salvador, já que ela era
solteira, sem compromissos e, seguramente, minha visita tinha deixado marcas em
seus sentimentos. Ela aceitou, veio, e para encurtar a conversa, nos casamos,
temos dois filhos lindos (um casal), Dora está terminando a faculdade, mora
conosco sem nenhum preconceito, somos todos felizes. Eu quebrei minhas tolas
regras, Dora conheceu e curtiu um amor de juventude que sempre acontece entre
professores e alunos, Alice que era mãe solteira conheceu o seu amor
verdadeiro, seus avôs alegres e espantados, mas, encararam as “coisas da vida”
numa boa!
Eu
penso sempre: Será que foi Deus que escreveu o certo, através de linhas tortas?
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros Fundadores da Academia Grapiúna
de Letras!
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