quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

O ESPERMATOZOIDE GAY! (Clique no título e leia)

 

Antonio Nunes de Souza*

Tenho certeza que você já ouviu muitas história na sua vida, mas, tenho certeza absoluta, que igual a minha, ou até parecida, você nunca ouviu ou talvez jamais ouvirá!

Tudo começou quando meu pai, nas suas sessões de excitações, com a ajuda da sua eficiente próstata, produzia milhões de espermatozoides. E numa dessas vezes eu nasci. Quer dizer, apenas passei a ser um provável ser humano, passando a ficar nadando com meus amigos e amigas, sempre acontecia uma foda ou outra, mas, eu nunca me preocupava em sair, pois, por incrível que pareça, me apaixonei por um esperminha lindo que nadava borboleta, crawl, costas e peito com uma graça que, imediatamente, enlouqueci pelo danado. Aí, logicamente, eu que me chamo Fernando e meu lindo crush Mendonça, a sempre evitar as saídas nos segurando nos vasos sanguíneos do saco, já que ficando ali poderíamos namorar e nos amar com a maior tranquilidade. Mendonça me colocava em suas costas, eu bem engatadinho nele, e como um raio, ele atravessava cem vezes os colhões com idas e voltas, além de dar grandes saltos ornamentais, pulando perigosamente de cima dos ovos. Eu adorava fazer essa gostosa estripulia, mas, ficava muito mais alegre e feliz, quando Mendonça me pegava pelas costas, se encaixava em mim por horas, me fazendo sentir um prazer tão grande, que as vezes ele chegava a dormir de pau dentro, e eu sorrindo de felicidade. Era a verdadeira gloria, e nós jamais desejávamos sair dali!

Aí aconteceu o inevitável, quando, provavelmente, numa boa foda cheia de muitas carícias, com orgasmos múltiplos, entre meu pai e minha mãe, fomos expelidos abraçados, e como se fosse um terrível tsunami, juntamente com milhões de outros, fomos parar no útero totalmente atordoados e, nesse momento, Mendonça soltou-se de mim, e eu empurrado pelos outros, penetrei no ovário. Ainda de longe, com lágrimas nos olhos, com nossos rabinhos nos dávamos adeus.

Depois desse turbilhão traumático, eu bem acolhido no ovário, mas, completamente debilitado, triste e fraco, sentindo uma falta brutal do meu amor, que, com certeza, deve ter morrido afogado, descendo horrivelmente pelo ralo do banheiro se minha mãe tomou logo banho, ou pior ainda, se ela foi mijar antes do banho, e ele foi sacrificado na descarga da privada. Esse pensamento me deu a maior depressão!

Passaram-se nove meses e eu, com minha mãe tendo uma gestação muito complicada, pois, mesmo não sendo mais um espermatozoide, na condição de embrião, não me esquecia de Mendonça em nenhum momento, e nem dos dias felizes que tivemos nos colhões do meu pai!

Aí, com todos os familiares alegres em volta, eu nasci. Meus pais cheios de felicidades, mas, ao fazer o teste do pezinho o médico constatou que eu tinha a Síndrome de Down, fato que deixou todos chocados e tristes em princípio. Mas, com o desenrolar do tempo, foram se adaptando, me amam loucamente, são carinhosos, e hoje eu já tenho doze anos, Mas, com muitas debilitações, causadas pela minha trágica separação do único amor da minha vida. Nesse momento, estou sendo sevado ao médico, pois, meus pais estão curiosos, por que eu nada falo durante as andanças em casa ou nos passeios nas ruas, mas, toda hora quero ir nadar na piscina e fico gritando: Mendonça, Mendonça, Mendonça. E eles ficam encabulados, sem imaginar que eu estou recordando meu lindo e feliz passado de amor!

Para vocês não ficarem também encabulados, como eu contei essa minha “estória”. Foi que, inesperadamente, me deu um estalo na mente, e comecei a falar repentinamente para meu fisioterapeuta Antonio, que tomou o maior susto, mas, viu que devia ser sido um milagre do Senhor Jesus, pois, depois de encerrar e pedir a ele para não falar pra ninguém, voltei a minha condição de mudez!

O grande estrago numa vida, em função de uma paixão louca e desenfreada. Que sirva de exemplo, para que você seja mais comedido nos seus amores!

Nessa vida louca acontecem coisa que até Deus duvida. E que Fernando me perdoe, pois, uma história dessa, eu não poderia deixar de contar para outras pessoas!

*Escritor, Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros fundadores da Academia Grapiúna de Letras

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