Antonio
Nunes de Souza*
Poderia
ser um dia normal para mim dentro da rotina hospitalar, mas, inesperadamente
fui chamado para socorrer uma moça que, por querer provocar um aborto com um
instrumento pontudo, estava tendo uma bruta hemorragia, com sérios perigos de
leva-la a óbito!
Saí
na ambulância, que corria desbragadamente, conforme a necessidade do caso em
pauta, já que, pelo telefone, a solicitação tinha sido feita por um médico que,
infelizmente, não era ginecologista, e sim otorrino.
Ao
chegarmos, com o barulho da sirene, logicamente chamou a atenção do pobre e
modesto bairro, juntando logo um grupo de curiosos na frente da humilde casa.
Os enfermeiros desceram, pegaram suas ferramentas de trabalho, ou seja, a maca,
enquanto eu, fui entrando e dirigindo-me ao quarto, quando assustado-me deparei
com um quadro deplorável de uma menina, que vim a saber depois ter treze anos
e, escondida dos pais, fazia vida na região, para poder ter celular sofisticado
e roupinhas de periguete. Se os país sabiam eu não consegui saber, mas,
deveriam desconfiar!
Comecei
a fazer os atendimentos de praxe cabíveis já dentro da ambulância, que
retornava para o hospital na mesma disparada com que veio. Quem quiser que diga
diferente, mas, essa trajetória na ambulância em alta velocidade, sirene
ligada, guardas apitando pedindo passagem urgente, você atendendo uma pessoa
ensanguenta e gemendo é, sinceramente, desesperadora!
Fomos
diretos para a sala de cirurgia, as enfermeiras com as medicações recomendadas
por mim através do rádio e, com a ajuda de dois colegas, passamos a trabalhar
incessantemente durante quatro horas, tentando salvar a pobre e desesperada
menina!
Infelizmente,
depois de usarmos de todos recursos possíveis e cabíveis, a garota veio a
falecer, nos deixando cansados e tristes por não ter alcançado nossos
objetivos.
Já
passava das vinte horas, quando peguei meu carro e segui para casa, sem
conseguir esquecer o rosto de Dulce, assim se chamava ela.
Ao
chegar em casa, super cansado e acabrunhado, louco para tomar um banho
reparador. Na sala, pego um copo vou a cozinha abro o refrigerador, retiro umas
pedras de gelo, volto, coloco um grande dose de Whisky para acertar a cabeça.
Aí entra minha filha única, de quatorze anos, estudante secundarista, meia
cabisbaixa e me diz: Papai, eu estou grávida!
Desculpem-me,
mas, esse dia, foi o mais filho da puta da minha vida!
*Escritor
– Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL –antoniodaagral26@hotmail.com
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