Antonio Nunes de Souza*
Todos
nós temos nossos segredos de fatos acontecidos em nossas vidas, alguns chegamos
a contar aos amigos mais íntimos, mas, tem um ou alguns tão mirabolantes e
absurdos, que preferimos levar para o túmulo. E esse seria um deles, mas,
estando hoje viúva, morando sozinha na Av. Manoel Dias Silva na Pituba, filhos
casados e independentes, com sessenta e dois anos, resolvi contar, pois foi
algo que está fixado em minha mente por trinta anos!
Naquela
época, eu estava casada há dois anos, ainda não tinha filhos, não trabalhava,
pois meu marido tinha ótimas condições, então tinha toda liberdade do mundo
para sair para passear, ir a praia, shoppings, etc., e adorava as quintas
feiras, eram armadas centenas de barracas de uma feira móvel no largo da praça
da Igreja, em frente ao Clube Português, que eu ia comprar frutas, verduras e
outras coisas que visse e fosse interessante. E de tanto frequentar, você
termina ficando conhecida por alguns barraqueiros, que você sempre compra em
suas mãos. E foi num desses dias, que indo na barraca do seu Fernando comprar
verduras, que conheci o seu sobrinho Valter, um rapaz forte, bonito, meio sisudo,
com uns dezessete anos talvez, que tinha vindo do interior para ajudá-lo. Fiz
minhas compras, olhei várias vezes para o menino, pois, estranhamente, sua
presença buliu comigo de alguma forma. Paguei, me despedi de seu Fernando,
peguei minhas compras e fui para casa. Mas, chegando, curiosamente, a imagem do
rapaz ficou tão fixada em minha mente, que me deixou encabulada. Decorreu a
semana e veio a quinta da feira móvel. E eu estranhamente, fiquei super
eufórica para ir às compras, e claro que me arrumei e fui. Escolhi o que
queria, Valter me ajudou a separar, colocou nas sacolas, e seu Fernando falou
para mim que tinha comprado um celular, que não era tão popular na época, e me
disse que eu anotasse o número, que se eu desejasse alguma coisa, poderia
pedir, já que eu morava perto, ele poderia mandar levar. Agradeci, anotei no
meu Celular, paguei e me espedi, não deixando de dar umas olhadas para o bonito
rapaz, porém, ele era impassível e sério!
Tenho
que confessar, que ao chegar em casa, percebi que aquele rapaz tinha algo
especial que não conseguia entender, que me causava incômodo ou excitação. E
daí pra frente, passei a contar as horas e minutos, para que chegasse a quinta
feira, que nem era mais para comprar coisa alguma, pois, já tinha me conscientizado,
que estava vidrada naquele rapaz tão jovem, que quase poderia ser meu filho. Parecendo
que demorou um mês, chegou novamente a tão esperada quinta. Aí, resolvi fazer
uma loucura, telefonando para seu Fernando, dizendo que estava ocupada demais e
que ele me mandasse algumas coisas e lhe passei a relação. Como sabia que seria
Valter que iria levar, coloquei um vestido simples, desses abertos na frente, bem
decotado e sedutor, me perfumei toda, ficando nervosa e tensa, pela loucura que
estava fazendo, mas, por incrível que pareça, não mais conseguia me controlar,
para parar essa atitude totalmente fora da realidade. Com uns vinte minutos,
toca a campainha, e eu tremendo fui atender. Era Valter com as duas sacolas,
mandei que ele entrasse para colocar na cozinha, mandei ele sentar-se enquanto
eu fazia o cheque do pagamento, e ao sentar cruzei as pernas para,
propositalmente, mostrar as coxas, Mas, incrivelmente, Valter olhava para o
outro lado, completamente impassível e calado. Como nada podia fazer, como
também não tive coragem de puxar conversa, Paguei, agradeci e ele chegou mudo e
saiu calado, deixando-me puta da vida, e com meu desejo e plano, totalmente
frustrados!
Tenho
que dizer que fiquei toda semana, tramando o que iria fazer, para que Valter se
abrisse mais e entrasse no meu arriscado, perigoso e louco desejo. Foi aí que,
alegando que foi ótimo e prático a compra por pedido, que eu tinha resolvido
fazer a mesma coisa. Ele prestativo, anotou tudo e disse que logo
mandaria. Eu, maquiavelicamente, vesti
um robe de seda, desses que desenham o corpo, coloquei o cinto, porém, deixando
meio aberto na frente, deixando ver que eu estava somente de calcinha. Mesmo
cheio de desejos, eu tremia de medo por estar cometendo uma brutal loucura, já
que era feliz no casamente, e não havia razão para tais desejos ou carências,
mas, Valter me provocava uma excitação incrível, talvez causada pela sua
indiferença. Aí a campainha tocou, fui atender, e lá estava Valter, bonito,
forte e como era seu normal, super sério. Recebi as sacolas, mandei ele entrar,
peguei o talão de cheques, preenchi e ao entregar, não me contive e, com um
ímpeto transloucado, o agarrei e comecei a beija-lo no rosto, pescoço, esfreguei
meu corpo ao seu, ele continuava parado e estático, e quando passei a mão em
seu sexo, estava molíssimo, e ele meio nervoso, disse pra mim: Dona Jacira eu
não transo com mulheres, pois, eu sou gay!
Puta
que pariu, tomei um susto retado, fiquei morta de vergonha, ele saiu calado
como sempre, e eu morta de vergonha de mim mesma, por ter passado por uma puta
situação, altamente ridícula, que somente hoje, passados tantos anos, tive
coragem de desabafar!
Lógico
que nunca falei com ninguém, em função do meu ridículo assédio com a pessoa
totalmente errada. E nem tão pouco fui fazer compras na barraca de seu
Fernando, imaginando que Valter poderia ter contado a ele. Mas, me serviu de
lição, pois, nunca mais olhei com desejo para outro homem, pois, sempre vinha
em minha mente: Será que esse cara também não é viado?
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos fundadores da Academia Grapiúna de
Letras!
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