domingo, 19 de março de 2017

Por que ser pura?

Antonio Nunes de Souza*

Essa pergunta sempre Maria Alice fazia e, ao mesmo tempo, respondia baseando-se na sua análise dos significados da palavra “pura”!
A primeira era a pureza de dinheiro, tendo que se sacrificar para viver, sempre estar pulando de empregos insatisfatórios e simples, numa labuta constante e carência pessoal, logicamente ganhando salários aviltantes. A segunda era a pureza de comportamento, tendo que seguir todas as regras ditadas pela sociedade, receber elogios, parabéns, etc. e, ao mesmo tempo, sofrer por estar sendo “pura” nas duas vertentes!
Então, Licinha como era chamada, achou de dar o seu grito de independência nas duas vertentes, no sentido único e exclusivo de ter uma vida mais animada, sem ter que se restringir a ser uma suburbaninha classe baixa, que apenas conseguia sobreviver!

Passou a se vestir melhor, roupas mais provocantes, dar “mole” para homens abonados e idosos, logicamente vendendo seu corpo, que não era de se jogar fora, acompanhado de uma carinha de anjo que ela sabia fazer muito bem. No princípio estranhou o comportamento, mas logo se adaptou, quando viu em sua bolsa dinheiro para as despesas e ainda estar sobrando para outras necessidades. Essa vitória, para ela, foi uma maravilha e, sinceramente, ficou puta da vida porque, somente agora com 27 anos é que ela tinha aberto os olhos para essa outra realidade. Mandando de vez as regras e estatutos sociais fossem para a puta que pariu. Somente com essa segunda vertente comportamental, ela estava derrubando os dois significados da palavra “pura”, passando a ser mais uma mulher de programa, onde a pureza de comportamento era completamente inexistente!

Mas, como nem sempre as coisas correm como as pessoas desejam, ela se apaixonou, ou viu boas vantagens em se ligar como amante de um traficante de drogas e, assim como aumentou seu nível financeiro, aumentou também as possibilidades de riscos. E não deu outra, pois numa noite de chuva, ao chegarem na porta do edifício onde moravam, estava um cerco policial para prender o marginal. Ele, por sua vez, sacou uma pistola e começou a atirar contra a patrulha, desejando fugir. Mas, infelizmente, nada conseguiu, foi atingido na perna e no braço, dominado e, nossa pobre Licinha, por “pura” ironia do destino, foi atingida na cabeça, indo a óbito imediato.
Com essa vida louca que vivemos, por mais que procuremos descobrir, ou como devemos nos comportar, dúvidas sempre estarão atropelando os pensamentos dos mais jovens, principalmente aqueles que gostam de caminhar nas estradas mais fáceis e que parecem melhores!
Tenham seus cuidados, pois, muitas coisas na vida não passam de “pura” ilusão!

*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras- AGRAL – antoniodaagral262hotmail.com

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