terça-feira, 19 de abril de 2016

Coisas da vida!

Antonio Nunes de Souza*

No auge dos meus 35 anos, jovem, bem apessoado, professor de inglês em um instituto de franquia internacional, bem remunerado pelas minhas qualidades. Formei-me em Nova Yorque, onde passei seis anos com uns tios moradores de lá e, sem dar folga, fiz dezenas de cursos paralelos que, seguramente, falo e escrevo tão bem como qualquer americano de boa formação. E, como jovem, tornei-me um craque em todas as expressões idiomáticas usadas em geral pelo povo, principalmente a juventude. Esse é o meu perfil que além de solteiro sou, modéstia a parte, um cara massa real, simpático e boa companhia. Coisa rara nos dias de hoje!
Inteligentemente, com as facilidades atuais, cheguei a correta conclusão que casar era algo que não fazia parte de meus planos, já que não desejava, em nenhuma hipótese, ter alguém ao meu lado, no mesmo teto, querendo me manobrar, me policiando e tendo-me como sua propriedade. Tanto eu não desejava, como também nunca tive temperamento para proceder dessa forma, mesmo nas ocasiões que surgiram algumas paixões desenfreadas. Mas, depois de algum tempo e as tesões se acalmarem, essa euforia ia por água a baixo! Mesmo com esses predicados excelentes, minha classificação masculina era puramente de “ficante”. Mas, de alta qualidade!
Porém, sempre acontece algo inesperado que, com uma força estranha, quebra essas nossas regras comportamentais e nos faz dar uma guinada de trezentos e sessenta graus, caindo na rotina costumeira dos seres humanos: Casar e constituir uma família! E foi o que me aconteceu quando conheci Dora, uma aluna do curso básico de inglês, com dezessete anos, metade da minha idade, porém com um corpo de mulher, que parecia ser uns anos mais pela sua formação corpórea ser avantajada e bem distribuída! Tinha uma carinha angelical, com seus dentinhos um pouco proeminentes que lhe dava uma meiguice e a aparência de um lindo e doce coelhinho da páscoa!
Começamos a namorar maravilhosamente, desfrutando de todos os momentos de folga para nossos prazeres, sua família era do interior e eu não conhecia ninguém, apenas ela que morava na capital em um pensionato bom e respeitável. Então, resolvemos passar um fim de semana na sua cidade, S. Amaro, recôncavo baiano, onde residam seus avôs e sua mãe que era psicóloga e professora em uma faculdade particular. Quando chegamos, parei o carro e Dora ficou dentro, pois nossa ida era uma surpresa e ninguém me conhecia. Toquei a campainha e apareceu uma mulher lindíssima, que logo perguntei se era irmã de Dora, não só pela semelhança como pela jovialidade. Ela sorriu, quase gargalhando e me respondeu: Eu sou a mãe dela! Fui eu desta feita de deu uma grande risada e me assustei e me encantei por vê-la tão jovem, ser mãe de um mulherão como minha namorada! Ela, percebendo meu espanto, claramente, como fazem as pessoas inteligentes disse logo que, sua filhinha era fruto de um amor na juventude, que, lhe trouxe problemas, mas, que foi uma benção divina.
A essa altura já não havia mais necessidades de outras surpresas, fui ao carro, chamei Dora e ela me apresentou a sua mãe, entramos, conheci os seus avôs, também ainda jovens, pois, em seguida, eu soube que a dra Alice tinha apenas trinta e quatro anos e, na verdade, seu relacionamento com sua filha era como duas irmãs, partilhando nos mesmo lazeres e prazeres!
O fato é que, quando Deus facilita, o Diabo entra no meio e coloca minhocas em nossas cabeças, fazendo acontecer os mais mirabolantes pensamentos e atitudes. Na noite do sábado, fomos a uma danceteria e, ao dançar com Alice, senti que ela me apertava e colava o seu corpo no meu, não sei se era por distração ou algo proposital, mas, que me deu arrepios e desejos, fazendo com que me excitasse e ela deveria estar sentindo em suas coxas o volume do meu sexo completamente endurecido! Rimos, comemos, bebemos, dançamos, conversamos e, sempre que olhava para Alice, sentia em seus olhos uma sensação de vergonha e culpas, mas, ao mesmo tempo, de desejo e encanto por minha pessoa. Se prestassem atenção aos meus gestos e olhares, certamente percebiam que estava havendo algo estranho no ar. Dora, com sua simplicidade e segurança, nada via, porém, estava acabando de começar uma nova trilha em nossas vidas!
Voltamos no domingo à tarde trazendo fritadas de mapé, sururu e maniçoba, iguarias típicas da cidade que eu acabara de conhecer. Porém, por minha culpa ou um esfriamento normal dos costumes atuais, nosso namoro terminou, continuamos bons amigos, mas, como não deixava de me lembrar de Alice, resolvi telefonar para ela e convidá-la para passar um fim de semana em Salvador, já que ela era solteira, sem compromissos e, seguramente, minha visita tinha deixado marcas em seus sentimentos! Ela aceitou, veio e, para encurtar a conversa, nos casamos, temos dois filhos lindos (um casal), Dora está terminando a faculdade, mora conosco sem nenhum preconceito, somos todos felizes. Eu quebrei minhas tolas regras, Dora conheceu e curtiu um amor de juventude que sempre acontece entre professores e alunos, Alice que era mãe solteira conheceu o seu amor verdadeiro, seus avôs alegres e espantados, mas, encararam as “coisas da vida” numa boa!
Eu digo sempre: I love Alice and I love Dora!
*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL –antoniodaagral26@hotmail.com

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