Antonio
Nunes de Souza*
Procurei
em toda minha vida proceder de uma maneira correta, direita, trabalhadora e,
principalmente, honesta!
Estudei,
fiz o curso secundário, faculdade de administração, sempre, lendo, me
atualizando, fazendo cursos, procurando, logicamente, sempre estar apta a
exercer uma função graduada e qualificada. E, para completar minha diretriz,
fiz concurso federal e passei a exercer um cargo efetivo de confiança em um
ministério!
Até
aí estava tudo bem, pois, com apenas trinta e um anos, poderia dizer que tinha
alcançado meus objetivos, dentro de uma lisura impecável, correta e invejável.
Tudo isso até ter ido para a função no Ministério público, onde,
sistematicamente, todas as nossas obrigações são determinadas pelos seus
diretores e chefes, sem que você tenha o direito, ou posso dizer, a ousadia de
desobedecer, ou não concordar. Com um salário satisfatório, algumas regalias
eventuais, praticamente uma moça independente, ficamos sem saber como encarar
determinadas atitudes, onde via-se, claramente, os erros absurdos e os
prejuízos que causavam ao povo e, consequentemente, ao país!
Em
princípio me colocaram, depois que viram que eu era uma mulher honesta e
confiável, para ser uma receptadora de propinas que eram agraciadas, em função
de benefícios oferecidos em todas as áreas correspondentes ao meu ministério,
como também atingindo outros, pois, com o corporativismo existente e as
parcerias, sempre uns solicitavam benesses aos outros em benefícios de boas
remunerações. Algumas vezes, quando grandes demais, divididas docemente entre
todos. Eu, no meio dessa sujeira grotesca e sem meios para sair, perdendo minha
estabilidade e enfrentar um retrocesso profissional e segurando a barra e, por
outro lado, também usufruindo, pecaminosamente, de alguns presentes
inimagináveis. Vejam vocês que, no primeiro Natal, deixando-me de queixo caído,
me deram um carro zero, trocando na minha garagem pelo meu velhinho e gasto,
causando-me uma gostosa surpresa!
E,
com essas atitudes, compraram a minha dignidade, mostrando uma nova maneira de
vida, provando que, idiotas são os que ficam esperando melhorias de vida
através dos aumentos salariais aviltantes do governo!
O
fato é que, com trinta e quatro anos, hoje que a bomba estourou em todas as
vertentes com relação as corrupções, meus chefes foram indiciados, assim como
eu que fui chamada para depor. Porém, logo me liberaram, pois apenas cumpria
ordens e obrigações para executar esses serviços, desconhecendo suas origens.
Isso foi a defesa maravilhosa do meu advogado, que me proporcionou liberdade
imediata e fora dos processos e das falcatruas.
Paguei
caro e me senti prostituída em meus hábitos, costumes e caráter, felizmente,
tendo em compensação dois apartamentos com três quartos e duas suítes em um
bairro nobre (moro em um deles) e o outro alugado. Pedi minha transferência
para uma cidade do interior do Estado, continuo, ganhando um salário
respeitável e, também, com receio que alguma coisa possa sobrar para mim, já
que o mar de lama aumenta diariamente!
Juro
por Deus que não mudei por ganância, ou falta de critério. Fui forçada mediante
as circunstâncias como muitos homens e mulheres também foram e ainda são!
Essa
é uma das amostras dos comportamentos dos homens públicos, que elegemos
pensando que eles vão trabalhar pelo povo, para o povo e com o povo!
*Escritor
– Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com
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