Antonio Nunes de Souza*
Tem
certas coisas, que somente o tempo e a idade, nos encorajam para enfrentar de
cara, tudo e todos, colocando pra fora nossos segredos, escondidos hábitos e
desejos, opções sexuais e, aproveitar também no mesmo embalo, dizer como me
diverti sigilosamente e como sofri amargamente as claras!
Meu
nome é Ana Júlia, arquiteta por formação, especializada em decorações com três
certificados de cursos e seminários em outros países e outros tantos no Brasil.
Estou dizendo isso para que vocês saibam, que meu grito de independência, agora
que estou fazendo cinquenta anos, não é uma frustração de alguém comum. Sou
especial, bonita, tenho uma vida saudável, bem remunerada e, somente esse
segredo, que carrego há muitos anos, sempre me atormenta um pouco, ter que
viver uma vida dupla que todos desconhecem!
O
meu brutal segredo é que sou LÉSBICA desde criança, pois, ainda menininha, já
gostava de apalpar e me esfregar com minhas amiguinhas, trocando e dando meus
brinquedos e bonecas por uns divertidos e bons momentos de prazer infantil ou juvenil.
Descoberto por minha mãe, envergonhada ela resolveu morar na capital e lutar
para que eu mudasse meus desejos sexuais, entrando na normalidade ditada, na
época, pela sociedade!
E,
com a forçação e ajuda dela, passei a ter um comportamento de uma moça padrão
no meu bairro e na faculdade, até transando com alguns rapazes (meu Deus, que
horror!), porém, fazendo algumas viagens fora para curtir o que realmente me
satisfazia, sempre usando garotas de programas, pois, acabava a transa, era só
pagar e cada um ia para seu lado sem saber nem os nomes. Depois, voltava para
casa e continuava minha vida estritamente feminina, conservando meu super
segredo.
Imagine
vocês que cheguei até a casar para alegrar minha mãe, mas, sinceramente, não
consegui aguentar um homem encima de mim por mais de um ano e meio. Terminei me
separando numa boa, mas, sem dizer as verdadeiras razões. Sempre achei que
levaria esse segredo para o túmulo!
Hoje
tomei coragem e sei que vou chocar muito meus amigos, uma vez que vou fazer um e-mail
para eles contando essa verdade, que, com certeza, me aliviará a alma, deixando
todos de queixos caídos!
No
dia seguinte a remessa do e-mail de confissão, a noite, na pizzaria em frente
ao edifício, um grupo grande de casais e amigos de Ana Júlia conversavam:
-Quem
aqui recebeu um e-mail de Ana Júlia, aquela arquiteta sapatão do apartamento
1.515, Ed. Domini?
-Creio
que todos nós, pois moramos lá e muitos aqui são seus amigos, mesmo morando em
outros locais!
Imagine
turma que ela vem nos confessar uma merda que já sabemos há anos desde que ela
chegou, todo mundo aqui sabe que ela viajava para botar “aranhas para brigar”,
e ela, com a maior cara limpa, pensa que somos idiotas e nunca percebemos. Que
segredo mais sacana!
O
que ouviu-se foi uma gargalhada geral!
*Escritor
– Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com
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