Antonio Nunes de Souza*
Somente
um grande mentiroso, pode dizer que nunca fez uma coisa errada na vida, que causou
um vexame desagradável, que, com o tempo, percebeu quanto foi ridícula sua ação
e atitude, na ocasião em que realizou!
E
eu, como não sou diferente de ninguém, também, ainda criança, procedi de uma
maneira sórdida e mentirosa, que, sinceramente, jamais esqueci, e até hoje me envergonho
e fico escabreado quando me vem a mente, tão antiga e inesquecível façanha!
Tinha
eu cinco anos de idade, menino sadio e sapeca, estava super feliz por estar nos
dias de Natal, data esperada pelas crianças durante todo ano (a do aniversário
também, para ganhar presentes), esperando que Papai Noel me desse um presente
maravilhoso. E essa expectativa terminou no dia vinte e quatro de dezembro de
1946 (Pôxa, como estou velho!), deixando-me numa euforia louca, torcendo para
que chegasse à noite, para que o bom Velhinha pudesse trazer meu presente
surpresa, e o do meu único irmão na época, Alfredo!
Com
o passar do dia, fomos dormir em nosso quarto, mas, como ainda continua comum
até hoje, durante a noite os filhos correm para as camas dos, e se aconchegam no
calorzinho dos seus corpos, nos deixando alegres e eles felizes. E foi
exatamente o que fizemos, naquela noite especial, inclusive, vendo que em nossos
chinelos não havia nada, levamos também eles para que Papai Noel colocasse
nossos benditos presentes!
Aí
foi que aconteceu a minha condenável atitude: Eu acordei ainda bastante cedo, e
sorrateiramente, desci da cama silenciosamente, e vi no meu chinelo um caminhão
de madeira de dirigir puxando por uma cordinha. E no chinelo de meu irmão Alfredo,
tinha um jaleco com uma estrela de metal, dois revólveres com cinto e
cartucheira cheio de balas. Eu revoltado, pois, não gostei do meu presente,
troquei de chinelo os presentes e, cinicamente, subi na cama quietinho e fingi estar
dormindo, mas, louco para que acordassem todos, para eu pegar meus lindos revólveres
e o jaleco de xerife, que depois eu fui ver que tinham umas espoletas de
estouravam quando atirava!
Demorado
algum tempo, como estava impaciente demais, comecei a me movimentar para que
minha mãe acordasse, e, logicamente, aconteceu. E eu, apressadamente, me
levantei e corri para meus chinelos e fui pegando os apetrechos de cowboy. Aí
minha mãe gritou, isso não é seu, o seu é o outro. E dizendo isso, tomou da
minha mão, me entregando o caminhão. Eu chorava e esperneava dizendo que o meu
era mesmo os revólveres, pois eu estava acordado, e vi quando Papai Noel
colocou em meus chinelos. Nisso meu pai acordou, e eu soluçando copiosamente,
mesmo depois de tomar uns cascudos, berrava que tinha visto o velhinho colocar
meu presente. Me colocaram de castigo, tomaram o caminhão, Alfredo acordou,
deram seus apetrechos de xerife. Enquanto eu, não dando o braço a torcer, continuava
repetindo que tinha presenciado a chegada de Papai Noel no quarto!
O
tempo passou, eu descobri a inexistência de Papai Noel e, essa descoberta, fez
eu me lembrar da minha atitude ridícula e mentirosa, que me marcou
profundamente, servindo de uma grande lição, que jamais devemos mentir,
principalmente quando pode prejudicar terceiros. Mas, ao mesmo tempo, ficou
gravada essa triste e inesquecível lembrança, que hoje, no alto dos meus
oitenta e dois anos, confesso, que levarei essa péssima recordação que me
deixou uma sequela, para meu túmulo!
Vale
dizer, que esse fato, nem meu pai, nem minha mãe, muito menos meu irmão
Alfredo, que parece que nem percebeu o fato, nunca disseram absolutamente nada
a respeito dessa ocorrência. Imagino que eles, dias depois esqueceram
completamente, não sabendo que eu guardaria para sempre na minha mente!
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros fundadores da Academia Grapiúna
de Letras!
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