terça-feira, 19 de setembro de 2023

A PREMONIÇÃO DA MINHA MORTE! (Clique e leia)

 

Antonio Nunes de Souza*

Como acontece com todos os viventes da terra, e comigo não seria diferente, dei uma “zinguizira” repentina, e morri tranquilamente dormindo como um passarinho, como dizem popularmente. Eu acho um erro, pois, passarinho morre de pedrada de estilingue ou indigestão de alpiste. Mas, para amenizar as causas, colocaram no meu laudo como se fosse infarto do miocárdio. Porque descrever e detalhar de que realmente velho morre, daria uma puta lista de grandes e pequenas doenças. Então... o infarto é sempre bem recebido pelos amigos e parentes afastados, pois, os que estão junto é que sabe o trabalho danado que o cara estava dando!

Como é costumeiro, algumas choradeiras de verdade, umas caras tristes fantasiosas, muitos comentários, que eu era bom e outros tantos que era um sacana, porém, todos mostrando solidariedade, mesmo sendo muitas super falsas, coisa comum na nossa hipócrita sociedade. E como providências preliminares, chamaram a mortuária que, imediatamente chegou, trazendo logo um caixão com minha medidas, já ditas pelos parentes, uns caras fortes me pegaram e vestiram um terno, colocaram gravata, me deitaram na urna que seria minha nova morada e, imediatamente, meus parentes começaram a me enfeitar de flores, deixando-me parecendo um jardim em plena primavera! Juro que me senti meio aviadado, mas, como já sabia que isso era comum com todos que embarcam, levei numa boa, sem nada dizer, pois, na verdade, você está totalmente apagado e nada pode falar, porém, ouve os comentários e vê todos ao seu redor. E era isso que eu estava fazendo, vendo quem realmente estava sentido e aqueles que estavam putos, estando ali só por uma questão social. Mas, por azar, o filho da puta do meu vizinho, encostou no caixão e, sem que eu pedisse, pegou em minhas pálpebras e fechou os meus olhos. Lógico que fiquei revoltado pra caralho, mas, que merda eu podia fazer?

A partir dessa hora, passei apenas somente a ouvir as conversas do pessoal que estava e saía, já que sou conhecido e tenho uma gama de bons amigos. Alguns membros da Academia Grapiúna de Letras, que me afastei por ter uma vertente de apoiadores do fascista Bolsonaro, muitos Rotarianos que me consideram muito pelos meus cinquenta e cinco anos de clube, alguns ligados a literatura e poesia, já que também faço parte do Clube do Poeta, Uns donos de jornais, pois, já escrevi para todos, além de muitas outra pessoas representativas da cidade. Me senti feliz, pois, vivo, nem um por cento desses sacanas me visitavam, porém, na minha morte, todos eles vieram se despedir, como se fosse estar conferindo se eu estou embarcando de verdade. Coisas normais da nossa falsa sociedade!

Seguiu a caminha habitual do enterro, eu balançando dentro do caixão, carregado por meus filhos e amigos e, como num passe de mágica, me colocaram numa gaveta, fazendo-me sentir um farrapo humano expulso da vida numa morte sem nenhuma glória. Mas, no íntimo, sabia que tinha vivido uma gloriosa vida!

Todos se foram, provavelmente indo para suas casas e trabalho, já que não ouvia mais ninguém. Até que comecei a ouvir uma vozinha distante dizendo: Atenção putada, acaba de chegar aquele escritor de crônicas gozador, que pela sua inteligência, deve ter uma carne macia e gostosa. Preparem-se todos de garfo e faca, que será um puto banquete literário, com festa e alegria até o sol raiar!

Logo imaginei que aquela observação era do rei dos micróbios, anunciando a minha “deliciosa” chegada. Para mim não constituía novidades, pois, sempre soube que esse é o nosso fim. Os tolos é que pensam que existe céu, não percebendo que o céu é onde atualmente estamos desfrutando a vida, renascendo todos os dias com paz e saúde. E o idiota inferno também é aqui, graças as maldades humanas. Pois, assim como temos pessoas boas, temos também milhões de outras aproveitadoras, perversas, que se aproveitam da tolice e ignorância alheia, manipulando-as com grandes mentiras, quer seja nas religiões, comércios e sociedade!

Obviamente, não vou voltar para contar nada, porque não fui para lugar nenhum, a não ser para a barriga dos esfomeados micro organismos. Minha alma ou espírito? Eles comeram também, gulosamente, como sobremesa!

*Escritor, Historiador, Cronista, Poeta e um dos Fundadores da Academia Grapiúna de Letras!

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