Antonio Nunes de Souza*
Como
essa é a segunda história desse personagem, é importante que fale sobre sua
origem. Nadinho é oriundo do recôncavo baiano, onde vivia sendo filho de uma
família muito pobre, tinha mais um irmão e uma irmã, sua mãe trabalhava numa
fábrica de charutos, e seu pai nunca teve emprego fixo, vivia de bicos e
bastante mulherengo. Segundo sua filha Lindalva, o velho costumava dizer:
“Aluguel de casa é que mata a gente!”. Mas, segundo ela, saíram várias vezes despejados
por falta de pagamento!
Assim
cresceu Nadinho, seguindo os passos do pai fazendo bicos, não frequentando
escola e, já rapaz, começou comprar peixes dos pescadores, e saía vendendo nas
ruas da cidade, mas, sempre aprontando umas artes, que deixava seu boêmio pai
bastante chateado. Até que, com 19 anos, começou a namorar a afilhada do
delegado, chamada Maria Josefina, deflorando-a, como diziam na época: “tirou de
casa”. E como ela era menor de idade, o delegado o prendeu e obrigou a casar. Mas,
esse casório não demorou uma semana, apenas foi oficializada a união conforme a
lei, porém, com uns quatro dias cada um seguir para seu lada, e os dois eram
pobres, pobres, demaré del si, e não tinham onde cair vivo, pois morto cai em
qualquer lugar!
Depois
dessa aventura sexual, que lhe amarrou por longo tempo, para não ter
compromisso de despesas, e naquela época o governo estava favorecendo quem
quisesse vir para o sul do estado, que estava precisando de mão de obra com o
cacau em alta e, para isso, estava dando passagem de navio grátis e ainda vinte
mil reis (dinheiro da época) para as despesas alimentícias durante a viagem. Como
sempre teve o espírito aventureiro, Nadinho pegou sua passagem e a merreca da
grana e singrou os mares, aportando em Ilhéus, seguindo logo para Ubaitaba,
onde morava um tio distante que tinha uma padaria, e através de carta do seu
pai Alvino, tinha prometido um emprego assim que ele chegasse nas terras
grapiúna!
E
assim aconteceu. Porém, o desgraçado do tio colocou ele para bater massa,
alimentar o fogo do forno com lenha, durante a noite, e raiando o dia, encher
os saquinhos de pão e sair com um balaio pesado na cabeça fazendo as entregas
nas portas dos clientes, coisa habitual na época e, quando voltava, ficava
quase cochilando no balcão atendendo os compradores, somente tendo como
descanso das 12 às 17 horas. Literalmente, uma vida análoga à escravidão, pois,
ainda dormia nesse curto período, num quartinho no fundo da padaria!
Mal
satisfeito, um dia pediu as contas e se mandou para Itabuna, tendo seu primeiro
emprego como ajudante de cabelereiro que, por ser habilidoso e os fregueses não
eram exigente, começou a fazer cortes, onde ficou na profissão por algum tempo!
Como
era boa pinta, papo bem solto, conheceu uma mocinha jovem e bonita e com pouco
tempo de namoro, foram se casar em Itajuípe, ele alegando que seria somente na
Igreja, e que ela deixasse o civil para depois em função das despesas, mas, na
verdade ele sabia que já era casado e não poderia casar outra vez, para não ser
preso por bigamia. Como pobre não liga para esses detalhes de oficialização,
tudo correu as maravilhas, viveram algum tempo ele trabalhando em várias atividades
para a sustentação, até que veio uma seca braba e o cacau teve uma safra
fraquíssima, a região com dois anos seguidos com essa mesma condição climática,
fez com que muita gente voltassem para suas origens, mas Nadinho não queria
voltar para o recôncavo, não só pelo seu velho casamento, como sua cidade nada
oferecia em termos de empregos. Então... foi por essas razões que Nadinho
resolveu partir para arriscar a vida em São Paulo, já que tinha a mulher e
havia nascido seu primeiro filho com o nome de Manfredo!
Sua
chegada e início de vida em Sampa, já contei na crônica anterior, e sua
primeira aventura paulistana como camelô! Agora que já conhecem a origem desse
personagem, seguirei contando suas divertidas e terríveis aventuras e desatinos
do nosso grande aventureiro e herói do rcôncavo!
*Escritor,
Historiador, Cronista e Poeta!
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