Antonio Nunes de Souza*
Manhã
seguinte, depois dos procedimentos de praxe e normais, chamou um táxi e mandou
que levasse Diva para casa, pois, por necessidades de trabalho, alegou que precisava
viajar por 3 dias e, assim, que voltasse, ligaria para ela. Combinados, ela
seguiu e ele, imediatamente, vestiu a roupa e foi transitar nas ruas observando
de perto, todos os acontecimentos normais e anormais do cotidiano, e os hábitos
e costumes durante as horas de trabalho!
Ficou
logo enlouquecido com as destrezas e loucuras das motos no trânsito, fazendo
mil piruetas e se acidentando por minuto, os condutores de veículos buzinando e
dando contra mão para passar na frente, os guardas impassíveis parecia que nada
estava acontecendo, os flanelinhas extorquindo cobrando os estacionamentos
públicos, menores e maiores, com facas ou revolveres assaltando celulares e
outros objetos dos pedestres, e, com tudo isso, o povão cantando, ou assoviando,
com camisas do Vitória e do Bahia e algumas da seleção ou Barcelona. Mas, todos
trabalhando normalmente, não fazendo jus a piada “sacana” que o baiano é
preguiçoso!
Passando
por uma porta de banco, teve oportunidade de ver uma troca de tiros entre
assaltantes e policiais que, infelizmente, dois transeuntes que nada tinham com
a coisa, serem baleados pelas tais “balas perdidas”. Isso as 15 horas, em plena
luz do dia, com as ruas abarrotadas de gente. Cheias de carros de som com os
decibéis acima dos limites, propagando festas e liquidações do comércio, mas,
com essa merda toda, ainda via-se uma caralhada de gente com seus celulares nos
ouvidos, ou com seus smarts dedilhando. Nunca vi tanta audácia e loucura
criminosa, e esses tranquilos circulando numa boa!
Retornou
para o hotel ao anoitecer, comeu um acarajé na passagem pela praça da Sé e,
descansando um pouco, tomou um banho e voltou a sair para ver a rotina noturna
fora das badalações de festejos, pois, com Diva ela só pensava e beber, dançar
e fazer sacanagens. Tudo isso é legal e estava adorando, mas, tinha que
escrever seu relatório!
Ficou
traumatizado quando viu grupos reunidos embaixo das marquises usando drogas, mais
precisamente crack, maconha e cocaína! Muita gente nessa situação, nesses
lugares apelidados de “cracolândia”. Uma grande tristeza bateu no seu coração!
O pior é que, nesse ambiente podre, via-se de crianças até adultos da terceira
idade!
Bastante
chocado, voltou para o hotel para fazer reflexões, sobre o “por quê” do absurdo
“livre arbítrio”. Pegou pela primeira vez, seu notebook e começou seu
relatório. Pelo avançado da hora, depois de algum tempo, terminou dormindo!
Aí,
logo cedo, soube pela tv que haveria um desfile do trio de Ivete Sangalo e, no
final, em pleno Farol, um puta show para o seu novo vídeo, com a participação
de vários outros artistas!
Bené
pensou logo: Essa parada eu não perco nem a pau! Vou bombar até o amanhecer.
Vai ser o bicho!
Deu
uma gargalhada e pensou, novamente: “Porra mermão, já estou super por dentro
das expressões idiomáticas e gírias da putada baiana!”
Mandou
o departamento de turismo do hotel providenciar dois lugares em cima do trio
(uma nota da porra, mas, vale a pena ter essa visão) e, ligando para Diva
alegando que tinha voltado antes, combinou essa programação. Ela veio e ambos
antes de partir, foram no próprio Pelô ao restaurante de Dadá e pegaram uma
deliciosa moqueca de peixe regada ao molho de camarão, para dar a resistência
necessária para mais essa aventura musical, analista e amorosa!
De
cima do monstruoso trio, bebiam, dançavam e Bené super fascinado e via as
vezes, uns bando de caras, sem camisas, fortes, saírem atropelando as pessoas
com os cotovelos e, aqueles que não gostavam recebiam muitas porradas, virando
uma briga generalizada, só acabando quando a polícia aparecia metendo a porrada
e prendendo uma meia dúzia deles. Bené, estarrecido, pensou: Que idiotas, no meio
de uma festa tão alegre, “por que” inventar de brigar? Deve-se isso ao tal do
“livre arbítrio”!
Depois
do desfile, já esquecido das coisas desagradáveis, entraram na folia e, sem nem
pensar em nada, requebraram, se esfregaram, beijos e alisamentos e, na
madrugada, como sempre, rumo ao hotel para a gloriosa sessão de sacanagens sem
limites. Essa parte Bené adorou muito e não deixou por menos. Mandaram ver e fizeram
o couro comer solto!
Pela
manhã, mandou Diva para casa e resolveu fazer seu relatório final, mesmo
estando com um prazo mínimo de 15 dias em Salvador. Sem nem querer ir para
outros lugares, principalmente Brasília, que soube que lá só tinha ladrões e
corruptos!
Assim
começou ele o seu e-mail celestial:
Querida
Santíssima Trindade,
Como
combinamos, fiz as maiores pesquisas e observações sobre os comportamentos dos
homens e, lamentavelmente, devido ao tal do seu ‘livre arbítrio”, as coisas
funcionam de maneiras absurdas, sem que haja respeito humano, cada um ditando
suas regras egoísticas, cometendo todos tipos de pecados condenáveis!
Para
mim foi uma experiência maravilhosa que, me perdoe, mas, não voltarei mais,
pois, “adorei a Bahia”. Comprarei com minha ainda liberdade de gastos, uma
pequena Van adaptada para venda de lanches e, eu e Diva, mulher que escolhi
para ser minha companheira, vamos viver vendendo quitutes nas festa da capital
e do interior!
E,
para que o Senhor não ficar em falta de um Santo escurinho, sugiro que promova
o grande negro Zumbi dos Palmares, ou o maravilhoso Mandela, colocando um deles
em meu lugar!
Mil
perdões e procure analisar ao ler esse relatório, se realmente, esse negócio de
“livre arbítrio” está certo, ou foi um erro de tradução Bíblica. Me perdoe,
mas, eu acho que alguém para livrar sua responsabilidade, inventou e divulgou
esse estranho e sem sentido “Livre Arbítrio!”
Com
respeito e muito amor,
São
Benedito (ou atualmente Bené para os íntimos)
Assim
que terminou e enviou o e-mail, já sentindo-se livre da santidade, ligou para
Diva e disse sem a menor vergonha: “Divinha meu amor, pegue um táxi ligeiro e
venha logo, que eu estou com a maior tesão!”
*Escritor
– Historiador - Membro da Academia Grapiúna de Letras–AGRAL
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