sábado, 8 de janeiro de 2022

LEMBRANÇAS DO CARNAVAL DA BAHIA!

 Antonio Nunes de Souza*

Você quer água? Tá com sede?

Olha, olha, olha a água mineral! Olha, olha, olha a água mineral!

Em 2018 ao ouvi a Timbalada começar a tocar e cantar essa música, fiquei toda arrepiada, comecei a pular, gritar e cantar o refrão, parecendo que o demônio tinha se apossado de mim, já que a emoção de ouvir qualquer banda baiana, me tira do sério, me deixando completamente fora de mim!

Aliás, essa sensação era sentida por toda multidão que acompanhava o bloco, vestida com lindos abadás coloridos, sendo uns mais decotados que outros, deixando aparecer as partes mais sensuais possíveis, que serviam para aliviar o calor e também chamar a atenção para as eventuais agarrações carnavalescas! Lógico que procurei dar uma boa cortada na blusa, para mostrar os meus volumosos e duros seios, na certeza que essa minha parte do corpo, além de provocante, é um verdadeiro chamariz de abraços e algumas mãos bobas. Mas, carnaval é carnaval, e tudo isso faz parte daqueles dias do ano que mais nos liberamos e esquecemos alguns conceitos e preconceitos, nos dedicando as luxúrias e aos prazeres!

Sem que eu esperasse, senti aqueles braços fortes em volta da minha cintura, puxando-me para o meio e, ao mesmo tempo, como um relâmpago, me tascou um beijo na boca que, mesmo sem saber de quem se tratava, retribuí as linguadas e as esfregações, deixando para depois saber se estava ou não fazendo um bom negócio! Pensei rápido imaginando o seguinte: Se for um cara legal não vou largar tão cedo, mas, se não for, saio de baixo e faz de conta que foi minha caridade baiana no carnaval!

Depois de um beijo demorado, muitos empurrões dentro e fora do ritmo, o cara se afastou um pouco e pude ver que, embora ele não fosse essa beleza toda, agradava no geral para que pudéssemos nos divertir, pelo menos temporariamente, até aparecer coisa melhor. Sabe como é: no começo pegamos o que aparece, depois passamos a selecionar, e no final pedimos a Deus que apareça qualquer um. O importante é não terminar a noite no 0X0. Pois, carnaval foi criado para exatamente possamos fugir dos comportamentos usuais, e dar vazão aos nossos instintos, colocando a culpa nessa festa sodomizada!

Não demorou muito, o cara que nem seu nome disse, falou que ia buscar uma cerveja e evaporou na multidão, deixando-me livre para que eu pudesse azarar e ser azarada sem limitações. Olhei para os lados e minhas amigas já estavam acompanhadas, brincando, dançando e os beijos rolavam aos montes, entre risos e abraços! Curiosamente, dentro do bloco parecia uma demonstração de respiração boca/boca, só que os participantes estavam mais vivos do que nunca, e só se largavam para tomar um gole de cerveja ou capeta, e voltarem aos beijos babados e molhados, animados pelo enlouquecido batuque de Carlinhos Brawn e sua maravilhosa banda!

Logo passou um cara louro de olhos azuis, bem branquelo com as bochechas vermelhas, usando sandálias e meias soquetes que, por ser tão desajeitado e fora do ritmo, notava-se logo que era um gringo turista. Mas, com todos esses pormenores horríveis, o cara era um gato pra ninguém botar defeito. Ele veio em minha direção, abriu os braços e eu que não sou besta, agarrei em sua cintura e começamos a pular! Enquanto eu cantava os pedaços das músicas que havia aprendido, ele somente dava gritos e sorria, pois, não falava merda nenhuma de português!

-Você é estrangeiro?

-No fala brasilêro. Sê American!

-Ah! Sim Yes! Qual o seu nome, name?

-Peter Kenneth!

-My name is Aloysa. I know to speak English little!

-Ok! My Love!

Dei uma risada pelo modo engraçado que ele falou, continuando pulando agarradinhos, acompanhando o ritmo e os passos do bloco, que seguia no circuito do Farol para Ondina!

Como pintou um clima gostoso entre nós, ficamos juntos todo percurso, sempre aproveitando para umas boas pegadas, pois, o gringo embora não soubesse dançar o Axé, de sacanagem ele entendia muito bem por ser uma linguagem internacional, que todo mundo sabe fazer sem precisar de professores. Quando dei por mim já estávamos no fim do circuito. A Timbalada parou e quando olhei em volta, não vi nenhuma das minhas amigas, ficando apenas eu e Peter. De momento não me preocupei, mas, quando me lembrei que tinha deixado a bolsa em casa por causa de roubos, não tinha a chave e nem tinha anotado o endereço do AP que alugamos para o carnaval. Tudo estava com minhas três amigas de Sampa. Fiquei em pânico sem saber o que fazer. Peter não falava nada, somente sorria e me dava cada beijo se esfregando super tesudo, que me deixava excitada e querendo mais!

Procurei as meninas, mas, nada de encontrar ninguém! Creio que cada uma seguiu a sua vida e direção, já que a independência é uma tônica entre nós. Nada de controles e policiamentos, pois, somos maiores e independentes, sendo nossos atos de nossa própria responsabilidade. Senti que Peter estava com vontade de me levar para seu hotel e, como tinha rolado uma química legal, resolvi que ficaria com ele!

 Quatro da manhã, tomamos um táxi e fomos para o Hotel, subimos para o quarto e não deu outra: transamos até adormecer, pelos gozos e pelo cansaço!

Acordamos quase meio dia, e meio envergonhada, fiz uma ligação do hotel para o celular de uma das meninas, que atendeu preocupada, mas, expliquei e pedi o endereço do apartamento. Aí, com palavras e gestos, expliquei a Peter a situação e pedi uma grana para o táxi e ele entendeu e me deu cinquenta reais. Trocamos beijinhos e combinamos nos encontrar logo mais a noite. Mas, não sei se foi por não conhecer a cidade, ou falta de interesse, não encontrei mais com Peter e brinquei o resto do carnaval com muita alegria, sempre aparecendo rapazes que abraçavam, beijavam, pulavam e depois sumiam na multidão, fazendo de qualquer forma, que meu carnaval fosse alegre e feliz!

Voltamos todas comentando as nossa aventuras e desventuras, rindo e se divertindo com as histórias acontecidas!

Passados nove meses, não é que tive um menino lindo de olhos azuis!

Coloquei o nome dele de Peter Brawn em homenagem ao pai e a Timbalada!

Esse ano não vai ter carnaval, mas, no próximo ano eu quero encontrar com um turista argentino ou espanhol, e desejo levar uma menininha para fazer companhia ao meu Peter. E vou botar o nome dela de Daniela Sangalo de La Passion!

Ah! Como é gostoso e maravilhoso esse carnaval da Bahia!

*Escritor – Historiador – Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmkail.com

 

 

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