segunda-feira, 27 de março de 2017

Fizeram eu mudar!

Antonio Nunes de Souza*

Procurei em toda minha vida proceder de uma maneira correta, direita, trabalhadora e, principalmente, honesta!
Estudei, fiz o curso secundário, faculdade de administração, sempre, lendo, me atualizando, fazendo cursos, procurando, logicamente, sempre estar apta a exercer uma função graduada e qualificada. E, para completar minha diretriz, fiz concurso federal e passei a exercer um cargo efetivo de confiança em um ministério!

Até aí estava tudo bem, pois, com apenas trinta e um anos, poderia dizer que tinha alcançado meus objetivos, dentro de uma lisura impecável, correta e invejável. Tudo isso até ter ido para a função no Ministério público, onde, sistematicamente, todas as nossas obrigações são determinadas pelos seus diretores e chefes, sem que você tenha o direito, ou posso dizer, a ousadia de desobedecer, ou não concordar. Com um salário satisfatório, algumas regalias eventuais, praticamente uma moça independente, ficamos sem saber como encarar determinadas atitudes, onde via-se, claramente, os erros absurdos e os prejuízos que causavam ao povo e, consequentemente, ao país!
Em princípio me colocaram, depois que viram que eu era uma mulher honesta e confiável, para ser uma receptadora de propinas que eram agraciadas, em função de benefícios oferecidos em todas as áreas correspondentes ao meu ministério, como também atingindo outros, pois, com o corporativismo existente e as parcerias, sempre uns solicitavam benesses aos outros em benefícios de boas remunerações. Algumas vezes, quando grandes demais, divididas docemente entre todos. Eu, no meio dessa sujeira grotesca e sem meios para sair, perdendo minha estabilidade e enfrentar um retrocesso profissional e segurando a barra e, por outro lado, também usufruindo, pecaminosamente, de alguns presentes inimagináveis. Vejam vocês que, no primeiro Natal, deixando-me de queixo caído, me deram um carro zero, trocando na minha garagem pelo meu velhinho e gasto, causando-me uma gostosa surpresa!
E, com essas atitudes, compraram a minha dignidade, mostrando uma nova maneira de vida, provando que, idiotas são os que ficam esperando melhorias de vida através dos aumentos salariais aviltantes do governo!

O fato é que, com trinta e quatro anos, hoje que a bomba estourou em todas as vertentes com relação as corrupções, meus chefes foram indiciados, assim como eu que fui chamada para depor. Porém, logo me liberaram, pois apenas cumpria ordens e obrigações para executar esses serviços, desconhecendo suas origens. Isso foi a defesa maravilhosa do meu advogado, que me proporcionou liberdade imediata e fora dos processos e das falcatruas.

Paguei caro e me senti prostituída em meus hábitos, costumes e caráter, felizmente, tendo em compensação dois apartamentos com três quartos e duas suítes em um bairro nobre (moro em um deles) e o outro alugado. Pedi minha transferência para uma cidade do interior do Estado, continuo, ganhando um salário respeitável e, também, com receio que alguma coisa possa sobrar para mim, já que o mar de lama aumenta diariamente!
Juro por Deus que não mudei por ganância, ou falta de critério. Fui forçada mediante as circunstâncias como muitos homens e mulheres também foram e ainda são!

Essa é uma das amostras dos comportamentos dos homens públicos, que elegemos pensando que eles vão trabalhar pelo povo, para o povo e com o povo!

*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com


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