sábado, 3 de junho de 2023

ADEUS MUNDO INGRATO! (Clique e leia)

 

Antonio Nunes de Souza*

Meus queridos e amados amigos,

Todos imaginam que certas atitudes que muitos tomam, são incoerentes e sem sentido, causadas pela fraqueza mental e psíquica, mas, em grande parte, são atos praticados em perfeitas sanidades, e com razões bastantes justificadas, não só para quem pratica, como também para pessoas que encaram a vida como sua propriedade, e pode fazer dela o que desejar e achar conveniente. Então... para mim e muitos, o condenado suicídio é algo completamente natural!

Vejam vocês: Com quarenta e 41 anos, com um trabalho medíocre que já encaro há 15 anos, e por ser uma pequena empresa nunca cresço de função, pois, as direções sempre passaram para os filhos, tentei um casamente anos atrás e foi um fiasco por 3 anos apenas, que nem filhos tivemos, morando sozinho, meus parentes que não vejo há 23 anos, e nem sei se ainda estão vivos lá em Rondônia, pois, vim aventurar a vida na Bahia com 18 anos. Família pobre, vocês sabem como é: uns vão para S. Paulo, outros para o Rio, Minas, etc., e terminam desaparecendo e ninguém mais se encontra e nem sabe quando morrem!

E mediante essa situação de uma vida medíocre, sem futuro, o mundo cheio de violências, cada dia aparece um sacana de um vírus novo pra nos matar ou nos deixar assombrados, sinceramente e de sã consciência, resolvi, categoricamente, suicidar, já que dizem que vamos para o céu, viver com os Santos, anjos, rezas, liturgias, descansos e segurança absoluta, sem trabalhar, nada de preocupação com saúde, dinheiro, ninguém sacaneando, pois os chatos e pecadores estarão no purgatório ou no inferno. Como posso desprezar uma mordomia dessa, ficando aqui aguentando Lula trocar tapas com Bolsonaro? Tô fora, Mermão. “Vou-me embora pra Parsárgada, lá sou amigo do Rei!”, como disse bem o grande poeta brasileiro Manoel Bandeira!

Com essa decisão tranquila e sábia, paguei minhas contas pendentes, deixei uma lista de pessoas para ficar com minhas coisas e o restante do apartamento para ser dados para casas pias ou pessoas pobres, e escolhi morrer afogado, já que sempre amei o mar. Vesti uma bermuda e uma camisa bem colorida para que fosse facilitada a busca do meu corpo pelos bombeiros (sou muito detalhista), e segui de ônibus para o Porto da Barra, já que é uma praia massa real e merece a minha gloriosa vida. Cheguei, desci a rampa, eram 18 horas e já anoitecendo, escuro e com o céu nublado, um dia e hora típica para uma cena fúnebre. Pelo clima à praia estava praticamente vazia, e eu, corajosamente e feliz, péssimo nadador, fui entrando no mar sorridente, olhando as ondas que quebravam em meus joelhos, depois nos peitos, até que ouvi um grito de socorro bem perto de mim. Assustado, olhei para o lado e vi uma cabeça feminina subindo e descendo. Aí, mesmo preocupado em realizar meu desejo, fui em direção a pessoa e a agarrei pelo pescoço e braços, levantando-a para que pudesse respirar. Ela apavorada e assombrada agarrou-se em mim de tal forma, que quase nos afogávamos os dois. Mas, na situação, não sei as razões, mas você faz até o que não sabe e muito bem. E foi o que fiz. Fui boiando e andando para a praia, enquanto a mulher grudada em mim, tremia barbaramente pelo susto de ter quase se afogado. A deitei na areia e aí que olhei que ela era jovem, tinha um belo corpo e uma carinha linda. Aí eu falei: Você é louca mulher, vim tomar banho a essa hora e com esse tempo? E ela respondeu: Eu vim suicidar-me, pois, só me resta morrer nessa vida horrorosa!

Eu dei uma puta risada e disse: Você é minha colega minha filha. Eu vim fazer a mesmo coisa e você estragou meu suicídio. Ela, mesmo assustada explodiu em risos largos, dizendo que foi ótimo eu ter aparecido, pois, depois de salva ela agora já está pensando diferente e querer voltar a sua vida, mesmo tendo que enfrentar as adversidades, e acho que você deveria fazer o mesmo. Vamos embora, tomar um banho, e depois jantar para comemorar a vida, que na verdade foi mais achada do que perdida. O que você acha?

-Saiba que você com sua ideia de suicídio, atrapalhou o meu, como se fosse alguma coisa do destino. Como temos o direito de protelar nossas atitudes, vou acatar temporariamente sua sugestão!

Ela sorriu, pediu desculpas ter atrapalhado, dizendo que foi sem querer, mas, que tudo tem um sentido!

Ela foi até um canto nas pedras, pegou suas roupas e a bolsa e seguimos para a rua. Lá chegando ela me mostrou onde estava seu carro, e prontificou-se a me dar uma carona. Claro que aceitei, e foi no percurso que nos apresentamos: Eu sou Fernando Caldas e trabalho como administrativo financeiro numa empresa de materiais de construção, divorciado e, embora fosse fazer o que lhe disse, estou de boa com a vida, nada foi por desespero. Ela disse que era engenheira, trabalhava com o pai numa grande construtora, complementando que éramos do mesmo ramo, e que estava adorando as coincidências, pois, tivemos desejos similares na mesma hora e local, que morava sozinha sendo viúva, mesmo jovem com 33 anos. Nessa conversa no carro, ela sugeriu que fossemos para seu apartamento, que lá tomaríamos banho e jantaríamos mais à vontade sem precisar ir para restaurante, e que ela me devia a vida e teria que pagar, pelo menos com um jantar. Como para mim qualquer coisa é coisa boa, aceitei, observando que ela também tinha salvado minha vida, que tudo ficava elas por elas!

Não perguntei a Sibelle (esse era o seu nome) o que tinha a levado ao extremo, e nem ela nada me perguntou. Tomamos banho, ela muito desenvolta e educada, pegou uma camisa limpa e bermuda novas do seu falecido marido, eu naturalmente vesti, ficando na medida em mim, jantamos algumas coisas gostosas que haviam na geladeira, tomamos um vinho, com música ótimas de fundo, batemos um papo agradável e qualificado, sendo que uma simpatia bateu forte entre nós, e marcamos um encontro para o dia seguinte, para na praia e no mar, celebrarmos as nossas quase perdidas vidas, e comemorar o início de umas totalmente novas. E como nos romances e nas novelas, começamos um namoro, me transferi para trabalhar na construtora com o doutor Antonio Thadeu, e nosso casamento está marcado para o fim do ano!

Incrível que as vezes pensamos, que nossa vida deve terminar, quando na verdade ela apenas [U1] deu uma guinada para ser recomeçada dentro da normalidade! Jamais ache que não viver é solução, pois o problema não é a vida, e sim sua maneira de administra-la!

*Escritor, Historiador, Cronista e Poeta!

 


 [U1]

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