domingo, 14 de fevereiro de 2016

Não era meu dia!

Antonio Nunes de Souza*

Nunca me considerei um azarão, mas, como sempre tem um dia filho da puta em nossa vida que, caracteriza plenamente, uma carga tão negativa que parece que você, como dizem nas rodas da vida, andou “pisando em rastro de corno”. E, os amigos sacanas, quando dizemos isso eles logo retrucam: Você andou de costas! rs rs rs
Pois, se essa merda dessa exclamação ou ditado vulgar tem alguma veracidade, sem a menor dúvida, ontem à noite andei, dancei e sapateei em “rastro de corno”!
Acordei hoje para ir trabalhar, fui tomar banho não tinha água. Nem a merda da água salobra saía do chuveiro. Tomei um banho de gato, lavando, malmente as partes, escovei os dentes e fui tomar meu café vendo o bom dia Brasil para sair bem informado. Aí, falta energia, não pude fazer meu Nescafé no micro ondas, não vi TV e já saí puto da vida em função desses impasses. Mas, podem crer, a merda estava apenas começando, pois, ao chegar no estacionamento, meu carro estava com um pneu furado. Imagine você, eu já emputecido, sem café da manhã, noticiário, banho decente, de paletó e gravata, num calor da porra, fazer troca de pneu? Olhei para ver se encontrava alguém que me socorresse, mas, nem o merda do flanelinha chato que fica na porta do nosso edifício estava lá!
A contra gosto, tive que fazer eu mesmo, e depois, suado pra caralho, voltei ao apartamento para mudar a camisa, lavar as mãos com água mineral, a única que eu tinha em casa, descer, já mais refeito, pensando em ainda chegar cedo, passar numa lanchonete, tomar um bom café para compensar as ocorrências inesperadas!
Entrei no carro, liguei o ar, coloquei um CD de James Taylor e saí no meu caminho. Porém, quando cheguei na Paralela, havia uma barreira com pneus queimando, milhares de professores com cartazes e faixas nas mãos, dando testa com os policiais e, consequentemente, não deixando ninguém passar. Aquilo para mim, que tinha uma reunião com um cliente especial, que me daria um rendimento maravilhoso, era pior que um chute nos culhões com aqueles sapatos de sapateadores, com bicos de aço! Tentei ligar e, quando olhei, na hora que fui trocar a camisa na saída, me esqueci do celular em casa!
Vendo que não deveria me enervar mais, apenas parar, meditar o que fazer e ver como poderia abrir uma brecha no bloqueio. Chamei um policial, falei da minha urgência e ele me disse que, tranquilamente, dentro de hora estaria tudo resolvido e livre a estrada. Para ele uma hora era ótimo, mas, para mim, era “me foder de pica mole”! (Mais uma citação popular que cabia na situação). Passada uma hora e quinze minutos, com um engarrafamento de quilômetros, começamos a andar. Mas, como o diabo estava solto, uma sacana de uma mulher, talvez nervosa com a situação, deu uma porrada atrás do meu carro, eu bati no fundo do da frente e o cara bateu no seguinte. Deu vontade de dar uma porrada na mulher, pois, a cretina, ainda queria ter razão. E eu, com meu carro espremido entre os dois, sem poder me locomover, pois o cara da frente queria a presença do perito, fiquei numas condições que, não fosse educado e controlado, teria brigado com todos os envolvidos e quem aparecesse. A perícia apareceu vinte minutos depois, fez a ocorrência, a mulher sacana foi considerada culpada e, fomos embora para acertar posteriormente os consertos!
Quando cheguei no meu edifício, consegui uma vaga, parei, saltei e me dirigi ao meu escritório, isso já as dez e quarenta e cinco. Perguntei a minha secretária pelo meu cliente e ela disse que ele havia esperado, porém, depois disse que ia desistir, categoricamente, do negócio, pois, aqueles momentos de espera, deu para ele ter outra ideia e deixar as coisas como estavam em sua empresa! Essa notícia me deixou putíssimo, pois eu ganharia uma nota preta nesse negócio e já estava com a troca do meu apartamento engatilhada!
Àquela altura, já completamente desesperado e enlouquecido, resolvi ir logo a um restaurante, comer algo substancial já como um almoço em vez da café da manhã. Como era sexta feira resolvi comer comida baiana, ou seja uma moqueca de peixe com camarões, um pirão e farofa com dendê. Cervejinha gelada, uns marisco como petiscos até que a moqueca ficasse pronta. Pelo menos me alimentaria bem, pois, iria para casa passar o resto do dia, descansando das merdas que aconteceram. Quando cheguei no carro encontrei uma multa no para-brisa, pois, na agonia, estacionei num local destinado a carga e descarga. O sangue me voltou a subir à cabeça, cheguei em casa, fui ver um filme. E a barriga, depois de algum tempo, começou a fazer um ruído estranho, terminei cochilando e, quando menos espero, acordei com uma puta dor de barriga, saí correndo para o sanitário quase me cagando todo e, assim que abaixei a bermuda, a merda espirrou como se fosse um “lava jato”, aquilo fedendo e de cor amarelada, com a predominância do azeite de dendê.
Já passa de duas da manhã e já fui ao banheiro uma porrada de vezes, sendo que a grande maioria, apenas sai alguma bobagem junto com uns peitos fedorentos! Pedi ao porteiro do prédio para comprar umas águas de coco, um remédio, pensando que, sinramente, hoje não era  meu dia!
Será que foi um dia de azar ou, verdadeiramente, “eu pisei num rastro de corno?”

*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com

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