Antonio Nunes de Souza*
Meus
queridos e amados amigos,
Todos
imaginam que certas atitudes que muitos tomam, são incoerentes e sem sentido,
causadas pela fraqueza mental e psíquica, mas, em grande parte, são atos
praticados em perfeitas sanidades, e com razões bastantes justificadas, não só
para quem pratica, como também para pessoas que encaram a vida como sua
propriedade, e pode fazer dela o que desejar e achar conveniente. Então... para
mim e muitos, o condenado suicídio é algo completamente natural!
Vejam
vocês: Com quarenta e 41 anos, com um trabalho medíocre que já encaro há 15
anos, e por ser uma pequena empresa nunca cresço de função, pois, as direções
sempre passaram para os filhos, tentei um casamente anos atrás e foi um fiasco
por 3 anos apenas, que nem filhos tivemos, morando sozinho, meus parentes que
não vejo há 23 anos, e nem sei se ainda estão vivos lá em Rondônia, pois, vim
aventurar a vida na Bahia com 18 anos. Família pobre, vocês sabem como é: uns
vão para S. Paulo, outros para o Rio, Minas, etc., e terminam desaparecendo e
ninguém mais se encontra e nem sabe quando morrem!
E
mediante essa situação de uma vida medíocre, sem futuro, o mundo cheio de
violências, cada dia aparece um sacana de um vírus novo pra nos matar ou nos
deixar assombrados, sinceramente e de sã consciência, resolvi, categoricamente,
suicidar, já que dizem que vamos para o céu, viver com os Santos, anjos, rezas,
liturgias, descansos e segurança absoluta, sem trabalhar, nada de preocupação
com saúde, dinheiro, ninguém sacaneando, pois os chatos e pecadores estarão no
purgatório ou no inferno. Como posso desprezar uma mordomia dessa, ficando aqui
aguentando Lula trocar tapas com Bolsonaro? Tô fora, Mermão. “Vou-me embora pra
Parsárgada, lá sou amigo do Rei!”, como disse bem o grande poeta brasileiro
Manoel Bandeira!
Com
essa decisão tranquila e sábia, paguei minhas contas pendentes, deixei uma
lista de pessoas para ficar com minhas coisas e o restante do apartamento para
ser dados para casas pias ou pessoas pobres, e escolhi morrer afogado, já que
sempre amei o mar. Vesti uma bermuda e uma camisa bem colorida para que fosse
facilitada a busca do meu corpo pelos bombeiros (sou muito detalhista), e segui
de ônibus para o Porto da Barra, já que é uma praia massa real e merece a minha
gloriosa vida. Cheguei, desci a rampa, eram 18 horas e já anoitecendo, escuro e
com o céu nublado, um dia e hora típica para uma cena fúnebre. Pelo clima à praia
estava praticamente vazia, e eu, corajosamente e feliz, péssimo nadador, fui
entrando no mar sorridente, olhando as ondas que quebravam em meus joelhos,
depois nos peitos, até que ouvi um grito de socorro bem perto de mim.
Assustado, olhei para o lado e vi uma cabeça feminina subindo e descendo. Aí,
mesmo preocupado em realizar meu desejo, fui em direção a pessoa e a agarrei
pelo pescoço e braços, levantando-a para que pudesse respirar. Ela apavorada e
assombrada agarrou-se em mim de tal forma, que quase nos afogávamos os dois.
Mas, na situação, não sei as razões, mas você faz até o que não sabe e muito
bem. E foi o que fiz. Fui boiando e andando para a praia, enquanto a mulher
grudada em mim, tremia barbaramente pelo susto de ter quase se afogado. A deitei
na areia e aí que olhei que ela era jovem, tinha um belo corpo e uma carinha
linda. Aí eu falei: Você é louca mulher, vim tomar banho a essa hora e com esse
tempo? E ela respondeu: Eu vim suicidar-me, pois, só me resta morrer nessa vida
horrorosa!
Eu
dei uma puta risada e disse: Você é minha colega minha filha. Eu vim fazer a
mesmo coisa e você estragou meu suicídio. Ela, mesmo assustada explodiu em risos
largos, dizendo que foi ótimo eu ter aparecido, pois, depois de salva ela agora
já está pensando diferente e querer voltar a sua vida, mesmo tendo que
enfrentar as adversidades, e acho que você deveria fazer o mesmo. Vamos embora,
tomar um banho, e depois jantar para comemorar a vida, que na verdade foi mais
achada do que perdida. O que você acha?
-Saiba
que você com sua ideia de suicídio, atrapalhou o meu, como se fosse alguma
coisa do destino. Como temos o direito de protelar nossas atitudes, vou acatar temporariamente
sua sugestão!
Ela
sorriu, pediu desculpas ter atrapalhado, dizendo que foi sem querer, mas, que
tudo tem um sentido!
Ela
foi até um canto nas pedras, pegou suas roupas e a bolsa e seguimos para a rua.
Lá chegando ela me mostrou onde estava seu carro, e prontificou-se a me dar uma
carona. Claro que aceitei, e foi no percurso que nos apresentamos: Eu sou
Fernando Caldas e trabalho como administrativo financeiro numa empresa de
materiais de construção, divorciado e, embora fosse fazer o que lhe disse,
estou de boa com a vida, nada foi por desespero. Ela disse que era engenheira,
trabalhava com o pai numa grande construtora, complementando que éramos do
mesmo ramo, e que estava adorando as coincidências, pois, tivemos desejos
similares na mesma hora e local, que morava sozinha sendo viúva, mesmo jovem
com 33 anos. Nessa conversa no carro, ela sugeriu que fossemos para seu
apartamento, que lá tomaríamos banho e jantaríamos mais à vontade sem precisar
ir para restaurante, e que ela me devia a vida e teria que pagar, pelo menos
com um jantar. Como para mim qualquer coisa é coisa boa, aceitei, observando
que ela também tinha salvado minha vida, que tudo ficava elas por elas!
Não
perguntei a Sibelle (esse era o seu nome) o que tinha a levado ao extremo, e
nem ela nada me perguntou. Tomamos banho, ela muito desenvolta e educada, pegou
uma camisa limpa e bermuda novas do seu falecido marido, eu naturalmente vesti,
ficando na medida em mim, jantamos algumas coisas gostosas que haviam na
geladeira, tomamos um vinho, com música ótimas de fundo, batemos um papo
agradável e qualificado, sendo que uma simpatia bateu forte entre nós, e marcamos
um encontro para o dia seguinte, para na praia e no mar, celebrarmos as nossas
quase perdidas vidas, e comemorar o início de umas totalmente novas. E como nos
romances e nas novelas, começamos um namoro, me transferi para trabalhar na
construtora com o doutor Antonio Thadeu, e nosso casamento está marcado para o
fim do ano!
Incrível
que as vezes pensamos, que nossa vida deve terminar, quando na verdade ela
apenas [U1] deu uma guinada para ser recomeçada dentro da
normalidade! Jamais ache que não viver é solução, pois o problema não é a vida,
e sim sua maneira de administra-la!
*Escritor,
Historiador, Cronista e Poeta!
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