quarta-feira, 7 de junho de 2023

NADINHO E SEU PASSADO NEM TÃO BRILHANTE! (Clique e leia)

 

Antonio Nunes de Souza*

Às vezes andando na rua, paramos em certo trecho da cidade e, magicamente, voltamos ao passado, relembrando coisas boas e loucas que fizemos, que se tornaram inesquecíveis!

E foi o que aconteceu comigo, passeando na beira do rio cachoeira. Sentei-me num banco e comecei a passar o meu filme mentalmente, sendo que começou a projeção aleatoriamente, com uma passagem que, infelizmente, não me deixa nada lisonjeado!

No sul do país, onde fui aventurar a vida, meu primeiro trabalho foi como auxiliar de camelô. Eu ficava na roda como um estranho, ele pedia um voluntário para fazer uma mágica, aí, dois também do esquema, apontavam para mim, eu fazia aquele drama que não queria, e o povo logo gritava: Vai, vai, vai, e eu todo contrariado, ia para o centro da roda já com os resultados das mágicas nos bolsos. Ele realizava, o povo aplaudia e logo em seguida passava a venda dos milagrosos remédios. Terminando tudo, no fim do dia, eu recebia minha diária e seguia para um miserável quartinho, que vivia com minha mulher e dois filhos. Então...veio logo em minha mente, que em vez de auxiliar, também poderia ser camelô, já que com um mês já sabia todas as tretas e segredos dos remédios! Peguei um dinheirinho que tinha de reserva, comprei os apetrechos necessários, combinei com a mulher para que ela fizesse os remédios, que consistiam em sabão massa, anilina azul ou rosa, e ela derretia o sabão com a anilina, colocava em forminhas, papel de seda para a embalagem, completando com um rótulo do peixe elétrico da Amazônia, com os dizeres que servia para dezenas de doenças, e licenciados pelo Ministério da Saúde. O óleo era de soja por ser mais barato, colocados e rotulados em frasquinhos de penicilina. Eu dizia na roda que era representante da fábrica, e vendia a preço de custo!

Na primeira semana, foi fraquíssima, pela minha pouca experiência, como também faltava algo que atraísse a plateia para ser criada uma grande roda. Aí, por sorte, um velho camelô que estava se aposentando, me vendeu a sua jiboia velha, gorda e preguiçosa. Fiquei na maior alegria, mas, quando cheguei em casa, a mulher deu o maior chilique, ter que dormir 4 num quarto apertado, e ainda com uma cobra? Mas, com palavras e carinho, a convenci que ali estava o nosso futuro! Dia seguinte, peguei as malas, a dos remédios e a da cobra, levei comigo o sobrinho da dona da pensão para me ajudar, tomamos o ônibus direto para praça. Chegando armei minha arapuca de pegar otários, e comecei a gritar convidando para que fossem ver a grande serpente das selvas, que eu tinha capturado na colheita das ervas medicinas, para misturar ao óleo do peixe elétrico, formando um bálsamo capaz de curar da dor de cabeça até tumores cancerígenos, dor de barriga, gripe, azia, dente, espinhaço, vertigens, etc., essas eram curadas apenas com 4 aplicações. Já as coceiras e doenças de pele, com 3 banhos tudo desaparece. Fora 3 gotas do óleo puro em meio copo de água, tomados por uma semana, o desejo sexual aumenta de tal for forma, que precisa você refrear seus desejos, senão vai querer ir pra cama toda hora. Dito essa ladainha, com a desgraçada da cobra pesada nos meus ombros, eu e meu auxiliar pegamos os remédios e fomos oferecendo sendo 1 é quatro e 3 é 10. Fomos vendendo uma boa quantidade. Como o povo vai mudando, meu auxiliar passou a fazer parte da plateia, eu repito meu babado e, para causar impacto, pergunto: Tem alguém aqui na roda com dor de cabeça? Aí meu secretário se apresenta, todos ficam na expectativa, eu passo o produto em sua testa, pingo uma gota de óleo em sua boca e, com dois minutos pergunto: Como está agora? E ele cinicamente diz: Não estou sentindo mais nada, que coisa maravilhosa. Me dê aí 3 fracos para eu levar para meus familiares. Aí eu digo: Eu vou lhe dar de cortesia, mas, você vai me ajudar a vender aos clientes. Certo, eu topo. Então, começamos outra vez enganar os bobos, vendendo nossos falsos remédios. Foi um dia ótimo, vendi quase 300 cruzeiros (dinheiro da época), paguei ao rapaz, passei numa padaria e comprei um frango assado. Cheguei em casa causando a maior alegria pelo jantar que teríamos, já que normalmente era um café preto com pão sem manteiga!

As lembranças continuarão, pois são muitas e divertidas, mas, aguardem que contarei outra em breve!

*Escritor, Historiador, Cronista e poeta!

Um comentário:

Anônimo disse...

Bom Dia Antônio . Suas divertidas lembranças alegram meu coracao