Antonio Nunes de Souza*
Esperei 2012
para retornar a terra, muito embora durante todos esses anos tivesse vontade de
voltar repentinamente, para dar uma lição aos homens que aqui deixei, pois eles
não entenderam absolutamente nada do que ensinei, principalmente a maior lição
de vida que alguém poderia dar que foi morrer crucificado em benefício de toda
humanidade.
Por que será
que tudo que fiz não mudou o comportamento humano?
Será que meu
Pai criou o homem com a sua semelhança e se esqueceu de ampliar a importante
parte cerebral?
Não creio!
Meu Pai não erraria tão primariamente! Talvez a falha tenha sido ter dado livre
arbítrio a um ser em fase experimental. Ou então Ele confiou muito em mim, para
que, com minhas palavras e meus exemplos, fizesse dos homens uma real
semelhança divina. Mas, com apenas trinta e três anos de vida, foi curto para
mim esse tempo de doutrinação. Talvez se eu tivesse ficado entre eles por mais
uns quarenta anos, imagino que as coisas seriam diferentes. Pois,
arregimentaria um maior número de apóstolos (pelo menos mil, em vez de doze),
teria construído uma praça imensa (tipo a praça vermelha) para minhas
pregações, ressuscitaria centenas de pessoas, em vez de somente Lázaro, em vez
de multiplicar os pães, eu deveria ter instituído o programa Fome Zero, em vez
do milagre do vinho numa simples festa, deveria ter aberto alambiques de aguardente
de cana para angariar maior simpatia e adeptos (talvez até algumas cervejarias
que já descessem redondas nas guelas pecadoras). E, por último, em vez de me
deixar crucificar com apenas dois ladrões, o mais sensato seria, no mínimo, uma
centena de cruzes ao meu redor e, como últimas palavras, teria dito: Pai, não
os perdoe! Pois eles sabiam o que
estavam fazendo e sabem muito bem as blasfêmias que estão dizendo!
Mas não. Fui
querer ser bonzinho e confiei nesse bando de pecadores sem escrúpulos e olhe o
resultado!
Seguramente,
quem me caguêtaria hoje não seria um Judas qualquer e nem seria por apenas
trinta moedas. Provavelmente seria um deputado ou senador da república que,
colocando uma escuta no meu celular ou uma micro câmera, saberia imediatamente
das minhas intenções de mudar o pensamento do povo e me entregaria de bandeja a
polícia federal. Olhe Pai, eles quando pegam a gente, metem o cacete, colocam
no pau de arara, dão choque no saco (o Senhor não tem isso e nem imagina como
dói), estupram e dão sumiço no corpo que, para se encontrar o cadáver, só com
um bom milagre.
Coroa de
espinho, carregar cruz, afogar em piscina e crucificar, isso aqui é trote de
universidade que eles fazem como diversão no início das aulas.
Entretanto,
estou vendo que tudo pode ser mudado. Lógico que será difícil, uma vez que hoje
ninguém confia em ninguém e eu não posso nem dizer que sou Jesus, senão eles me
colocam num hospício, ou então por descrença, me matam e cremam para que as
possibilidades de uma nova ressurreição seja remota.
Pai, me leve
de volta o mais breve possível, pois não gostaria de tentar esse milagre (tenho
até medo), mesmo contando com sua ajuda, uma vez que o Satanás aqui joga solto
e têm o maior prestígio com a população. Nem os milhares de evangélicos estão
conseguindo dar vencimento aos pecados do dia-dia. O Papa anterior coitado,
morreu sem falar nem andar. Creio até que foi de desgosto e desilusão. E o pior
Pai, elegeram um novo que é alemão. Aquele povo que derretia os judeus pra
fazer sabão lembra-se?
Criaram aqui
a figura de “político” que é uma desgraça. Só pensam em encher os bolsos e
massacrar a humanidade através de guerras, no intuito de maiores poderes e
riquezas.
No meu tempo o Senhor de todos era você Pai.
Hoje é um tal de dólar, que por sinal já está perdendo o lugar para uma
novidade chamada Euro.
Nas minhas
reuniões festivas só se sentia o cheiro dos incensos e a alegria era
espontânea. Agora, qualquer festinha ou nas casas noturnas, só se cheira
cocaína e tomam até um tal exctasy, Pai! Dizem que dá um barato que sai muito
caro. Graças a você Pai, estão abandonando o vício do cigarro, mas, em
compensação, o uso da maconha está aumentando muito e ainda querem aprovar a
legalização dizendo que é remédio. Vê se pode Senhor?
Assim sendo,
vou Lhe mandar um bilhete através da pomba da paz:
Querido e
sagrado Pai,
Como nos
dias atuais não me é possível sair gravitando pelo espaço para voltar para o
céu (pois eles me abateriam como fazem com os pássaros), peço-lhe o favor de
mandar um disco voador bastante robusto para que eu volte urgente para o seu
lado abençoado.
Do seu filho
que tem medo de um novo fracasso,
Jesus Cristo “O de Nazaré”
*Escritor- Membro da Academia Grapiúna de Letras - AGRAL - antoniodaagral26@hotmail.com
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