terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

RECORDAÇÃO DE UMA LOUCURA! (Clique no título r leia)

 

Antonio Nunes de Souza*

Todos nós temos nossos segredos de fatos acontecidos em nossas vidas, alguns chegamos a contar aos amigos mais íntimos, mas, tem um ou alguns tão mirabolantes e absurdos, que preferimos levar para o túmulo. E esse seria um deles, mas, estando hoje viúva, morando sozinha na Av. Manoel Dias Silva na Pituba, filhos casados e independentes, com sessenta e dois anos, resolvi contar, pois foi algo que está fixado em minha mente por trinta anos!

Naquela época, eu estava casada há dois anos, ainda não tinha filhos, não trabalhava, pois meu marido tinha ótimas condições, então tinha toda liberdade do mundo para sair para passear, ir a praia, shoppings, etc., e adorava as quintas feiras, eram armadas centenas de barracas de uma feira móvel no largo da praça da Igreja, em frente ao Clube Português, que eu ia comprar frutas, verduras e outras coisas que visse e fosse interessante. E de tanto frequentar, você termina ficando conhecida por alguns barraqueiros, que você sempre compra em suas mãos. E foi num desses dias, que indo na barraca do seu Fernando comprar verduras, que conheci o seu sobrinho Valter, um rapaz forte, bonito, meio sisudo, com uns dezessete anos talvez, que tinha vindo do interior para ajudá-lo. Fiz minhas compras, olhei várias vezes para o menino, pois, estranhamente, sua presença buliu comigo de alguma forma. Paguei, me despedi de seu Fernando, peguei minhas compras e fui para casa. Mas, chegando, curiosamente, a imagem do rapaz ficou tão fixada em minha mente, que me deixou encabulada. Decorreu a semana e veio a quinta da feira móvel. E eu estranhamente, fiquei super eufórica para ir às compras, e claro que me arrumei e fui. Escolhi o que queria, Valter me ajudou a separar, colocou nas sacolas, e seu Fernando falou para mim que tinha comprado um celular, que não era tão popular na época, e me disse que eu anotasse o número, que se eu desejasse alguma coisa, poderia pedir, já que eu morava perto, ele poderia mandar levar. Agradeci, anotei no meu Celular, paguei e me espedi, não deixando de dar umas olhadas para o bonito rapaz, porém, ele era impassível e sério!

Tenho que confessar, que ao chegar em casa, percebi que aquele rapaz tinha algo especial que não conseguia entender, que me causava incômodo ou excitação. E daí pra frente, passei a contar as horas e minutos, para que chegasse a quinta feira, que nem era mais para comprar coisa alguma, pois, já tinha me conscientizado, que estava vidrada naquele rapaz tão jovem, que quase poderia ser meu filho. Parecendo que demorou um mês, chegou novamente a tão esperada quinta. Aí, resolvi fazer uma loucura, telefonando para seu Fernando, dizendo que estava ocupada demais e que ele me mandasse algumas coisas e lhe passei a relação. Como sabia que seria Valter que iria levar, coloquei um vestido simples, desses abertos na frente, bem decotado e sedutor, me perfumei toda, ficando nervosa e tensa, pela loucura que estava fazendo, mas, por incrível que pareça, não mais conseguia me controlar, para parar essa atitude totalmente fora da realidade. Com uns vinte minutos, toca a campainha, e eu tremendo fui atender. Era Valter com as duas sacolas, mandei que ele entrasse para colocar na cozinha, mandei ele sentar-se enquanto eu fazia o cheque do pagamento, e ao sentar cruzei as pernas para, propositalmente, mostrar as coxas, Mas, incrivelmente, Valter olhava para o outro lado, completamente impassível e calado. Como nada podia fazer, como também não tive coragem de puxar conversa, Paguei, agradeci e ele chegou mudo e saiu calado, deixando-me puta da vida, e com meu desejo e plano, totalmente frustrados!

Tenho que dizer que fiquei toda semana, tramando o que iria fazer, para que Valter se abrisse mais e entrasse no meu arriscado, perigoso e louco desejo. Foi aí que, alegando que foi ótimo e prático a compra por pedido, que eu tinha resolvido fazer a mesma coisa. Ele prestativo, anotou tudo e disse que logo mandaria.  Eu, maquiavelicamente, vesti um robe de seda, desses que desenham o corpo, coloquei o cinto, porém, deixando meio aberto na frente, deixando ver que eu estava somente de calcinha. Mesmo cheio de desejos, eu tremia de medo por estar cometendo uma brutal loucura, já que era feliz no casamente, e não havia razão para tais desejos ou carências, mas, Valter me provocava uma excitação incrível, talvez causada pela sua indiferença. Aí a campainha tocou, fui atender, e lá estava Valter, bonito, forte e como era seu normal, super sério. Recebi as sacolas, mandei ele entrar, peguei o talão de cheques, preenchi e ao entregar, não me contive e, com um ímpeto transloucado, o agarrei e comecei a beija-lo no rosto, pescoço, esfreguei meu corpo ao seu, ele continuava parado e estático, e quando passei a mão em seu sexo, estava molíssimo, e ele meio nervoso, disse pra mim: Dona Jacira eu não transo com mulheres, pois, eu sou gay!

Puta que pariu, tomei um susto retado, fiquei morta de vergonha, ele saiu calado como sempre, e eu morta de vergonha de mim mesma, por ter passado por uma puta situação, altamente ridícula, que somente hoje, passados tantos anos, tive coragem de desabafar!

Lógico que nunca falei com ninguém, em função do meu ridículo assédio com a pessoa totalmente errada. E nem tão pouco fui fazer compras na barraca de seu Fernando, imaginando que Valter poderia ter contado a ele. Mas, me serviu de lição, pois, nunca mais olhei com desejo para outro homem, pois, sempre vinha em minha mente: Será que esse cara também não é viado?

*Escritor, Historiador, Cronista, Poeta e um dos fundadores da Academia Grapiúna de Letras!  

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