Antonio Nunes de Souza*
Graças
a uma promessa da minha mãe, por estar muito doente, pediu a São Francisco que se
a curasse, me colocaria num convento para ser frade. Eu ainda menino, achei a
ideia maravilhosa, imaginando-me numa igreja todos me beijando as mãos, que era
o que fazíamos com Frei Mendonça, o pároco!
E
assim, com os cuidados médicos e as orações dos parentes, minha mãe ficou boa
depois de um ano, sobrando pra mim cumprir o resto da penitência, indo para um
convento com 12 anos de idade, que a essa altura já não me era tão fascinante,
uma vez que, já gostava de conversar sacanagens com os colegas, bolinar as
empregadas e, como é normal nessa idade, me masturbar todo dia na hora do banho.
Mas, como não obedecer a vontade de minha mãe querida?
Ela
foi comigo ao Mosteiro na capital, lá chegando, fomos conversar com o Frei
Superior, saber o que seria necessário, se haveria custos, etc. O frade nos
recebeu com o maior carinho, falou que não teria que pagar nada, apenas daria a
relação do enxoval, para que fosse providenciado quando eu viesse. Acertado
todos os detalhes, nos despedimos e voltamos para nossa cidade, sendo que antes,
fomos em uma loja especializada em indumentárias religiosa, onde ganhei 4
hábitos franciscanos que, quando vesti, juro que fiquei puto da vida com a
ideia, mas, como negar a minha querida mãezinha?
O
tempo passou, terminei meu curso, fui ordenado, e depois de dois anos
trabalhando bastante em todas as áreas do Mosteiro, fui designado para ir para
uma cidade, onde havia um convento de freiras beneditinas, onde ficava situada
a igreja da cidade. Gostei muito, pois, agora passaria somente fazer
confissões, celebrar missas, matrimônios e outras coisas, escapando dos
afazeres domésticos do Mosteiro!
Fui
bem recepcionado, me deram uma casa de 2 quartos já mobiliada, ao lado da
igreja, conversei por horas com a Madre Superiora, me passou todos detalhes, e
aí fui para minha residência desarrumar as malas e descansar um pouco. Mas, por
ironia do perverso destino, com um mês que eu lá estava, recebo uma ligação que
minha mãe tinha tido um enfarto fulminante e falecido. Fui imediatamente,
providenciei todas as solenidades fúnebres, e como era filho único, deixei com
o padre local a nossa casa para que ele vendesse, assim como, distribuir os
móveis e utensílios com os pobres!
Já
na volta minha cabeça veio meio virada, pois, já que minha mãe havia morrido, a
sua promessa deveria ser desfeita, dando-me a liberdade de seguir a profissão
que desejasse e me fizesse feliz. E não deu outra, continuei fazendo minhas
celebrações, porém, com todas maldades do mundo, passei a paquerar uma freira
linda e simpática, além de meiga, chamada Irmã Cecilia e, com a continuação,
ela foi cedendo e gostando, até que um dia aconteceu o inevitável. Ela foi para
minha casa à noite e, sem dó nem piedade, aconteceu o que o popular diz: “Uma
sacanagem franciscana”. E essa foi, literalmente, franciscana, pois eu era da
Ordem de São Francisco. Não sei onde ela aprendeu, mas, me deu uma surra de
xoxota, que eu na secura, só pude religiosamente, dizer: Benza Deus!
Daí
pra frente, como diz a música, tudo foi diferente, eu aprendi a ser gente, e
quem foi que disse que demoramos de pular fora? Com 3 mês, pedimos nosso boné pra
madre superiora, fomos para o Rio de Janeiro, hoje sou professor de literatura
e Cecília é assistente social na mesma faculdade, e está grávida do nosso
primeiro filho!
O
fato é que se nosso destino não foi traçado por Deus, pelo menos aconteceu na
casa dele, e assim sendo, é amor sagrado!
Nunca
façam promessas que seus filhos é quem tem que pagar, para não estragar suas
vidas, dando-lhes destinos errados!
*Escritor,
Historiador, Cronista e Poeta!
Um comentário:
Com certeza
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