Antonio Nunes de Souza*
Afonso e Laura formavam um casal lindo e maravilhoso, não precisamente pela beleza física, mas, pelas suas afetividades, felicidades e entendimentos, desde o tempo de namorados! Casados há três anos, ambos com 25 anos e, curiosamente, as mesmas profissões de dentistas. Assim, interessantemente, pareciam que tinham vindo ao mundo, já programados para viverem eternamente juntos e felizes!
Porém, por uma infelicidade, graças a uma deficiência em seu organismo, Laura, mesmo depois de consultar os melhores especialistas, chegou a triste conclusão que, lamentavelmente, jamais poderia ter filhos!
Contudo, depois de conversar e pensar bem, decidiram fazer uma adoção para completar a alegria da casa, e a felicidade deles próprios. E, mais que depressa, se inscreveram no departamento judicial de adoções, ficando cadastrados, aguardando a aprovação e, ao mesmo tempo, fazendo visitações em orfanatos para fazer a escolha!
Afonso desejava um menino e Laura, por ser mulher, queria uma menina. E, com carinhos e beijos, ela conseguiu que sua escolha fosse acatada!
Passados dois meses, Laura deparou com uma menina linda, meiga e, curiosamente, parecida com ela nos traços fisionômicos, tendo também alguns pequenos detalhes da fisionomia de Afonso. Mas, não era um bebê, ela tinha 9 anos! Pensaram, refletiram e, pela grande ansiedade de Laura, resolveram que Dora (esse era o seu nome) seria a filha deles!
Prepararam toda tramitação, papeis prontos, aprovação judicial, oficialização, etc., e foram ao orfanato buscar a menina, que já tinha o seu quarto arrumado todo cor de rosa, a espera da nova e sonhada moradora!
Como tratava-se de uma garota já esperta, combinou-se que eles seriam considerados e chamados de tios, para que não houvesse traumas futuras, para ela estranhar, ou criar “grilos” que eles não eram seus verdadeiros pais!
Para ser menos longo, vou logo contar o que veio pela frente: Dora transformou-se numa moça linda, charmosa e super sedutora e, ironicamente, se apaixonou pelo seu tio, pois, já havia também notado que ele a olhava com um olhar de desejo, mesmo respeitando, não só sua esposa, como também a afinidade filial que tinha com a ela!
Mas, o instinto sexual bateu muito mais forte e, um inesperado dia, aconteceu o que não era jamais para acontecer. Eles se beijaram e transaram loucamente, esquecendo de todos os conceitos e preconceitos culturais, sociais e jurídicos. E isso continuou as escondidas, até que Afonso e Dora resolveram fugir de sua protetora tia, indo refazer a vida em outro estado!
E assim fizeram, aproveitando uma rápida viagem da tia e, praticamente sua mãe, fugiram os dois, deixando uma carta confessando seu grande pecado, e pedindo milhões de perdões pela atitude tomada!
Atualmente, Laura vive nos sofás de psicólogos e analistas, sofredora de uma monstruosa depressão, revoltada porque não deu ouvidos ao marido escolhendo um menino, enquanto Afonso e Dora moram em Belém, com dois filhos, ela terminando o curso de odontologia, para juntos trabalhem na mesma clínica!
Essas ironias da vida e do destino, certamente, não são obras traçadas pelas divindades. Imagino que sejam pelas grandes liberdades existentes entre os seres humanos que, estupidamente, usam e abusam do tão citado e divulgado “livre arbítrio”!
*Escritor- Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário